GP de Portugal de Fórmula 1: Não há público, mas o interesse é o mesmo
O Autódromo Internacional do Algarve volta a ser palco do GP de Portugal de F1 e espera-se um fim-de-semana pleno de emoções e interesse com mais um duelo entre Lewis Hamilton e Max Verstappen.
A pandemia da COVID-19 tem vindo a afectar indelevelmente o mundo, que vive a braços com uma das suas maiores crises sanitárias, que tem tido um impacto brutal na economia global. Mas, como sempre, existem oportunidades para agarrar e o Autódromo Internacional do Algarve agarrou a sua.
O esforço de diversas entidades levou a que a Fórmula 1 regressasse ao nosso país vinte e quatro anos depois do Estoril ter albergado o Grande Prémio de Portugal e em 2021, voltamos a ter no nosso país o carros mais rápidos do mundo.
Não sabemos se nos próximos anos o Autódromo Internacional do Algarve voltará a ser visitado pelo “Grande Circo da Velocidade” e em 2021 as regras sanitárias obrigam a que as bancadas estejam fechadas, mas qualquer adepto de automobilismo sentir-se-á confortado por poder ver na televisão as imagens familiares do circuito luso.
A prova do ano passado, disputada em outubro, ficou marcada pelas temperaturas temperadas, o que levou a que a pista se mostrasse fria, para além de o novo asfalto, colocado semanas antes, se evidenciar extremamente escorregadio, devido a gorduras usadas para a sua colocação.
Isso levou a que todos as equipas tivessem dificuldades em aquecer os pneus da Pirelli. As borrachas do construtor italiano normalmente sensíveis à temperatura, o que obriga a que os pilotos tenham cuidado em não os sobreaquecer, no Algarve tinham um comportamento distinto, sofrendo de granulação – fenómeno que passa por a borracha se esfarelar ao ser usada sem alcançar a temperatura correcta de funcionamento.
Estamos ainda a alguma distância do início do programa deste ano do Grande Prémio de Portugal, mas, para já, as previsões apontam para temperaturas não muito elevadas com possibilidade de chuva na sexta-feira.
Outra questão a perceber será o estado do asfalto da pista algarvia, se continua escorregadio, ou se já depurou todos os óleos usados na sua colocação.
Caso a pista do Autódromo Internacional do Algarve proporcionar mais aderência, então podermos verificar uma queda de tempos, apesar de este ano os monolugares terem menos apoio aerodinâmico, o que os tornou mais lentos nas duas primeiras provas da temporada.
O Rei e o pretendente
Regressando ao presente, se se verificarem as temperaturas previstas para já, que rondam os 20ºC, a Mercedes poderá estar em dificuldades.
O W12 demora mais tempo a aquecer os pneus, sentido Valtteri Bottas mais problemas que Lewis Hamilton, o que poderá ser determinante para o desfecho do fim-de-semana.
O padrão deste ano aponta para que seja o Red Bull RB16B Honda o monolugar mais performante em pista. Para que a Mercedes possa contrariar o ascendente dos homens de Milton Keynes, tudo terá de lhe correr de feição, como se verificou em Sakhir e ficou longe de acontecer em Imola.
Portanto, atendendo ao que já se viu este ano, Max Verstappen é o grande favorito ao triunfo no Grande Prémio de Portugal.
O holandês foi batido estrategicamente na primeira ronda da temporada, mas em Itália, redimiu-se, estampando a sua autoridade com um arranque e uma ultrapassagem no limite a Hamilton, que teve de levantar o pé no último momento para evitar males maiores, tendo os dois carros se chegado a roçar.
Num duelo entre o Rei e Pretendente, aquele momento em que ambos discutiram a travagem para a Variante de Tamburello pode ter um simbolismo muito além de uma simples querela, o que poderá levar Hamilton a querer ripostar já no Algarve de modo a manter a sua autoridade.
Apesar da relação respeitosa fora da pista entre Hamilton e Verstappen, dentro dela as coisas estão a aquecer e já há quem garanta que, mais tarde ou mais cedo, ambos vão acabar numa escapatória após nenhum querer ceder e não será de estranhar que algo aconteça já no Algarve…
Determinantes para as aspirações destes dois pilotos são os respectivos escudeiros, que este ano têm estado longe de poder ser fatores decisivos.
Em Sakhir, Valtteri Bottas ainda foi importante para que a guerra estratégica entre Red Bull e Mercedes fosse favorável a esta última, mas em Imola o finlandês foi decepcionante, acabando fora de pista, após uma tentativa de ultrapassagem de George Russell, quando se digladiavam pelo oitavo posto.
Sérgio Pérez, por seu lado, tem ainda alguma desculpa, uma vez que continua a adaptar-se a um novo ambiente e a uma nova montada, tendo em Imola mostrado sinais de evolução na qualificação, mas em corrida errou em demasia, acabando fora dos pontos.
Espera-se, portanto, que ambos subam de nível no Algarve e possam apoiar os respectivos colegas de equipa, podendo o duelo entre estes dois ser mais um motivo de interesse para a prova portuguesa.
A batalha de antigos pesos-pesados
Outro foco de interesse será, seguramente, a batalha do Segundo Pelotão, onde a McLaren e a Ferrari têm sido as grandes protagonistas, mas onde a Alpha Tauri não tem concretizado o potencial do seu monolugar.
A formação de Woking bateu a sua rival em ambas as provas disputadas este ano, mas em Imola só a bandeira vermelha causada pelo acidente de Bottas e Russell permitiu que Lando Norris conseguisse bater Charles Leclerc.
O inglês tem estado esta época num excelente nível, mas o monegasco não tem ficado atrás e adora o traçado do Autódromo Internacional do Algarve, onde o ano passado produziu uma das melhores voltas de qualificação de 2020, elevando o recalcitrante Ferrari SF1000 até ao quarto lugar da grelha de partida.
Os colegas de equipa destes dois, em novas equipas, têm sentido dificuldades em acompanhar Leclerc e Norris, mas no Algarve poderão dar mais um passo em frente e aproximar-se daqueles que, na prática, são para já os seus chefes de fila.
Pierre Gasly poderá imiscuir-se na luta pela primazia atrás da Mercedes e Red Bull, tal como se tem verificado nas qualificações deste ano. No entanto, na corrida por um motivo ou por outro, o francês não tem conseguido manter-se na batalha pela cabeça no segundo pelotão.
Porém, o Alpha Tauri já mostrou ser um carro competitivo e no ano passado o gaulês assegurou o quinto posto na ronda portuguesa, devendo ser um piloto a ter em conta pelos homens da McLaren e da Ferrari.
Se não houver surpresas, as restantes equipas pouco mais poderão fazer que lutar pelos restos dos pontos, excepto a Haas que continuará no papel de lanterna vermelha.
Contudo, não deixará de haver pontos de interesse.
O regresso de Fernando Alonso à Fórmula 1 é motivo de grande curiosidade. O espanhol admite que não está ainda à-vontade no Alpine, mas promete um passo em frente no Grande Prémio de Portugal, se isso lhe permitirá que bata Esteban Ocon e possa lutar pelos pontos, será uma questão para perceber nos próximos dias.
Por seu turno, Sebastian Vettel tem tido uma estreia com a Aston Martin complicada e difícil, com diversos problemas desde os testes de pré-temporada a impedirem uma adaptação suave à sua nova equipa.
A reputação tetracampeão está em risco, esperando-se que possa contrariar a tendência dos últimos anos e que, pelo menos, se aproxime das performances de Lance Stroll, que não é visto por ninguém como um Campeão do Mundo em potência, mas conseguiu chegar à Q3 e aos pontos nas duas corridas deste ano.
Como se vê, motivos de interesse não faltam e mesmo com as bancadas vazias, qualquer adepto de corridas do nosso país sentir-se-á impelido a ligar-se ao Grande Prémio de Portugal, seja de que forma for, para seguir as lutas que se anteveem a partir das 15h00 do próximo domingo. Uma coisa é certa, os argumentos para grande fim-de-semana são evidentes…
CAIXA 1
Horário GP de Portugal de F1
Portugal tem 17 GP de F1, o primeiro em 1958 no Porto, mas Portimão fez a sua primeira aparição no Mundial de F1 em 2020. O circuito foi inaugurado no outono de 2008, logo nesse ano e em 2009 a pista foi utilizada para testes de pré-época de F1. A pista do AIA tem como principais características várias alterações de elevação no seu traçado, que os pilotos apelidam de carrousel. Localiza-se num dos destinos turísticos mais populares da Europa, o Algarve, e em 2020 foi a terceira corrida com maior audiência, a melhor entre as novas pistas no calendário. Os pilotos adoraram o traçado e com a chuva das primeiras voltas a corrida foi muito intensa na sua fase inicial.
1º GP 2020
Voltas 66
Circuito 4.653 km
Corrida 306.826 km
Recorde 1m18.750s (Lewis Hamilton, 2020)
Horário
Sexta-Feira, 30 de abril
Treino livre 1 11:30 – 12:30
Treino livre 2 15:00 – 16:00
Sábado, 1 Maio
Treino livre 3 12:00 – 13:00
Qualificação 15:00 – 16:00
Domingo, 2 Maio
Corrida 15:00