O hiato da F1: Sete meses e 11 dias…

Por a 21 Junho 2020 10:08

Aproxima-se a data do recomeço da Fórmula 1, após o que será o interregno mais longo da história da modalidade. Os detalhes sobre o que aí vem, multiplicam-se mas os responsáveis da F1 já olham também para o futuro, ao mesmo tempo que decidem o restante calendário de 2020.

Os setenta anos de Fórmula 1 produziram uma quantidade enorme de dados estatísticos, a grande maioria deles bem interessantes, e para os adeptos destes números, aqui vai uma efeméride bem interessante: Nunca a Fórmula 1 nos seus 70 anos de história esteve tanto tempo sem ter corridas. O recorde anterior era ‘detido’ pelo hiato que houve entre as temporadas de 1965 e 1966 da Fórmula 1 quando após o GP do México de 1965 e o Mónaco de 1966 passaram 6 meses e nove dias. Com a Fórmula 1 2020 prevista para arrancar a 5 de julho na Áustria e depois do GP de Abu Dhabi de 2019 se ter realizado a 1 de dezembro de 2019, vão passar sete meses e 11 dias sem competição na F1. É o novo recorde.

Marcos do desporto à parte, nesta altura a Liberty Media e a FIA procuram colocar de pé o novo calendário de 2020. Depois de asseguradas as primeiras oito corridas europeias, continuamos com a esperança de poder ter novamente um GP em Portugal, 24 anos depois do Estoril 1996, mas as coisas não estão fáceis. Como se sabe, o que hoje parece um dado certo, amanhã pode mudar, mas se as hipóteses de haver corrida em Portugal continuam fortes, essa confirmação continua dependente de fatores externos, que mudam, ou podem mudar rapidamente. Se eventualmente se confirmar que não há Grandes Prémios nos EUA, México e Brasil, os três, ou um ou outro as hipóteses de Portimão disparam. Andamos aqui a ponderar se entre Portimão, Mugello, Imola ou Hockenheim, e a verdade é que até podem entrar pelo menos três.

A grande questão continua a ser: mais 8 ou 10 corridas após Monza. Mas quais?

No seu discurso de abertura no âmbito da 1ª Conferência económica da FIA, Jean Todt, Presidente da FIA revelou que “mesmo que a pandemia tenha tido um forte impacto na nossa agenda do desporto automóvel, o Mundial de Fórmula 1 começará na Áustria, no dia 5 de julho. O nosso objetivo são 8 a 10 corridas depois de Monza”, começou por dizer Todt, significando isto que que depois das primeiras oito corridas já agendadas, duas na Áustria, Hungria, duas na Grã-Bretanha, Espanha, Bélgica e Itália, há espaço para mais oito ou dez: China (2?), Canadá, Rússia, EUA, México, Brasil, Abu Dhabi, Bahrein, Mugello, Imola, Portimão e Hockenheim. Como se percebe, 13 lugares para 8 ou 10 corridas. Os promotores do GP do Canadá continuam a procurar acolher uma corrida no outono, no meio das incertezas em torno da Covid-19. A China e a Rússia até se disponibilizam a fazer duas corridas, EUA, México, Brasil estão com grandes problemas tendo em conta que a decisão está por dias. Há demasiadas incógnitas para projetar cenários. Só resta mesmo esperar.

Sem pressas para voltar a ter público

Noutro quadrante, Ross Brawn, Diretor Desportivo da F1, revelou não ter pressa para voltar a ver público nas bancadas, assegurando que a F1 será cautelosa nesse capítulo. A Covid-19 continua a alastrar pelo mundo e até algumas zonas onde a luta parecia ter sido ganha estão agora a voltar a ter casos. Por isso, a F1 não se quer precipitar: “Não vamos apressar isso”, disse Brawn na conferência da FIA. “Acho que algumas das corridas europeias mais tardias poderão ter público, mas preferimos não planear isso, para já. Quando formos para corridas fora da Europa, poderemos começar a pensar em ter adeptos”, continuou, “mas mesmo isso não está absolutamente garantido. Acho que ter a corrida num ambiente seguro é fundamental. Percorremos o mundo, não podemos ter um problema num país que nos impeça logo a seguir de não ir para outros países. Vamos progredir lentamente nessa frente. Os adeptos são para nós muito importantes, mas vamos tratar disso gradualmente. Parar novamente se tivermos um problema seria muito mau. A situação é diferente em todo o mundo. Acho que o fato de estarmos preparados para aceitar corridas fechadas no início da temporada nos deu mais oportunidades. Não é o ideal, não o é para nenhum desporto porque os adeptos são uma parte crucial disto, mas sentimos que correr, transmitir corridas e envolver os adeptos da maneira que pudermos é ainda muito mais desejável do que não ter nada”.

Mas Ross Braswn falou doutros temas importantes. O teto orçamental e a sua importância. Esta medida é uma realidade, depois de anos de avanços e recuos. e Ross Brawn acredita que era imprescindível avançar para esta medida, caso contrário a F1 ficaria em perigo: “Acho que sem a capacidade dessas equipas de chegarem às chefias das marcas e dizerem ‘a Fórmula 1 é vital e custará menos no futuro’, não acho que teríamos retido o número de fabricantes ou grandes equipas que temos. Quando um construtor faz ajustes económicos necessários, se a F1 ainda existe com gastos quase ilimitados, é difícil ter argumentos para defender a manutenção da equipa.

“Acho que mantivemos todos os principais atores envolvidos, e isso porque conseguimos dizer que somos sustentáveis do ponto de vista económico”.

Referindo-se aos regulamentos de 2022, Brawn disse: “Os regulamentos estão mais focados no que consideramos serem as áreas com as quais os adeptos se envolvem mais, em vez de gastar muito dinheiro em coisas que não são percetíveis de fora. Acho que os carros terão melhor aparência. Certamente serão capazes de competir entre si de forma mais eficaz”, disse Brawn

Quem não tem dúvidas que o novo limite orçamental será uma forte dor de cabeça para grandes equipas é Andy Green, Diretor Técnico da Racing Point.

Com as maiores estruturas a gastar menos de metade do habitual, Green entende que é muito diferente trabalhar com esse nível de restrições e assim a forma de operar terá de ser muito mais eficaz: “Eu teria uma dor de cabeça, uma enorme dor de cabeça, mas essas pessoas não são estúpidas. Eu acho que eles já sabem exatamente onde cortar e onde o foco e o core business estarão no futuro. Para nós, o limite de custos ainda está acima do nosso orçamento e a nossa primeira análise sugere que iremos manter a nossa filosofia. Mas nós conhecemos essas regras há cerca de um mês e, portanto, precisamos percebê-las com mais detalhes. Estas coisas levam tempo. Na pista, provavelmente veremos apenas o primeiro impacto real em 2023. ”

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