Opinião: É preciso resolver de vez o problema dos diretores de corrida
Os diretores de corrida continuam a estar debaixo de fogo e a situação não parece melhorar. Hoje ficou-se a saber que Sebastian Vettel abandonou o briefing dos pilotos. O piloto terá saído da sala onde se realizou a reunião frustrado com a discussão que estava a acontecer, segundo o documento publicado pela FIA. Lê-se no documento que Sebastian Vettel, “abandonou a reunião de pilotos que se realizou às 19:30h de sexta-feira 8 de Julho, sem autorização, e expressando frustração na reunião”. Os rumores que circulam é que Vettel terá expressado o seu desagrado ao diretor de corrida deste fim de semana, Niels Wittich, sobre a interpretação das regras (algo no qual Vettel é muito cuidadoso).
George Russell falou do tema e deu a sua opinião depois da Corrida Sprint e afirmou o seguinte:
“Penso que é muito difícil para a FIA, muito difícil para os pilotos. Tem havido muitas decisões ou manobras na no limite, quer se trate de defesa da posição ou de limites da pista em cenário de corrida como no fim de semana passado em Silverstone”, disse Russell, citado pela publicação The Race. “Não queremos criticar penalizações, mas tem de haver algures um elemento de coerência, penso que temos de olhar para a raiz dos problemas”.
O piloto da Mercedes foi mais longe e apelou à reorganização da direção de corrida e do colégio de comissários da FIA. “Concordo que precisamos de ter um diretor de corrida, precisamos de ter mais consistência com os comissários. Chegamos ao evento seguinte e muitas vezes os comissários do evento anterior não estão presentes, pelo que não há responsabilização nem explicações das decisões. Fazemos perguntas e é difícil obter uma resposta direta porque – eu não diria a culpa – mas a culpa é atribuída a outra pessoa que não está presente. É complicado, cada um tem as suas próprias interpretações”.
Já em Maio, por altura do GP do Mónaco ( por altura da polémica da saída das boxes da Red Bull, que ficou famosa pelas notas do diretor de corrida não estarem de acordo com o Código Desportivo Internacional) escrevemos o que se segue, em relação à estrutura montada pela FIA:
Mais uma vez se mostra que a solução da FIA para a direção de corrida da F1 não é forte o suficiente. Eduardo Freitas tem de lidar com as preparações de Le Mans e apanhou um dos GP mais importantes do ano na sua segunda corrida ao leme da operação. Freitas é uma pessoa metódica, com atenção ao detalhe, mas precisa de uma boa equipa à sua volta e parece que essa equipa não está a funcionar bem. Mesmo o “VAR” instalado na Suíça para ajudar, não parece trazer uma mais valia clara. No fundo, passou-se de um sistema que sobrecarregava um indivíduo, para um sistema que se tornou mais complexo e que usa dois indivíduos em vez de um. Isso prejudica a adaptação ao cargo, a continuidade nas decisões e pior que isso, coloca em posição de desvantagem quem tem de estar numa posição forte para comandar. Até que ponto o sistema de rotatividade é bom para a direção de corrida da F1? Até que ponto este sistema mais complexo é funcional? Perguntas que ficam no ar. Mas a FIA precisava de ter arrumado a questão da direção de corrida de forma mais convincente. Arranjou uma solução pomposa, mas nem por isso resolveu algumas questões. E nós sabemos que há pessoas naquela sala com capacidade para fazer esse trabalho com qualidade. Freitas está habituado a trabalhar com um pelotão bem mais vasto, com mais meios e com uma complexidade igual ou superior à da F1. O trabalho que tem feito é elogiado por todos. Este tipo de lapsos… não são normais e para nós evidenciam que o sistema precisa de ser revisto e melhorado. O problema talvez nunca tenha estado nos homens do leme, mas sim no próprio leme.
Estamos em julho e o problema parece estar a piorar. Não é comum ver pilotos abandonarem briefings, agastados com os diretores de corrida e serem multados pelo sucedido. A questão dos diretores de corrida exigem uma reflexão séria e o que Russell afirmou faz todo o sentido e era o que já tínhamos referido no passado. Ter dois diretores de equipa que se vão revezando não é boa ideia. É preciso consistência e isso só se consegue com a mesma pessoa no cargo durante todas as corridas. O cargo de diretor de corrida é complexo e é preciso tempo e experiência para se chegar ao nível que todos desejam. Com esta solução de dois homens do leme, nunca se chegará à solução ideal. É preciso alguém claramente focado na tarefa em exclusivo. É tempo da FIA reconhecer que, apesar das boas intenções, a solução encontrada não funciona e as queixas dos pilotos, cada vez mais veementes, são um sinal claro que não há paz entre a FIA e a F1. É tempo de repensar o sistema, de encontrar “o” diretor de corrida dedicado que se foque apenas nessa tarefa, algo que já dá muito trabalho. A FIA tem, de uma vez por todas, de resolver esta questão, correndo o risco de deixar deflagrar um fogo que ameaça descontrolar-se.
O ideal, seria um painel de comissários fixo e um director de corrida único, mas com um auxiliar.