Mulheres na F1: Uma questão de mérito

Por a 8 Março 2023 16:23

Quando é que chegaremos a ver uma mulher na F1? Esta é uma questão que espera por uma resposta que tarda a chegar. A última vez que uma piloto tentou a sua sorte na disciplina máxima do automobilismo foi em 1992.

Em 2019 arrancou a temporada inaugural da W Series, que tentou criar oportunidades às pilotos para atingirem um patamar mais alto no automobilismo, principalmente entre os monolugares. Jamie Chadwick brilhou na competição, enquanto outros nomes foram ficando na memória, como Beitske Visser por exemplo, mas em 2022 a época terminou abruptamente por causa da falta de financiamento, depois de ter ficado provado que a mais bem sucedida piloto desta série, não tinha conseguido um lugar no campeonato FIA de Fórmula 3 ou Fórmula 2, apesar do seu inquestionável talento.

Essa situação levou a Fórmula 1 a reagir. Sem se saber qual o futuro da W Series, chega em 2023 a F1 Academy pelas mãos de Bruno Michel – que ficará com a gestão operacional desta competição e dos bem sucedidos campeonato de F2 e F3 – com a direção de Susie Wolff, que também esteve perto da F1. A competição vai utilizar monolugares Fórmula 4 utilizando o chassis Tatuus T421 bem como um motor de 165 cavalos de potência fornecido pela Autotecnica. Será composta por cinco equipas, geridas pelas atuais estruturas da Fórmula 2 e Fórmula 3.

“Todos devem ter a oportunidade de seguir os seus sonhos e alcançar o seu potencial e a Fórmula 1 quer garantir que estamos a fazer tudo o que podemos para criar maior diversidade e caminhos para este incrível desporto”, disse o CEO da F1, Stefano Domenicali quando foi apresentado o projeto da nova competição feminina. A competição receberá um apoio direto da Fórmula 1, que subsidiará cada carro com um orçamento de 150.000 euros (2,25 milhões de euros no total), enquanto as pilotos também cobrirão com o mesmo montante, sendo um importante apoio para que seja uma fração dos custos habituais.

O caso Susie Wolff

Em 2013 Susie Wolff era piloto de testes da Williams, já o era desde o ano anterior, depois de passar 7 temporadas no DTM. Nesse ano a Williams decidiu agendar um teste de jovens piloto, apesar de contar com a piloto escocesa.

Por essa altura, escrevia-se o seguinte no AutoSport: “Susie Wolff prestou declarações um tanto ou quanto audazes sobre o facto de ter de ser incluída no teste de jovens pilotos que está agendado para meados de julho. Para a piloto escocesa, “eles (Williams) ainda não me disseram nada, mas para mim tem de acontecer. Caso contrário, estou a perder o meu tempo. Não terá valido de nada. Sou o piloto de desenvolvimento, portanto não faz sentido haver um teste para jovens pilotos e não me darem uma oportunidade. Mas logo veremos”.

Com provas dadas nas fórmulas de promoção, como GP2 e World Series by Renault, Susie Wolff terminaria a sua carreira ao volante em 2015, sempre pela Williams. Encontrou outro caminho para se manter ligada ao desporto motorizado e foi chefe de equipa da equipa Venturi na Fórmula E em 2018, passando a CEO da estrutura monegasca em 2021, tendo abandonado essa função no final de 2022 numa decisão natural depois de anunciada a entrada da Maserati na equipa.

Condicionadas?

“As pessoas querem ver mulheres na Fórmula 1 e estão a perguntar porque não há. Há muita vontade de ver uma mulher na Fórmula 1, é o momento ideal”, considerava Susie Wolff em 2013. Mas até que ponto teria ela razão? A última vez que uma piloto tentou a sua sorte na disciplina máxima foi em 1992, quando Giovanna Amati tentou qualificar, sem sucesso, um Brabham BT60B para três Grandes Prémios. A verdade é que a italiana não tinha rodagem suficiente para ser bem-sucedida na sua missão – os resultados na F3000 também não tinham convencido quanto ao mérito para o lugar –, e foi sem grande surpresa que os tempos registados foram por norma entre 3 a 5 segundos mais lentos dos do seu companheiro de equipa na altura, Eric Van de Poele.

Face à falta de mais exemplos, voltamos à eterna questão: haverá condicionalismos físicos ou psíquicos para que uma piloto possa ser um piloto de sucesso na Fórmula 1? Em declarações, Michèle Mouton deixou escapar que sim. A ex-piloto da Audi no Mundial de Ralis é da opinião de que homens e mulheres diferem muito, e se uma coisa é chegar lá, outra é depois vencer. “Penso que a maior diferença está na sensibilidade e nas emoções das mulheres face aos homens”, resumia a francesa. Explicando melhor, “acho que as mulheres têm um sentido de autopreservação superior ao dos homens. É um instinto que está mais desenvolvido. E penso que isso se torna importante quando está em causa o último décimo de segundo. Uma mulher pode ir evoluindo até ao píncaro, mas um homem fá-lo sem hesitar. Bum! Já está! Espero estar errada na minha análise”, disse.

Jamie Chadwick, um exemplo a seguir?

Jamie Chadwick foi a piloto que se impôs na recente aventura da W Series. Em três épocas – em 2020 a temporada foi cancelada devido à pandemia de Covid-19 – a piloto britânica venceu o título em todas elas, mas o seu esforço não foi recompensado nem na Fórmula 3, nem na Fórmula 2 e muito menos na Fórmula 1.

À semelhança do que aconteceu com Susie Wolff, Chadwick é piloto de desenvolvimento da Williams, mas não é a única. Se realmente o projeto da W Series parece não ter tomado a direção certa, até porque faltaram muitos apoios – que a nova F1 Academy parece ter tido isso em conta – conseguiu mudar o paradigma. A Aston Martin conta nos seus quadros com Jessica Hawkins desde os tempos da W Series, neste momento como embaixadora da equipa e marca, mas há algumas equipas com pilotos femininas nos programas de jovens, como a Mercedes, a Alpine ou a Ferrari.

Enquanto Jamie Chadwick encontrou lugar na Indy NXT, anteriormente Indy Lights, e terá de mostrar o seu valor junto a pelotão composto por pilotos masculinos, os exemplos de outras disciplinas do automobilismo, como é o caso da equipa Iron Dames nos GT’s, podem ajudar à evolução das pilotos dentro da pirâmide da FIA dedicada aos monolugares.

Texto original de Bernardo Gonzalez, atualizado Pedro André Mendes

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1 ano atrás

A Jamie Chadwick fez asneira em ficar-se pela W series, perdeu pelo menos 2 anos ao não competir a sério. Devia ter vindo mais cedo para a América, agora já está “enferrujada”, foi sempre dos mais lentos nos treinos e qualificação em St Pete. Conseguir rodar a 0.8 s do líder foi o menos mau, mas ficou em 18º de 19 na qualificação. Na corrida enfiou-se por baixo de um carro que embateu na barreira de pneus, quando reparou o carro e corrida recomeçou tinha 31s de desvantagem para o líder, quando voltou a haver uma bandeira amarela ao fim… Ler mais »

Last edited 1 ano atrás by F1 FOR FUN
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