Grande Prémio de Itália de Fórmula 1: Ricciardo e McLaren aproveitam oportunidades
A McLaren regressou aos triunfos, nove anos depois, e logo com uma ‘dobradinha’. Daniel Ricciardo venceu o GP de Itália de F1, com Lando Norris a terminar no segundo lugar. Valtteri Bottas recuperou, de último, para terceiro.
A McLaren esperava um bom Grande Prémio de Itália, Monza parecia talhado para o MCL35M, mas dificilmente apostaria numa dobradinha… Mas os acontecimentos da prova transalpina conspiraram para que Daniel Ricciardo liderasse a dobradinha da equipa, colocando um ponto final na seca que durava desde 2012.
O carro de Woking, animado pela unidade de potência da Mercedes, já tinha mostrado ser um dos mais capazes no que diz respeito à velocidade de ponta, fruto da performance do V6 turbo híbrido de Brixworth e da configuração aerodinâmica do monolugar pilotado pelo inglês e o australiano, que tem um baixo arrasto, muito embora isso lhe custe nos traçados em que a “downforce” é mais relevante.
Mas no “Tempio della Velocità” o que realmente importa é a velocidade de ponta e, nesse parâmetro, o carro de Woking não perde para ninguém.
Ainda assim, os Red Bull e os Mercedes eram os verdadeiros candidatos ao triunfo no Grande Prémio de Itália e a qualificação provou isso mesmo, com Valtteri Bottas a ser o mais rápido seguido de Lewis Hamilton, mostrando que os carros de Brackley estavam numa classe à parte ao longo 5,793 quilómetros do traçado italiano.
Por seu lado, a Red Bull, apesar de ter um carro rápido, tinha mais apoio aerodinâmico inerente, por seguir a filosofia “High Rake”, o que criava maior arrasto, custando-lhe velocidade ponta.
Para que Verstappen pudesse alinhar na terceira posição da grelha de partida para a Qualificação Sprint, a equipa foi obrigada sacrificar Sérgio Pérez, que andou toda a Q3 a rebocar o holandês com o seu cone de aspiração, o que atirou para o nono posto da tabela de tempos.
Os McLaren ficavam com a quarta e quinta posições, no encalço dos favoritos.
Qualificação Sprint: O primeiro passo do sucesso da McLaren
A prova que definiu a grelha de partida para o Grande Prémio de Itália foi vencida por Valtteri Bottas, que dominou completamente o exercício, não dando qualquer veleidade aos seus perseguidores, mas o finlandês, para além de privar Verstappen de marcar a pontuação máxima em disputa, três pontos, pouco mais poderia fazer.
A Mercedes decidiu montar uma nova unidade de potência no monolugar do finlandês e seria obrigado a arrancar para a corrida do fundo da grelha de partida.
Para além disso, a frustração dominava o ambiente da boxe do construtor de Estugarda. Hamilton deixara patinar em demasia as rodas traseiras no arranque e subitamente caía para quinto, vendo-se ultrapassado pelo seu rival na luta pelo título e pelos dois McLaren, com Daniel Ricciardo a subir de quinto para terceiro.
Verstappen, consciente de que o segundo lugar lhe dava a pole-position para o Grande Prémio, acompanhou Bottas, para evitar qualquer ataque do australiano, mas sem nunca se incomodar em pressionar o finlandês.
Por seu lado, Hamilton, percebendo que perdera a vantagem que conquistar ao seu adversário, tudo fez para desfeitear o seu conterrâneo da McLaren, mas todas as suas tentativas foram infrutíferas, até porque, na ponta final das rectas, as unidades de potência dos Mercedes oficiais entravam em modo de regeneração de energia, perdendo os 160cv debitados pelo sistema híbrido, o que tornava um ataque ainda menos improvável.
Ao longo do pelotão as posições permaneceram mais ou menos imutáveis ao longo de toda a Qualificação Sprint, tornando o exercício um passeio a alta velocidade no belíssimo circuito do Parco di Monza.
A corrida: o golpe final
Depois da Qualificação Sprint, a McLaren tinha apenas um Red Bull entre si e o regresso às vitórias, antevendo-se o arranque como um dos primeiros momentos da decisão do Grande Prémio de Itália.
Entres os homens da frente, os pneus médios eram os escolhidos, mas a Mercedes apostava nos duros, apoiando-se na sua supremacia técnica para realizar um “overcut” ou realizar uma ponta final de ataque que guindasse Lewis Hamilton ao comando ou, no mínimo, para a frente de Verstappen. Mas isso significava uma partida mais complicada.
Para Daniel Ricciardo foi o momento certo para se lançar para o comando, suplantando Verstappen, que ainda teve de se haver com o seu rival na luta pelo título.
O inglês conseguiu desfeitear Norris e, na aceleração para a Variante della Roggia, colocou-se lado a lado com o holandês, que lhe deixou o exterior da pista. Contudo, na abordagem à curva, os dois carros tocaram-se e o heptacampeão mundial decidiu abandonar a manobra, seguindo pela escapatória, o que significou perder o lugar que ganhara ao seu conterrâneo.
O piloto da Mercedes tinha uma longa tarde pela frente, até porque o W12 voltava a mostrar as dificuldades habituais em seguir um carro de perto.
O mesmo se passava com Verstappen, que não tinha como desfeitear Ricciardo, que rodava confortavelmente no comando.
Tudo se jogaria nas paragens nas boxes.
A McLaren, temendo o “undercut” de Verstappen, foi a primeira a reagir, chamando australiano às boxes na vigésima segunda volta.
No entanto, o holandês podia andar muito mais depressa e a Red Bull acreditava que poderia fazer o “overcut” ao piloto da McLaren chamando o seu piloto na volta seguinte.
Para isso, Verstappen tinha de realizar uma volta de entrada perfeita e a equipa de Milton Keynes, que bateu diversos recordes nas trocas de pneus quando estas não eram regulamentadas, teria de realizar um “pit-stop” rápido.
O líder do Campeonato de Pilotos cumpriu a sua parte, mas a Red Bull levou onze segundos para mudar os quatro pneus do seu piloto.
Qualquer veleidade de Verstappen em vencer a corrida de domingo dissipavam-se, ao passo que Ricciardo estava mais perto de regressar ao degrau mais alto do pódio.
A Mercedes levou demasiado tempo a ver nos problemas do holandês uma oportunidade para colocar Hamilton à frente deste e, só duas voltas depois chamou o inglês às boxes. Para além disso, a operação de troca de pneus também não corria bem à equipa do construtor de Estugarda, perdendo um segundo, o que foi determinante para que os dois candidatos ao título se encontrassem na primeira curva.
O resultado foi novo incidente entre os dois (ler em separado), o que deixou ambos de fora da corrida e obrigou à entrada em pista do Safety-Car.
Subitamente, a McLaren tinha Ricciardo em primeiro e Norris em terceiro, com Charles Leclerc entre eles, ao passo que Sérgio Pérez e Valtteri Bottas tinham recuperado e podiam ainda ser uma ameaça.
A corrida foi retomada na trigésima volta, e o piloto da Ferrari, sem velocidade, ponta rapidamente caiu para o quinto lugar, mas ainda assim custou uma penalização de cinco segundos ao mexicano – que o ultrapassou por fora de pista, não cedendo a posição – deixando de ser um factor.
A principal ameaça à McLaren era Bottas, que com pneus médios, parecia ter andamento para poder roubar o resultado de sonho à equipa de Woking, mas este nunca conseguiu suplantar Pérez, deixando Ricciardo livre para liderar a dobradinha da equipa dirigida por Zak Brown.
O australiano dava assim a sua primeira vitória à McLaren desde o Grande Prémio do Brasil de 2012, quando Jenson Button, triunfou, tendo ainda a equipa inglesa conquistado a primeira dobradinha da temporada.
Foi um resultado merecido tirando partido de todas as oportunidades com que se foi deparando ao longo do fim-de-semana, conseguido recuperar à Ferrari o terceiro lugar no Campeonato de Construtores.
A formação transalpina, em casa colocava Leclerc em quarto atrás de Bottas, subindo estes dois um lugar devido à penalização de Pérez.
FIGURA: Daniel Ricciardo
O australiano não teve um ingresso fácil na McLaren, vendo-se batido consistentemente por Norris e muitas vezes sem perceber o porquê de perder tanto tempo para o seu jovem colega de equipa. Porém, nunca baixou os braços e, depois das férias mostrou-se muito mais competitivo. Em Monza, sublinhou essa evolução, não cometeu qualquer erro, e venceu a corrida.
MOMENTO: Troca de pneus de Verstappen
O holandês apostava tudo na paragem nas boxes para suplantar Ricciardo, apoiando-se nos magistrais pit-stops da Red Bull, mas desta feita tudo correu mal à formação de Milton Keynes. 11 segundos colocaram-no na rota de Hamilton e uma vez mais, nenhum dos pilotos quis ceder, acabando o toque entre os dois ser inevitável, ‘oferecendo’ o triunfo a Ricciardo e à McLaren.