GP Sakhir F1: Sergio Pérez apresenta credenciais à Red Bull
Sérgio Pérez continua sem contrato para se manter na Fórmula 1 em 2021, mas prossegue a sua caminhada inabalável para mostrar que tem direito a ficar na categoria máxima do desporto automóvel, sendo o seu inesperado triunfo no GP de Sakhir mais uma prova disso.
O mexicano chegava à décima sexta prova da temporada depois de na semana anterior ter sofrido o penoso abandono a quatro voltas do final do Grande Prémio do Bahrein quando circulava na terceira posição e tinha o seu segundo pódio do ano no horizonte.
O desaire era ainda mais penoso por ter sido Alex Albon, o piloto cujo lugar cobiça, a herdar o degrau mais baixo do palanque dos vencedores.
Mas o impacto da desistência de Pérez na primeira corrida de Sakhir não se continha àquele fim-de-semana, uma vez que com a quebra do V6 turbo-híbrido da Mercedes do seu Racing Point, era obrigado a recorrer a uma unidade de potência menos performante para não incorrer em penalizações e tinha ainda que montar no seu monolugar um fundo plano de uma configuração mais antiga, o que teria um impacto mensurável na competitividade do seu ‘Mercedes Cor de Rosa’ no traçado exterior do circuito baremita.
Era esperado, portanto, um fim-de-semana difícil para Sérgio Pérez, sobretudo se levarmos em consideração que a pista que servia de palco ao Grande Prémio de Sakhir privilegia a potência, devido às suas longas retas e poucas curvas.
No entanto, o mexicano estava numa missão, talvez potenciado pelo seu desejo de mostrar que será uma injustiça não estar na Fórmula 1 em 2021, e logo nos treinos-livres foi deixando pistas que apontavam para mais um bom resultado.
Na qualificação, confirmou as expectativas e, muito embora não tenha conseguido suster Charles Leclerc, que realizou uma volta a roçar a perfeição na qualificação para garantir a quarta posição da grelha de partida (a pole-position do 2º Pelotão), assinou o quinto crono.
Se tudo corresse normalmente, alcançar o pódio que lhe fugira uma semana antes seria difícil, sendo necessário que um dos Mercedes ou Max Verstappen tivessem problemas, mas a vitória no 2º Pelotão estava claramente ao seu alcance até porque Leclerc tinha, uma vez mais, suplantado na qualificação o potencial do Ferrari SF1000 e na corrida seria muito mais difícil replicar essa performance.
Na verdade, o monegasco acabaria por ter um impacto grande na corrida do mexicano, abrindo, igualmente, um desejado lugar no pódio para as equipas do 2º Pelotão.
O piloto da Racing Point arrancou bem e colocou-se em posição de atacar o segundo lugar de Valtteri Bottas, que perdera o comando para George Russell, contudo, Leclerc ao tentar passar Verstappen, foi demasiado agressivo na travagem para a Curva 4, acabando por embater na roda traseira esquerda do monolugar de Pérez, que entrou em pião, ao passo que o holandês, para evitar o carro de Silverstone, acabou nas barreiras de proteção onde ficou também o Ferrari #16.
Ao fim de alguns metros, a luta pelo triunfo no 2º Pelotão transformava-se numa subida ao pódio, mas Pérez via as suas expetativas reduzidas ao cair para o décimo oitavo e último lugar, ainda que sem danos significativos no seu monolugar.
Com o Safety-Car em pista para recuperar o Red Bull e o Ferrari, o mexicano passou pelas boxes para montar pneus médios, mas as suas aspirações a um pódio pareciam diminutas uma vez mais devido a questões que não passavam pelas suas ações.
No entanto, o mexicano passou a imprimir um ritmo forte, recuperando posições atrás de posições num circuito em que as suas características facilitam as lutas em pista.
Entre a sexta e a 10ª volta, as seis primeiras foram realizadas com o Safety-Car em pista, Pérez ganhava seis posições colocando-se no escape do carro que anseia, o Red Bull de Albon, ultrapassando-o na 25ª para se colocar no encalço do grupo que integrava, Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat, Lance Stroll, Lando Norris e Esteban Ocon.
Neste grupo, apenas o francês da Renault estava numa situação semelhante ao do mexicano, ou seja, com pneus médios montados, mas, pelo menos Carlos Sainz, que rodava terceiro destacado, parecia inalcançável e o australiano poderia estar ao seu alcance, mas no limite.
Porém, estes dois pilotos, com pneus macios desde o arranque, pararam antes da 30ª volta das 87 previstas, o que os colocava numa estratégia de duas paragens para vencer um asfalto que, muito embora não tão exigente com os pneus como o esperado, colocava algumas dificuldades às borrachas da Pirelli.
Pérez, com os pneus médios e a sua capacidade em geri-los, foi o último dos pilotos do 2º Pelotão a entrar nas boxes, na 47ª volta, o que o deixava em boas condições para a restante prova, mas com trabalho em pista, uma vez que perdia posições, caindo para nono a 15 segundos de Sainz que liderava atrás dos dois carros de Brackley. A partir de então, o piloto da Racing Point imprimiu um andamento impressionante, sendo diversas vezes mais rápido que os pilotos da Mercedes, o que o aproximou dos seus adversários com segurança.
Três deles acabariam por deixar de ser um fator e eram precisamente os três primeiros do 2º Pelotão – Sainz, Kvyat e Ricciardo.
O russo realizava a sua segunda e derradeira paragem nas boxes na 53ª volta, ao passo que o espanhol e o australiano tentaram aproveitar uma rápida situação de Safety-Car Virtual provocada por Nicholas Latifi – abandonou com uma fuga de óleo – para trocar de pneus quando estavam cumpridas 55 voltas, mas quando entraram no ‘pit-lane’ a neutralização da corrida foi terminada, tendo o espanhol e o australiano caído na classificação. Pérez tinha agora pela frente Stroll e Ocon, que liderava o 2º Pelotão, e todos eles no seu horizonte, o que lhe possibilitava sonhar com um pódio numa corrida em que no final da primeira volta estava em último.
Determinado, o piloto da Racing Point despachou o seu colega de equipa na 56ª sexta volta, ultrapassando o francês da Renault na seguinte. Estava concluída a sua recuperação, dado que ir buscar os Mercedes, que rodavam nas duas primeiras posições, não era uma verdadeira opção.
Porém, poucas voltas depois a dinâmica do GP de Sakhir seria virada do avesso.
Na 61ª passagem pela meta, Jack Aitken, que se estreava na F1 aos comandos do Williams de George Russell, não evitou uma saída de pista na última curva e, ao dar um toque numa barreira de proteção, a asa dianteira do carro de Grove ficou na pista, onde não poderia permanecer.
Michael Masi tentou resolver a situação com um Safety-Car Virtual, mas numa pista tão curta – as voltas eram completadas em menos de um minuto – era difícil encontrar um espaço para que um comissário fosse buscar o apêndice, e teve de recorrer ao Safety-Car.
A Mercedes, com uma vantagem confortável, mas com o intuito de defender os seus pilotos de um potencial Safety-Car, chamou-os às boxes 63ª volta para montar um novo jogo de pneus.
Contudo, então aconteceu um verdadeiro cataclismo no seio da equipa que tem vindo a aproximar-se da perfeição – os mecânicos montaram no carro de Russell, que caminhava para uma vitória, os pneus dianteiros de Bottas, enviando-o para a pista assim. Percebendo o erro quando colocavam os pneus do inglês no monolugar do finlandês, voltaram a colocar no carro deste os pneumáticos com que chegara às boxes.
Bottas tinha a sua corrida destruída, ficando fora da luta pela vitória, ao passo que Russell voltou às boxes na volta seguinte para montar os pneus certos, assumindo o quinto lugar atrás do seu colega de equipa.
Na liderança estava agora Sérgio Pérez que era perseguido por Esteban Ocon e por Lance Stroll. No entanto, assim que a prova foi retomada, na 69ª volta, Russell começou a ganhar posições, ascendendo à segunda posição na 72ª passagem pela meta.
O inglês estava a pouco mais de três segundos da sua primeira vitória no fim-de-semana em que se estreou na Mercedes. A sua desvantagem para o mexicano, que agarrava com as duas mãos o sonho de vencer, foi-se reduzindo consistentemente, mas a um baixo ritmo, cifrando-se em 2,3s, quando faltavam dez voltas para a bandeira de xadrez. Em cinco passagens pela linha de meta Russell tinha ganho um segundo a Pérez, o que deixava o piloto da Racing Point em boa situação para o final da corrida.
Porém, na volta seguinte o inglês ouvia o que não queria, quando lhe foi informado por Peter Bonnington, o seu engenheiro de pista, que tinha um furo no pneu traseiro esquerdo, o que obrigava a nova paragem nas boxes.
Uma vitória de sonho esfumava-se para o inglês, ao passo que o mexicano via cada vez com maior nitidez a via do sucesso.
Sem verdadeiros adversários, Pérez caminhou com segurança para o seu primeiro triunfo na F1 quando ainda não tem contrato para 2021, provando, uma vez mais o seu valor.
Ao longo da prova de Sakhir, o mexicano mostrou capacidade para realizar bons arranques, consistência de andamento, sem erros, rapidez, agressividade nas ultrapassagens, boa gestão de pneus e da corrida, no fundo, um piloto completo.
Maior cartão de visita que este é difícil apresentar à Red Bull, que no dia em esta viu Verstappen abandonar na primeira volta, não teve um carro capaz de aproveitar os estilhaços da corrida da Mercedes, tendo Alex Albon terminado num sofrível sexto lugar, apesar de ter ao seu dispor o segundo melhor carro do plantel… Será que os homens de Milton Keynes vão continuar a apostar no cavalo errado?
FIGURA: Sérgio Pérez
É verdade que Russell poderia ser também a figura do fim-de-semana e até o merecia, com a forma como se mostrou à-vontade na luta com Bottas, mas Pérez voltou a realizar uma prova notável e, ao seu dispor não tinha o melhor carro do plantel. O mexicano voltou a fazer milagres depois de ter ficado em último na primeira volta e recuperou até à posição que lhe permitiu beneficiar dos problemas dos Mercedes. Mais não se lhe podia pedir.
MOMENTO: A confusão da Mercedes
Só um erro da Mercedes a podia impedir de garantir mais uma dobradinha, depois do abandono de Verstappen e, face à perfeição operacional da equipa, isso seria altamente improvável. Contudo, os homens dos “Flechas Negras” conseguiram fazer uma confusão monumental quando chamaram os seus pilotos para uma segunda paragem nas boxes, acabando por deixar caminho aberto para a vitória do Pérez.