GP Grã-Bretanha F1, Stroll vs Leclerc: uma questão qualidade
O valor dos pilotos tem vindo a ser desvalorizado ao longo dos últimos anos, oferecendo-se aos carros os feitos, ao passo que os homens ficam numa posição subalterna, mas a corrida do Segundo Pelotão do Grande Prémio da Grã-Bretanha mostrou bem o papel dos pilotos, sobretudo se olharmos para o fim-de-semana de Charles Leclerc e de Lance Stroll.
A Ferrari, este ano claramente uma concorrente da ‘segunda divisão’, e a Racing Point chegavam a Silverstone com perspectivas profundamente díspares – a equipa italiana preparava-se para um dos fins-de-semana mais difíceis da temporada, ao passo que a formação de Lawrence Stroll esperava que o seu “Mercedes Cor de Rosa” se sentisse como peixe na água nas curvas de alta velocidade do circuito que fica à frente da sua fábrica.
No campo humano, Stroll entrava no circuito britânico depois de ter batido de forma justa Sérgio Pérez em Hungaroring, ao passo que Charles Leclerc, tinha destruído a corrida da Ferrari no Grande Prémio da Estíria e via-se suplantado por Sebastian Vettel na prova húngara.
O monegasco começava a ouvir alguns comentários sobre a sua capacidade em liderar a “Scuderia”, por seu lado, o canadiano estava em alta e, com o afastamento de Pérez, devido à infecção por COVID-19, preparava-se para ser o ponta de lança na Racing Point, uma vez que seria demasiado esperar que Nico Hulkenberg, que substituiu o mexicano, pudesse entrar no ritmo a “sangue frio”.
A sexta-feira correu de feição aos dois, com Lance Stroll a registar o terceiro crono na primeira sessão de treinos-livres e a ser o mais rápido na segunda, ao passo que no ritmo de corrida o Racing Point RP20 Mercedes assumia-se como o terceiro carro mais competitivo, apenas atrás do Mercedes e do Red Bull
Na Ferrari, a falta de competitividade do SF1000, obrigava a equipa experimentar soluções arrojadas e, muito embora o ritmo de qualificação mostrasse uma evolução – era o quarto mais competitivo – em simulação de corrida era o desastre e o monolugar de Maranello não ia além do quinto posto atrás da McLaren, para além de Mercedes, Red Bull e Racing Point.
Atendendo aos dados de sexta-feira, as perspectivas dos dois pilotos eram bem dispares, sonhando Stroll com um pódio, ao passo que Leclerc preparava-se para uma corrida difícil.
A terceira sessão de treinos-livres deu força a esta ideia, com o canadiano a garantir o terceiro quarto posto da tabela de tempos, ao passo que Charles Leclerc assegurava o sexto lugar, mas tinha ainda dúvidas quanto ao ritmo de corrida.
No entanto, é nas grandes ocasiões que se veem os grandes pilotos e na qualificação o monegasco começou a mostrar o porquê de a Ferrari o considerar o seu líder do futuro. Do lado de Stroll, as dúvidas quanto à sua capacidade em se afirmar como um piloto de uma equipa de ponta adensaram-se.
Leclerc conseguiu qualificar-se para a Q3 com pneus médios confortavelmente, acabando por assegurar o quarto lugar na grelha de partida a apenas um décimo de segundo de Max Verstappen, deixando o seu colega de equipa, Sebastian Vettel, a quase um segundo.
Stroll, naquele que era o terceiro carro mais rápido em pista, qualificou-se para a Q3 com pneus médios, ainda que à justa (Pierre Gasly fez exactamente o mesmo tempo, mas como o conseguiu posteriormente, ficou em décimo primeiro) ficando com um desapontante sexto lugar no “grid”.
Ainda assim, realizar uma volta perfeita é uma coisa e completar cinquenta e duas voltas a raiar a perfeição é um feito de proporções dantescas.
Na corrida, o piloto da Ferrari arrancou bem e reagiu bem às duas situações de Safety-Car, apesar de algumas dificuldades em aquecer os pneus, mantendo sempre o quarto lugar. Com a prova em andamento conseguiu abrir uma distância confortável para os seus perseguidores, Carlos Sainz, o que lhe permitiu gerir de forma efectiva os seus pneus – primeiros o médios que usou na qualificação e, depois, os duros, que montou, como todos os restantes, aquando do Safety-Car para remover o AlphaTauri de Daniil Kvyat, que se despistara em Becketts na décima segunda volta – o que foi determinante para o seu resultado final.
Quando Valtteri Bottas teve problemas com o seu pneu dianteiro/esquerdo, que perdeu ar estavam cumpridas quarenta e nove voltas, o monegasco subiu à terceira posição, conquistando um improvável pódio, mas que teve génese na sua extraordinária corrida, que o deixou no lugar certo para aproveitar um problema entre os carros da frente.
No canto de Stroll, a prova não começou da melhor forma, perdendo dois lugares logo no arranque, mas esperava-se que pudesse contar com a superior performance do seu monolugar para recuperar e, no mínimo, lutar com Leclerc pela vitória no Segundo Pelotão.
Porém, o canadiano nunca foi capaz de atacar os pilotos que estavam à sua frente, tendo antes de se defender dos ataques de Esteban Ocon, que foi uma presença constante nos espelhos do Racing Point número dezoito.
Stroll acabou mesmo por perder um lugar para o piloto que substituiu na equipa do seu pai, na quadragésima sexta volta, perdendo outro para Pierre Gasly e outro para Alex Albon, terminando num desapontante nono posto.
O desalento do canadiano contrastava com Daniel Ricciardo que esteve em bom plano, levando o seu Renault até à quarta posição para registar o seu melhor resultado da temporada, depois de ter ultrapassado Lando Norris, que ficou entre os dois pilotos da marca francesa.
Pierre Gasly foi outro dos pilotos que impressionou, assegurando o sétimo posto, repelindo os ataques de Alex Albon, que sofreu uma penalização de cinco segundos por ter sido considerado culpado no acidente que lançou Kevin Magnussen para fora de pista e para o abandono logo na primeira volta.
Sebastian Vettel teve uma corrida para esquecer, vendo a bandeira de xadrez no décimo lugar, a vinte e três segundos do seu colega de equipa, numa tarde em que nada lhe correu bem.
O alemão só conseguiu o último ponto devido aos problemas de Bottas e de Sainz, que na penúltima volta viu também o seu pneu dianteiro/esquerdo perder ar.