GP Itália F1: Gasly agarra oportunidade e “pede promoção”

Por a 7 Setembro 2020 17:53

O Grande Prémio de Itália apresentou oportunidades a inúmeros pilotos, mas Pierre Gasly agarrou a sua com as duas mãos, ao contrário de outros, conquistando uma vitória inesperada que mostrou à equipa que o despromoveu o ano passado ser uma opção para o futuro.

O jovem francês chegava a Monza numa temporada em que tem obliterado Daniil Kvyat, remetendo o russo à banalidade, tal como Max Verstappen tinha feito consigo o ano passado até ao Grande Prémio da Hungria.

A confiança de Gasly tem vindo a crescer desde que no ano passado regressou à Toro Rosso, hoje AlphaTauri, culminando no pódio do Grande Prémio do Brasil.

Este ano o jovem de vinte e quatro anos tem vindo a ser ainda mais assertivo, liderando a equipa de Faenza com um à-vontade que já há muito não era visto no seio desta.

Na qualificação para a prova transalpina, Gasly voltava a ascender à Q3, uma normalidade este ano, ficando com o décimo registo, mas a grande estrela de sábado à tarde era Carlos Sainz, que levava o seu McLaren Renault até ao terceiro lugar da grelha de partida, sendo batido apenas pelos dois Mercedes.

Sérgio Pérez não ficou muito longe do espanhol, ao passo que o seu colega de equipa, Lance Stroll e o terceiro protagonista da corrida de domingo, era batido pelo mexicano de forma clara, não indo além de oitavo, à frente do desapontante Alex Albon e de Gasly.

Dificilmente o espanhol, o canadiano e francês pensavam em vencer o Grande Prémio de Itália quando olhavam para o semáforo de arranque à espera de que as luzes se apagassem para dar início à corrida, mas hora e meia depois eram eles os protagonistas na luta pelo triunfo.

A corrida de Gasly e Stroll poderia até acabar ou ser bastante comprometida nos primeiros momentos de prova.

Com um bom arranque, o gaulês colocou-se no cone de aspiração do canadiano, o que o deixou lado a lado com Albon, mas o piloto da Racing Point, adoptando uma estratégia conservadora na abordagem à Variante del Rettifilo, travou cedo e, de repente, tinha ao seu lado esquerdo um AlphaTauri e um Red Bull.

Stroll tentou ir buscar a melhor trajectória para a primeira curva, guinando para a esquerda, apertando o francês contra o tailandês. Sem mais pista para poder usar, Albon levou a pior, sofrendo um toque do francês que o atirou para fora de pista e danificou o monolugar de Milton Keynes – estava destinado uma tarde de anonimato, terminando num longínquo décimo quinto posto a trinta e cinco segundos do vencedor.

Incólumes ao episódio, Stroll e Gasly rodavam na oitava e nona posições, respectivamente, mas o francês falhava a travagem para a Variante della Roggia, recorrendo à escapatória, perdendo o lugar que ganhara a Esteban Ocon na abordagem à primeira chicane.

Em oitavo e décimo, o canadiano e ao gaulês pareciam ter um bom cenário para conquistar mais alguns pontos para enriquecerem as suas contas no Campeonato de Pilotos.

O arranque de Carlos Sainz era quase um conto de fadas, ultrapassando Valtteri Bottas ainda antes de chegar a travagem para a Chicane del Rettifilo. No entanto, na saída, talvez na ânsia de poder atacar Lewis Hamilton, acelerou cedo de mais, a traseira do seu monolugar escorregou, e não conseguiu colocar-se no cone de aspiração do Mercedes do inglês.

Porém, não era acossado por Bottas, que até à Variante Ascari, descia para sexto, deixando de ser um factor para os lugares no pódio.

No final da primeira volta, o espanhol parecia caminhar solidamente para um excelente resultado que poderia ser um segundo lugar, em vez do terceiro com o qual ambicionava quando esperava na grelha de partida que as luzes dos semáforos se apagassem.

Como era esperado, o piloto da McLaren não podia acompanhar o ritmo de Hamilton, mas foi abrindo consistentemente uma vantagem para Lando Norris, que rodava em quarto à frente de Daniel Ricciardo, Valtteri Bottas e Max Verstappen, que chegou aos 4,4s quando estavam cumpridas dezoito voltas. Mas seria precisamente por esta altura que a corrida seria virada ao contrário. Ao aproximar-se da Parabólica, Kevin Magnussen teve problemas na unidade de potência do seu Haas, parando na saída da última curva, estava já todo o pelotão na décima oitava volta.

Sem forma de colocar o carro da formação de Kannapolis numa situação segura, Michael Masi decidiu chamar o Safety-Car à pista, fechando a via das boxes, o que impedia que fosse aproveitada a situação para trocar de pneus sem um grande custo de tempo.

Porém, então, já Pierre Gasly tinha trocado de borrachas, no final da décima nova volta para reagir a um possível “undercut” de Kimi Raikkonen, passou pelas boxes na décima oitava, que fizera o mesmo relativamente a Charles Leclerc, mudou de pneus na décima sétima.

Subitamente, as perspectivas do francês da AlphaTauri ficavam mais brilhantes, uma vez que, quando as boxes abriram, a generalidade dos pilotos rumou às boxes para realizar aquela que deveria ser a única paragem, promovendo-o a terceiro no encalço de Hamilton e de Stroll, que optara por fazer a sua paragem mais tarde.

Hamilton, por seu lado, fizera a sua paragem com a via das boxes fechada, tal como António Giovinazzi, e ficava nas mãos dos comissários, acabando por ser alvo de um “stop & go” de dez segundos e deixando de ser um factor na luta pela vitória.

A corrida seria recomeçada na vigésima quarta volta, estava Carlos Sainz na oitava posição, atrás de Giovinazzi, Raikkonen, Leclerc e Latifi, que parara na décima sexta passagem pela meta.

O monegasco, sentindo que poderia conquistar um resultado digno para a Ferrari, estava ao ataque no reinício, passando os dois Alfa Romeo até à Variante de Rettifilo, mas na ânsia de poder atacar Gasly, abusou do seu limitado monolugar na saída da Parabólica e despistou-se a alta velocidade, embatendo com violência no muro de pneus.

Safety Car mudou tudo

Com as barreiras bastante danificadas, tal como o Ferrari SF1000, Michael Masi, o director de corrida, resolveu parar a corrida com bandeiras vermelhas para reparações, depois de ter enviado, uma vez mais, o Safety-Car para pista.

Com Hamilton ainda na liderança, mas com a sua penalização por cumprir, Stroll tinha tudo para poder vencer o Grande Prémio de Itália, uma vez que, com a situação de bandeiras vermelhas, poderia trocar de pneus, ficando em igualdade com os pilotos à sua volta.

A prova esteve interrompida durante vinte e quatro minutos e quando foi recomeçada, com um novo arranque a partir da grelha, Hamilton tinha ainda a sua penalização por cumprir, o que na realidade deixava Stroll no comando virtual da corrida, com Gasly no seu encalço.

Por seu lado, Sainz tinha ainda dois Alfa Romeo pela frente para poder chegar aos lugares do pódio, não tendo a primeira situação de Safety-Car jogado a seu favor.

No arranque, o piloto da Racing Point tinha uma partida para esquecer, perdendo lugares para Gasly e os dois Alfa Romeo, ao passo que o francês chegou mesmo a apoquentar Hamilton.

A situação do canadiano ficaria ainda pior, falhando a travagem para a Variante della Roggia quando tentava recuperar uma posição a Giovinazzi, o que o obrigou a passar pela escapatória.

A impaciência de Stroll deixava-o à mercê de Sainz, que ascendeu a quinto no complexo de Lesmo, mas o canadiano ripostava na travagem para a Variante Ascari.

Porém, na travagem para a Variante del Rettifilo, no início da volta seguinte, o espanhol ascendia definitivamente a quinto, lançando-se na perseguição dos Alfa Romeo.

Stroll ficava fora da luta pela vitória devido a um conjunto de erros, quando a situação lhe era favorável.

Entretanto, já sem Hamilton à sua frente, Gasly construía uma vantagem de três segundos meio para Kimi Raikkonen, enquanto Sainz se via livre dos Alfa Romeo – Giovinazzi cumpriu também o seu “stop & go” de dez segundos e o finlandês submeteu-se ao espanhol na trigésima quarta volta. Quando chegou ao segundo lugar, faltavam dezanove voltas para a bandeira de xadrez, o espanhol estava a mais de quatro segundos do francês da AlphaTauri e, com pneus médios usados contra médio novos do líder, a sua tarefa para conquistar o seu primeiro triunfo na Fórmula 1 não se afigurava fácil.

Ainda assim, Sainz foi recuperando consistentemente face a Gasly, mas só na penúltima volta conseguiu entrar em zona de DRS.

Apesar da pressão que vinha de trás, o francês não se atemorizou pilotando com a confiança que se evaporara na primeira metade da temporada de 2019, rumando a um triunfo improvável e com alguma sorte, mas cuja oportunidade foi agarrada com ambas as mãos e nem por um momento ficou perto de escorregar por entre os dedos.

No final, Gasly colocava um ponto final em vinte e quatro anos sem vitórias francesas, terminando com uma vantagem de apenas 0,4s para Sainz, que obteve o seu melhor resultado na Fórmula 1,mas que não deixava de ter um certo sabor amargo, dado o Safety-Car ter conjurado contra si.

Stroll subia ao pódio, mas era o maior derrotado dos três, perdendo uma vitória que estava ao seu alcance num dia em que teve a sorte de ter uma bandeira vermelha que o colocou em pé de igualdade com os seus adversários… Mas talvez seja esta a diferença entre os grandes pilotos, aqueles que se ultrapassam nas oportunidades, e aqueles que são apenas bons… Será que a Red Bull percebeu onde errou?

FIGURA: Pierre Gasly

É evidente que o francês tem de ser considerado o homem da corrida. Gasly aproveitou a oportunidade com que se deparou e agarrou-a com as duas mãos. Mesmo quando foi pressionado por Sainz, autor também ele de uma grande prova, não se deixou impressionar e com segurança caminhou para a sua primeira vitória na Fórmula 1.

MOMENTO: 1º Safety-Car

Foi o Safety-Car provocado pelos problemas de Magnussen que colocou Gasly em contenção pela vitória, uma vez que, também nesse momento, Hamilton cometeu a infracção que lhe valeu um “stop & go” de dez segundos. Sem esta situação, o francês dificilmente conseguiria melhor que o oitavo lugar em que rodava no início da corrida.

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