O risco da Fórmula 1 perder construtores

Por a 6 Maio 2020 14:03

A Fórmula 1 está numa encruzilhada que poderá definir o seu futuro, podendo a debandada dos construtores ser uma possibilidade.

A categoria máxima do desporto automóvel estava em época de plenas negociações para alcançar um novo Acordo da Concórdia, uma vez que o actual, originalmente, expira no final do ano, havendo a possibilidade de ser estendido por mais um ano devido à pandemia da COVID-19.

O problema sanitário que o mundo atravessa presentemente não podia ter surgido em pior momento para a Fórmula 1 e a FOM, dado que, o mundo parou, criando uma crise económica de dimensões bíblicas.

O mundo dos Grandes Prémios tem actualmente quatro construtores evolvidos, tendo tido dificuldade em atrair mais para além da Ferrari, Honda, Mercedes e Renault, o que levou a que as unidades de potência estreadas em 2014 tivessem sido mantidas para mais um ciclo regulamentar, que deveria ser iniciado em 2021, mas foi adiado por um ano devido à crise que se abateu sobre o mundo.

Os construtores não andam no desporto automóvel por motivos de beneficência, tendo como objectivo prioritário a exposição mediática, questões de marketing e, também, a pesquisa de novas tecnologias, muito embora exista um afastamento evidente entre as necessidades de um carro de competição e um veículo de estrada. Se os respectivos programas desportivos deixam de fazer sentido – normalmente financeiro – abandonam as corridas de imediato.

Face à crise que já se faz sentir, as primeiras actividades de um construtor a sofrerem cortes são o desporto automóvel e o marketing, como se viu na crise do subprime da década passada, quando no final de 2008 a Honda deixou a Fórmula 1, para ser seguida no ano seguinte por Renault, Toyota e BMW, logo, não se estranhará se voltar a acontecer.

Nos últimos meses têm vindo a ouvir-se rumores que dão como possível a saída da Mercedes, uma vez que conquistou tudo o que havia para conquistar e, ainda antes da pandemia, estava a realizar cortes no investimento.

A Renault, por seu lado, passava por dificuldades ainda antes do novo coronavírus, com as vendas de carros novos a cair, para além do “caso Ghosn”, que decapitou a empresa depois de Carlos Ghosn ter sido detido no Japão, o que colocou dúvidas quanto à continuidade dos franceses na categoria máxima do desporto automóvel.

A Honda confirmou o seu envolvimento na Fórmula 1, pelo menos, até ao final de 2021, através do fornecimento de unidades de potência à Red Bull e a AlphaTauri, mas já fez saber que os custos de desenvolvimento são muito altos num momento em que os construtores têm de deslocar grande parte dos seus recursos para a pesquisa e desenvolvimento necessários para a electrificação das respectivas gamas.

Já a Ferrari tem feito mais uma das suas episódicas ameaças de sair da Fórmula 1, mas dificilmente deixará o palco onde sempre esteve presente, sendo um dos pilares da categoria.

O mundo dos Grandes Prémios tem, portanto, a possibilidade de perder duas equipas – a Renault e a Mercedes – e, no mínimo, um fornecedor de unidades de potência, o que a poderá deixar com uma das piores crises da sua história entre mãos.

A FOM está, seguramente, a tentar estancar qualquer hemorragia iminente. Já se verificaram alguns rumores que dão conta de algumas medidas que poderão ser colocadas em prática. Uma delas passa pela redução do tecto orçamental dos 175 milhões de dólares, previstos para 2021, para, pelo menos, 150. Desta forma, Mercedes e Renault poderão mostrar aos respectivos conselhos de administração a validade do projecto de Fórmula 1 – como pode ser atestado pela equipa de Brackley que, nos últimos anos, conseguiu vencer todos os títulos, desde 2014, e apresentar lucros financeiros.

Outra medida, que foi já aventada também, é congelar o desenvolvimento das unidades de potência, numa altura em que se tem sentido uma convergência de performances entre os quatro V6 turbohíbridos das grelhas de partida. Assim, Honda, Mercedes, Renault e até a Ferrari, deixariam de gastar somas astronómicas na evolução dos seus produtos, podendo todas elas ter mais argumentos para justificar a continuidade do projecto junto “dos seus contabilistas”.

Serão estas medidas suficientes? Só o futuro o dirá, mas era um bom início para agradar os construtores e uma forma de a Fórmula 1 se ajustar a uma nova realidade, à qual terá de se ajustar rapidamente, sob o risco de se ver depauperada quando as marcas se debatem com um decréscimo acentuado de vendas e, por outro, lado continuam a ter de se adaptar às novas exigências ambientais.

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