GP Espanha F1: Mais & Menos
Os altos e baixos do GP de Espanha de F1. Um quase ‘Grand Slam’ para Lewis Hamilton, ‘roubado’ nas derradeiras voltas por Valtteri Bottas, e mais um meio-desastre da Ferrari numa corrida em que apenas os três primeiros terminaram na mesma volta.
Depois da vitória de Max Verstappen no GP de comemoração dos 70 anos da F1, as expetativas eram altas para uma luta mais próxima com os Mercedes. Facto é que o holandês conseguiu levar a melhor sobre Valtteri Bottas, mas Lewis Hamilton faz com que tudo isto pareça um mero jogo em que pouco ou nada o consegue parar.
Lewis Hamilton
Foi quase, quase, quase um dia perfeito e Hamilton quase levou na mochila o sétimo Grand Slam da sua carreira para igualar Jim Clark. Se realmente o tivesse conseguido teria sido o mais fácil, como esta foi, provavelmente, uma das vitórias mais fáceis. Partiu em primeiro, manteve-se em primeiro e acabou em primeiro. Sem dramas, sem percalços, sem excitações. Como espetadores, talvez gostássemos de ver os pneus a dar de si e a tornar as coisas mais entusiasmantes um pouco, mas quando se fala de um dos melhores pilotos de todos os tempos, temos só de esperar o melhor. Que se crie um campeonato onde Lewis Hamilton compita contra Lewis Hamilton, ou então alguém dê um Mercedes a Max Verstappen.
Valtteri Bottas
Em menos de dez segundos a corrida de Valtteri Bottas foi quase por água abaixo e mesmo antes da primeira curva já o finlandês tinha caído duas posições, colocando-se atrás de Lance Stroll, onde ficou durante três voltas, incapaz de lutar pelo segundo lugar com Max Verstappen. Há pequenas coisas que fazem uma enorme diferença no mundo da F1, e um mau arranque definiu a corrida de Bottas logo à partida. É aceitar e pensar que na próxima a luta com Verstappen será mais renhida. A luta com Hamilton é simplesmente para esquecer…
Max Verstappen
Se no GP passado estávamos a elevar a estratégia da Red Bull para levar Max Verstappen ao primeiro lugar, hoje temos de elogiar a frieza e honestidade do holandês por ser o único a manter-se realista sobre aquilo que poderia verdadeiramente conseguir desta corrida. Enquanto se ouvia no rádio o engenheiro de corrida de Max a falar em possibilidades de atacar Hamilton, ouvia-se Verstappen a explicar que o melhor seria mesmo focarem-se na sua própria corrida, nem sempre num tom propriamente amistoso. Mas que ninguém se engane. Este miúdo ainda tem muito para dar na prova Rainha do desporto automóvel. Não é por acaso que está em primeiro no ‘campeonato’ de F1.5.
Sebastian Vettel
Se há alguma situação em que alguém não sabe se ri ou se chora, o GP de Espanha de Sebastian Vettel é uma delas. Depois de partir da 11ª posição, o germânico foi travando as suas batalhas, tendo conseguido eventualmente chegar ao 5º lugar. Daí, o circo não foi bonito. Um desentendimento com a pit-wall levou Vettel quase ao limite da sua paciência, depois de ter sido questionado se poderia levar os pneus macios até ao final da corrida, algo que este teria proposto três voltas antes. Como se não bastasse, foi ainda o alemão a tomar as rédeas da gestão da equipa e a ordenar para que descobrissem qual o ritmo a que deveria rodar para manter uma boa posição no final da corrida. O resultado foi um sétimo lugar aceitável e o prémio de piloto do dia. Sabe a pouco, mas agora percebemos que Vettel não só tem lugar em qualquer outra equipa, como também pode criar uma inteiramente sua onde lança os foguetes, faz a festa e apanha as canas.
Sergio Pérez
Se há quem saiba cuidar bem dos seus pneus, é Sérgio Pérez. Uma estratégia bem planeada viu o mexicano conseguir fazer apenas uma paragem, mantendo um ritmo de corrida suficiente para equilibrar o desgaste dos pneus com o controlo da sua posição. Não fosse uma penalização de 5 segundos por ignorar bandeiras azuis e Pérez teria terminado na quarta posição. Ainda assim, foi o seu colega de equipa quem lhe roubou o lugar, e 22 pontos ficaram na equipa revelação de 2020. Bem-vindo de volta, Pérez. É bom ter-te por cá!
Charles Leclerc
A montanha russa de Charles Leclerc parece tornar-se cada vez mais longa e sem ter um fim à vista. Depois de uma sessão de qualificação perto do insignificante, Leclerc foi conquistando posições no traçado à medida que a sua concorrência mais direta fazia as suas paragens para pneus mais frescos. Aquando da sua paragem, colocou-se imediatamente atrás de Lando Norris, proporcionando alguns dos melhores momentos (e os melhores onboards) do GP. Gostávamos de continuar a história, mas a unidade de potência da Ferrari não gostou de ser levada ao limite na luta com Norris e decidiu ir dormir uma bela soneca de domingo. Há coisas que os italianos respeitam e domingos de descanso são uma delas.
Lance Stroll
Um belo de um arranque colocou Stroll na frente de ValtteriBottas na primeira curva da corrida, tendo conseguido lutar contra os avanços do finlandês até ser permitido o uso de DRS. Daí teve uma corrida calma e composta, sempre junto do seu colega de equipa, ilustrando, cada vez mais, que a RacingPoint poderá mesmo ser “bestoftherest” para 2020, até mesmo depois de ter perdido 15 pontos. Foi um lugar fortuito para Stroll, dada a penalização de Pérez, mas serviu para igualar Alex Albon na tabela geral com 40 pontos. Nada mau para quem terminou a temporada passada com 21.
Renault
Verdade seja dita: não é assim que a batalha pelo meio do terreno vai ser ganha. E, pelo que se percebe, não podemos culpar os pilotos por isso. É que as primeiras três equipas dos “bestoftherest” cabem em apenas três pontos, seguindo-se depois a Renault a 25 pontos de distância. Um monolugar bastante inconstante combinado com estratégias mal estruturadas faz com que se torne difícil chegar a lugares mais cimeiros, mesmo considerando que Daniel Ricciardo chegou a estar na quarta posição durante a corrida. Mas neste momento pensamos só que Alonso poderá não fazer parte daquilo que a Renault vê como solução.
Alex Albon
Se o objetivo é impressionar os manda-chuva da RedBull, o caminho não parece certamente ser este. Partir de sexto e terminar em oitavo não é certamente algo de bradar aos céus, especialmente quando consideramos que o seu colega de equipa terminou na segunda posição a separar os dois Mercedes. E se há algo que já sabemos bem é que os lugares na RedBull são provavelmente dos mais voláteis na F1. É pena, porque vemos todas as qualidades de um bom piloto em Albon. Mas também vimos, mais uma vez, Albon a levar uma volta de avanço do seu colega de equipa.
Pierre Gasly
Acabou com a traseira de um Red Bull na sua mira, como tem andado desde que lhe roubaram o lugar. Depois de uma paragem nas boxes para pneus médios, depois de quase ter destruído um set de macios na perseguição a Carlos Sainz, Gasly teve de arregaçar as mangas e nadar pelo meio do terreno para finalmente se colocar atrás de Alex Albon. Quase que imaginamos as inúmeras vezes que Christian Horner já recebeu chamadas de Pierre Gasly a perguntar se já pode sair do castigo e voltar à Red Bull, mas ainda são 26 pontos que o separam do piloto tailandês no campeonato mundial. Mais umas quantas corridas destas, e quem sabe, Pierre?
Ferrari
É desastre atrás de desastre e posições lisonjeiras não são qualquer indicador de sucesso ou qualidade. O GP de Espanha foi o exemplo perfeito disso. Depois da retirada de Charles Leclerc por problemas mecânicos na unidade motriz, uma péssima gestão da corrida de Vettel quase via a possibilidade de pontuar desvanecer. Não fosse a experiência e coragem do alemão a imperar e seria um resultado ainda mais desolador. Certo é que muito, mas muito terá de mudar na Ferrari e, de preferência, quanto antes. Mas não, não era Vettel quem tinha de sair. E não, Sainz não será a salvação. Não, o problema não são as outras equipas que estão demasiado fortes. Não, nada disso. O problema são mesmo vocês. É hora de acordar…