Mercedes – rápido mas frágil
Depois da qualificação para Grande Prémio da Áustria, o primeiro da temporada, dificilmente alguém apostaria contra uma dobradinha da Mercedes, mas um conjunto de circunstâncias acabaram por impedir que Lewis Hamilton secundasse Valtteri Bottas, que iniciou a época a vencer.
Desde cedo ficou claro que os carros de Brackley estavam numa classe à parte, tendo o inglês sido o mais rápido em todas as sessões de treinos-livres.
A facilidade com que o Campeão do Mundo e o finlandês rodavam em tempos inalcançáveis para os seus adversários era bem patente e até a Red Bull, que estava muito entusiasmada antes de sexta-feira, percebeu que tinha de tentar algo diferente para tentar dar alguma luta.
Na qualificação, Bottas e Hamilton não deram possibilidades a ninguém, mas foi o finlandês que assegurou a pole-position, apesar de um despiste na sua segunda volta lançada, e este acabaria por começar a perturbar o fim-de-semana da Mercedes.
O inglês realizara a sua melhor volta da Q3 com bandeiras amarelas e, depois de no final da tarde de sábado os comissários não terem encontrado nada de errado na performance de Hamilton, na manhã de domingo, a Red Bull apresentava um protesto e, com mais imagens, os comissários concluíram que Hamilton não tinha reduzido o seu andamento suficientemente aquando das bandeiras amarelas, penalizando-o com três lugares na grelha de partida, o que o atirou para o quinto lugar na grelha de partida, promovendo Verstappen ao segundo posto.
O holandês passara à Q3 com pneus médios, sendo esses os seus pneus para o início da corrida, acreditando a Red Bull que, assim poderia pressionar Bottas, uma vez que tinha uma flexibilidade estratégica mais ampla.
No entanto, rapidamente Verstappen deixou de ser um factor, ao abandonar na décima primeira volta com problemas eléctricos.
Então, já Hamilton tinha subido ao terceiro lugar, que se transformou em segundo com o desaparecimento do holandês da Red Bull.
Apesar de algumas contrariedades iniciais, a Mercedes parecia agora encaminhada para uma cavalgada triunfal frente a Ola Kallenius, o CEO da Daimler, que estava no Red Bull Ring.
Foi então que foram ficando evidentes problemas com os sensores da caixa de velocidades do W11 provocados pelos correctores do circuito austríaco. Pelo segundo ano consecutivo, a equipa de Brackley era obrigada a condicionar o ritmo dos seus pilotos devido a problemas de fiabilidade.
Contudo, nem isso parecia ser capaz de impedir a dobradinha dos “Flechas de Prata”, nem a situação de Safety-Car provocada pelo abandono de Kevin Magnussen, que parou na escapatória da Curva 2 depois de ter tido um problema num disco de travão dianteiro, momento que foi aproveitado por todos para realizar a única troca de pneus prevista.
Os planos da Mercedes ficaram verdadeiramente em risco aquando da segunda situação de Safety-Car provocada por George Russell, que parou em pista com problemas técnicos na unidade de potência Mercedes do seu Williams.
Enquanto os pilotos dos “Flechas de Prata” continuaram em pista, tal como Pérez, mas Albon, que rodava confortavelmente em terceiro, Norris, quarto, e Leclerc, sexto, entravam nas boxes para montar borrachas macias, no caso do jovem da Red Bull, e médios no caso dos dois restantes.
Subitamente, os Mercedes, tinham de gerir os problemas com os sensores da caixa de velocidades, enquanto, atrás de si, ainda que protegidos por Pérez, tinham três pilotos com pneus frescos…
Assim que a corrida foi retomada, foi neutralizada imediatamente para recuperar o Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, que ficara estacionado em plena recta da meta, depois de ter perdido a roda dianteira/direita.
Este período de neutralização acabou por jogar a favor dos Mercedes, que puderam proteger os seus pneus, assim como gerir as dificuldades técnicas que sentiam.
Contudo, assim que o Safety-Car entrou nas boxes, a onze voltas da bandeira de xadrez, Albon, com pneus macios, começou a ser imediatamente uma ameaça, acossando Hamilton.
Na sexagésima primeira volta, o tailandês da Red Bull passou o inglês por fora na Curva 3, mas na saída, sofreu um toque do Campeão do Mundo, o segundo em três corridas, atirando-o para fora de pista e para fora da luta pelos lugares do pódio, ficando a ideia de que poderia ser, inclusivamente, uma ameaça à vitória de Bottas.
O triunfo do finlandês não parecia estar em risco, até por que Hamilton perdera terreno para o líder e acabaria por ser penalizado com cinco segundo pela sua indiscrição, terminando em quarto, atrás de Leclerc e Norris.
O monegasco, num fim-de-semana arrepiante para a Ferrari, com uma prestação notável, com ultrapassagens decisivas ao inglês e a Pérez, e com a sua equipa a aproveitar todas as oportunidades, conseguiu um segundo lugar que parecia altamente improvável depois da qualificação.
Norris teve também de fazer pela vida, suplantando o mexicano da Racing Point para assegurar o seu primeiro pódio na Fórmula 1. O jovem inglês mostrou com Carlos Sainz o passo em frente dado pela McLaren, que neste momento luta com a Racing Point por ser a terceira força em pista, à frente da Ferrari.
Pérez sofreria uma penalização de cinco segundos, por ter ultrapassado o limite de velocidade nas boxes, ficando classificado no sexto lugar, um resultado decepcionante para as promessas que a Racing Point foi fazendo durante o fim-de-semana, tendo ainda sofrido o abandono de Lance Stroll devido a problemas na unidade de potência Mercedes do seu monolugar.
Pierre Gasly assegurou o sétimo posto, um bom início da AlphaTauri, defendendo-se de Esteban Ocon, que levou o seu Renault até o oitavo posto. Daniel Ricciardo, que esteve inicialmente a pressionar Vettel, parecia capaz de se bater com os Racing Point e com os McLaren, mas abandonou com sobreaquecimento.
Com tantos abandonos, nove, até António Giovinazzi conseguiu levar o seu Alfa Romeo até aos pontos, terminando no nono posto à frente de Vettel, que teve um início de temporada com mais um erro de pilotagem.
Não assegurou a dobradinha, mas a Mercedes tem, claramente, o carro mais competitivo do plantel, mas a fiabilidade parece não estar ainda assegurada a 100% e, no próximo fim-de-semana, há mais um Grande Prémio, o da Estíria, exactamente no mesmo circuito e com os mesmos correctores… Se a Red Bull conseguir manter o seu ataque, os “Flechas de Prata” poderão perder a compostura imponente que ainda exibem.
Jorge Girão