MEMÓRIA: Ayrton Senna, a primeira volta de Donington 1993


Donington, 11 de Abril de 1993. Palco do GP da Europa. Pista molhada pela chuva que teimava em cair desde manhã cedo. Ayrton Senna largou do 4º lugar da grelha e, na partida, sofreu um “chega pra lá” de Michael Schumacher que o fez sair da pista e entrar na zona de saída das boxes perdendo tempo e posições. Quando se recompôs, Alain Prost e Damon Hill, com os Williams, estavam já na primeira curva liderando a corrida. Enraivecido, Senna meteu a faca os dentes e partiu no encalço dos outros pilotos. À saída da mesma primeira curva, passou Schumacher e, no “S” a seguir, foi a vez de Karl Wendlinger. Na curva seguinte, Old Hairpin, Senna era já 3º e estava a ganhar terreno aos dois Williams. Em espacial, a Hill, que acabaria por bater duas curvas mais tarde, em Coppice, com desconcertante facilidade. Faltava o líder, Prost – que acabaria por não resistir muito mais tempo: na travagem para o gancho Melbourne, Senna travou muito mais tarde que o francês e, ainda antes da última curva da primeira volta estava já na frente. 75 voltas e 1h50m mais tarde, assinava a que foi a sua 38ª vitória – e uma das mais belas de todas.

Estava-se a assistir a um dos momentos mais sublimes da História recente da F1: na pista molhada, Senna estava a pilotar como se ela estivesse seca. Meses mais tarde, ao jornalista Eduardo Correia, que estava a escrever um livro sobre os pilotos brasileiros que passaram pela F1 descreveu assim aquela volta: “A partir do momento em que o Schumacher me apertou, guiei como nos tempos da Fórmula Ford, sobretudo em condições difíceis. A pista tinha muita água, os carros [estavam] pesados, com o taque cheio, os pneus [estavam] com pressão baixa [e] frios. A gente não sabe o ponto de frenagem [travagem] numa curva. Não sabe se vai travar o freio [travão] dianteiro, se vai escorregar ou não vai, se vai entrar acquaplanar, se vem alguém em cima de você. É tudo uma lotaria. É totalmente baseado no instinto: pilotar de forma agressiva mas ao mesmo tempo ter um controlo remendo, ter um domínio muito grande sobre si próprio e a máquina.”

E foi isso que Senna fez: “Eu estava determinado. Sabia que a minha chance estava ali, na primeira volta. (…) Era uma questão estratégica fundamental (…) e também uma questão de prazer pessoal, executar aquelas manobras com sucesso. (…) Você precisa ter sensibilidade para administrar o que está fazendo. É importante saber quando apertar o ritmo ou administrar a vantagem. (…) É uma coisa fascinante (…), um quebra-cabeças [em que alguém mexeu no tabuleiro] e as peças saem da ordem. [É preciso] recoloca-las a ordem novamente para chegar ao mesmo resultado.” E foi isso que ele, naquela volta de magia, fez: “Pegar a peça certa e colocá-la no lugar e no momento certo é que faz o resultado.”

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