F1, Nigel Mansell, coração de Leão
Nigel Mansell completa hoje – 8 de agosto – a bonita idade de 71 anos. Sendo um dos mais bem sucedidos pilotos britânicos da F1, com 31 vitórias e um título de campeão do Mundo, em 1992, é, também, o único que pode juntar esta coroa à de campeão CART, façanha sucessiva e assinada em 1993, tornando-se então o primeiro piloto a consegui-la, no ano de estreia.
Mansell é o oitavo piloto com mais vitórias na F1 e o seu recorde de pole positions numa temporada – 14, em 1992 – durou até 2011, quando Sebastian Vettel o quebrou. A Times Online incluiu-o em 9º lugar, entre os 50 melhores pilotos de todos os tempos.
Determinado e bravo como poucos
Nigel Ernest James Mansell nasceu numa pequena vila do condado de Worcestershire, chamada Upton-upon-Severn, no verão de 1953. A primeira vez que conduziu um carro foi aos sete anos, num campo ao pé de casa; mas, ocupado com as funções de sacristão, primeiro na Ilha de Man, para onde se mudou com a família e, mais tarde, na Cornualha, somente quando, por acaso, viu Jim Clark vencer o GP de Inglaterra, em Aintree, no ano de 1962, decidiu que era aquele o seu futuro.
Determinado e corajoso, Nigel Mansell começou tarde a carreira, usando todo o dinheiro que ganhava para os seus projetos. Colecionou um notável conjunto de títulos no karting, culminando com o campeonato nacional em 1973, antes de decidir mudar-se para a Fórmula Ford, indo contra a vontade paterna. No ano de estreia, em 1976, venceu seis das nove corridas em que tomou parte, incluindo a primeira em que participou, em Mallory Park. No ano seguinte, ganhou 33 das 42 – e sagrou-se campeão, apesar de ter partido o pescoço numa qualificação em Brands Hatch. Nessa altura, os médicos garantiram-lhe que esteve perigosamente perto de ficar paraplégico e aconselharam-no a permanecer seis meses em repouso. Pior ainda: segundo os médicos, ele nunca mais poderia voltar a pilotar. Indo ao arrepio destas premonições pessimistas, concedeu a si mesmo alta hospitalar e voltou às pistas, Três semanas depois do seu acidente quase fatal, abandonou o emprego como engenheiro aeroespacial, depois de saldar quase todas as suas dívidas, contraídas para conseguir ir para a Fórmula Ford. Quase no final da temporada, deram-lhe a oportunidade de pilotar um Lola TS70 de F3 e terminou em quarto lugar, numa corrida em Silverstone. Nesse momento, achou-se em condições de passar para monolugares mais competitivos.
Entre 1978 e 1980, Nigel Mansell correu na F3, contrariando com uma pilotagem audaciosa a escassa competitividade do carro, que suava um fraco motor Triumph Dolomite, incapaz de lutar contra os mais modernos e eficazes Toyota. Depois de uma primeira vitória em Silverstone, envolveu-se numa colisão com Andrea de Cesaris, que o levou de novo ao hospital, desta vez com fraturas nas vértebras, dando-se por muito feliz por ter escapado vivo uma vez mais. Porém, a sua pilotagem atrevida, mas consistente, não passou despercebida a um tal Colin Chapman, que o convidou para um teste exatamente em Silverstone.
O longo caminho do título
Nigel Mansell mostrou-se impressionante nesse teste, fazendo mesmo a melhor volta à pista. Chapman propôs-lhe três corridas em 1980, ao volante de um carro de testes, uma versão em que a equipa experimentava peças novas, para depois as incluir (ou não) no Lotus 81. No GP da Áustria, a sua prova de estreia, uma fuga de óleo para o cockpit provocou-lhe dolorosas queimaduras, antes de abandonar com problemas de motor. As duas corridas seguintes não correram melhor – e estava apenas iniciado o calvário de Mansell nos seus primeiros anos da F1. Mansell ficou com a Lotus durante quatro temporadas completas, mostrando-se devastado com a morte súbita de Chapman, de quem se tinha tornado amigo chegado, nos finais de 1982. Porém, a falta de resultados – não conseguiu ganhar uma prova em 71 GP com a Lotus – levaram-no a abandonar a equipa, passando-se para a Williams, em 1985.
Então, o piloto decidido e que nunca baixava os braços, apesar de todo o azar do mudo, transformou-se num vencedor. A primeira vitória foi no GP da Europa de 1986, em Brands Hatch – e, depois, no espaço de 18 meses, ganhou 11 corridas e perdeu dois títulos mundiais, os primeiros da sua longa carreira até ao Olimpo, que viu fugir por razões difíceis de compreender e aceitar: em 1986, foi um pneu que explodiu na última corrida da temporada, em Adelaide; no ano seguinte, um violento acidente na qualificação para o GP do Japão obrigou-o a voar mais cedo para casa e, uma vez mais, para o hospital, com mais problemas as costas.
Persona non grata para a imprensa e, até, para alguns diretores de equipa, que o acusavam de se estar sempre a queixar, Nigel Mansell passou mais um penoso ano na Williams, antes de entrar para a Ferrari, em 1989. A sua estreia, no Brasil, deu-se com uma vitória retumbante – e depressa caiu nas boas graças dos exigentes tifosi, que o alcunharam de ‘Leão’, pelo seu bigode farfalhudo, mas principalmente pela sua postura agressiva e de quem nunca se rende, ao volante. Polémico, mas péssimo político nos bastidores, não aguentou a pressão exercida por Alain Prost, seu colega na Ferrari e anunciou com todas as cornetas que se iria embora da F1 no final de 1990. Mas, de repente, arrepiou caminho e assinou com a Williams. E foi o melhor que poderia ter feito: em 1991, venceu cinco corridas e, no ano seguinte, finalmente garantiu o tão perseguido e ambicionado título de Campão do Mundo, calando todas as bocas que o difamavam e desprezavam a sua maneira direta e pouco simpática de estar na vida.
Mas, fiel a si próprio, bateu com a porta da F1 depois de se sagrar Campeão do Mundo, entrando de forma vibrante no, para si desconhecido, campeonato CART, do outro lado do Atlântico. A sua passagem para esta competição mudou a forma de ela ser vista, em especial o facto de ter sido Mansell quem iniciou a senda dos patrocínios milionários na CART. Depois de Mansell, é caso para se dizer que as corridas da CART e, depois, Indy, nunca mais foram o mesmo, nos ‘States’.
O triunfo e o regresso
Em 1993, Nigel Mansell voltou a deixar todos de boca aberta. Com 40 anos e sem nunca ter pilotado em ovais – aliás, na sua primeira vez quase morreu ao embater contra os muros, em Phoenix… – o ‘brutânico’ (como era ‘carinhosamente’ tratado pelos media…) venceu na prova de estreia (Surfers Paradise), foi terceiro na Indy 500 e, com mais quatro triunfos, todos eles nas rapidíssimas ovais, humilhou os arrogantes pilotos locais, conquistando o título. No ano seguinte, 1994, não foi tão feliz – nunca venceu e, após ter sido convencido por Frank Williams a correr nas três últimas provas de F1 do campeonato, deixou a América. Nesse ano, voltou a deixar todos estupefactos, ao ganhar a última prova do ano, o GP da Austrália, depois de largar da pole position.
Em 1995, depois de fazer duas provas com a McLaren, decidiu que era a altura de pendurar o capacete. Rico e depois de 15 tumultuosas temporadas na F1, Mansell deixou a Ilha de Man, tornou-se num bem- sucedido empresário, vendendo carros da Ferrari e gerindo o seu clube de golfe, onde ele mesmo se tornou um vencedor e, enfim, dedicando-se à sua amada Rosanne e aos seus três filhos.
Esporadicamente, voltou a pilotar, fazendo três corridas no BTCC em 1998, com um Ford Mondeo, chegando mesmo a liderar, sob péssimas condições atmosféricas, em Donington. Mais tarde, fundou o Grand Prix Masters, competição para ‘velhos’ ex-pilotos de F1. Mansell venceu a prova inaugural, em Novembro de 2005, em Kyalami e, no ano seguinte, ganhou também a primeira prova de um projetado calendário de quatro, que teve lugar no Qatar. Porém, depressa se apercebeu as dificuldades em manter de pé esta competição, que desapareceu tão depressa e misteriosamente como tinha começado.
Em 2007, fez uma prova do Campeonato FIA GT, em Silverstone, com um Ferrari 430 GT2 da Scuderia Ecosse, terminando em sétimo da classe e 21º da geral. Mansell esteve também no Estoril, em 2008, a testar um protótipo Lola de Le Mans, então como eventual preparação para participar na ALMS, projeto que não teve seguimento. No ano seguinte, o britânico, então com 56 anos, lembrou-se de testar o monolugar que o seu filho Greg pilotava na World Series by Renault, em Silverstone – e foi seis segundos mais lento que o mais rápido na sessão! Nesse ano, também em Silverstone e com o seu filho Leo, fez a prova de 1000 Km, com um Ginetta-Zytek. Enfim, encerrou a sua carreira com uma participação nas 24 Horas de Le Mans, em 2010, fazendo equipa com os seus dois filhos no mesmo carro – a primeira vez que tal sucedeu na história da prova, um pai correr com dois filhos. Porém, tudo acabou contra as barreiras de segurança, na corrida, após somente cinco voltas. Magoado uma vez mais nas costas, decidiu que era, finalmente, altura de colocar um ponto definitivo na sua carreira de piloto.
NIGEL MANSELL
Nome: Nigel Ernest James Mansell
Data de nascimento: 8 de Agosto de 1953 (59 anos)
Local de nascimento: Upton-upon-Severn (Reino Unido)
Nacionalidade: Britânico
Casado desde 1974 com Rosanne, que conheceu quando tinha 17 anos e lhe ofereceu boleia para a escola, parando o Mini na berma da estrada, sem nunca antes a ter visto. O casal teve uma filha, Chloe, e dois filhos – Leo e Greg, também eles pilotos de competição, mas sem o sucesso do pai. Vive em Saint Brélade, na ilha de Jersey, depois de ter vivido em Port Erin, na Ilha de Man (onde era polícia nas horas vagas…) enquanto esteve na F1, até 1995. É presidente da YWC (Youth Work Charities) e do IAM (Institute of Advanced Motorists).
PALMARÉS
Início na competição: Karting (1965); Fórmula Ford (1976)
Primeiro GP F1: GP Áustria 1980
Último GP F1: GP Espanha 1995
GP F1 disputados: 191 (187 largadas)
Títulos: 1 (1992)
Vitórias: 31
Primeira vitória: GP Europa 1985
Última vitória: GP Austrália 1994
Pole positions: 32
Melhores voltas: 30
Pódios: 59
Pontos: 480 (482)
Marcas: Lotus (1980, 1981, 1982, 1983, 1984); Williams (1985, 1986, 1987, 1988, 1991, 1992, 1994); Ferrari (1989, 1990); McLaren (1995)
Outros resultados: 11 títulos (regionais e nacionais) de Campeão de Karting (1969/73); Campeão Britânico Karting (1973); Campeão Britânico Fórmula Ford (1977); Campeão CART (1993)