GP Emilia-Romagna de Fórmula 1: Tudo corre de feição a Hamilton
Tudo parecia correr mal a Lewis Hamilton, mas a natureza do Grande Prémio de Emilia-Romagna e dois golpes de sorte levaram a que o inglês vencesse no dia em que a Mercedes conquistou o seu sétimo título consecutivo de Construtores.
O Campeão do Mundo está num momento de graça, tendo esmagado Valtteri Bottas em Portugal, mas o finlandês prometia responder em Imola e o programa de apenas dois dias parecia deixar-lhe alguma margem de manobra.
O piloto de trinta e um anos tem mostrado superioridade na maior parte das sextas-feiras da temporada, mas com o decorrer do fim-de-semana acaba por se ver batido pelo seu colega de equipa, que vai ganhando ritmo a cada jornada que passa.
Ora na prova de Emilia-Romagna, na prática, a sexta-feira era no sábado, com reflexos palpáveis para o restante fim-de-semana e, uma vez mais, Bottas mostrou-se o mais rápido, conquistando a pole-position depois de um duelo intenso com Hamilton, que foi vergado pela última volta lançada do finlandês, ao ficar a menos de um décimo de segundo do seu colega de equipa.
Max Verstappen, perdia para os Mercedes algum tempo no primeiro e terceiro sectores, devido ao superior nível de potência do V6 turbohíbrido de Brixworth, mas não estava longe, a 0,5s de Bottas, e em configuração de corrida parecia ser mais ameaçador, até porque, tal como os pilotos da equipa de Brackley, qualificara-se com borrachas médias, os preferidos para a prova de sessenta e três voltas.
Com as esperadas dificuldades em ultrapassar no circuito de Imola, o arranque seria determinante para o desfecho do primeiro Grande Prémio da Emilia-Romagna e, neste exercício, era Hamilton que levava a pior, sendo suplantado por Verstappen e ameaçado por Pierre Gasly, ataque que repeliu com veemência para desencanto do francês.
No final da primeira volta, Valtteri Bottas era um homem feliz, estava no primeiro lugar e o adversário que o privara de inúmeras vitórias e pole-positions era apenas terceiro, tendo Verstappen como tampão.
No entanto, um pouco mais atrás acontecera algo que marcaria toda a corrida do finlandês – Sebastian Vettel e Kevin Magnussen envolveram-se num toque na Tosa e na pista ficara uma deriva do Ferrari.
Na segunda volta, o líder da corrida não conseguia evitar o detrito depositado no asfalto de Imola e este ficava cravado nas derivas laterais do Mercedes como uma lapa, roubando profunda performance aerodinâmica ao “Flecha Negra”.
Bottas conseguiu sempre manter o holandês sob respeito, mas nunca conseguiu abrir uma vantagem relevante para os seus perseguidores, que se mantiveram sempre nos seus espelhos.
Com o seu recruta encravado entre os dois Mercedes, a possibilidade de realizar um “undercut” ao líder começou a ser o pensamento dominante no “pit-wall” da Red Bull e assim que encontraram uma clareira para colocar Verstappen após uma troca de pneus, o estrategas da equipa de bandeira austríaca chamaram o seu piloto, estavam decorridas dezoito voltas, e então a 2,5s de Bottas.
Como seria de esperar, a Mercedes respondeu com o líder, parando-o na volta seguinte, o que lhe permitiu ficar à frente do holandês.
Com Hamilton, e com o luxo de ter dois carros capazes de poder vencer, conforto que a Red Bull já não tem desde que Daniel Ricciardo foi para a Renault, os homens da estrutura de Brackley mantiveram Hamilton em pista na esperança de que o “overcut” permitisse, pelo menos, suplantar Verstappen.
Porém, os pneus duros que o finlandês e o holandês montaram nas boxes mostraram-se difíceis de colocar janela térmica de funcionamento, dadas as baixas temperaturas que se fizeram sentir em Imola – a pista não passou dos 22ºC – ao passo que o médios que equipavam ainda o carro quarenta e quatro, na temperatura certa, revelavam-se competitivos e consistentes, levando a que os estrategas da Mercedes sugerissem a Hamilton que realizasse mais dez voltas com eles, algo a que este aderiu rapidamente.
O inglês, ajudado pelos problemas de Bottas, ia cavando uma vantagem confortável para os seus perseguidores, aproximando-se dos cerca de 28s necessários para parar nas boxes e manter o comando.
Na vigésima nona volta, tinha já o seu colega de equipa à distância desejada, mas era no limite e era preciso ganhar mais algum tempo para que garantisse a liderança da corrida.
Porém, na volta seguinte, o Campeão do Mundo tinha o seu segundo golpe de sorte do dia. Esteban Ocon abandonava com problemas de embraiagem, provocando uma brevíssima situação de Safety-Car Virtual precisamente quando Hamilton se aproximava da entrada para as boxes.
O inglês não se mostrou rogado e entrou para realizar a sua troca pneus, saindo no primeiro lugar e com mais de três segundos de vantagem para o seu colega de equipa. Estava decidida a corrida, até porque Hamilton tinha pneus doze voltas mais frescos que os seus rivais, o que lhe permitia manter-se ao abrigo de qualquer problema.
Bottas, que no início estava na liderança da prova, via o comportamento degradar-se, acabando por ceder o segundo posto a Verstappen, que o pressionava desde que ambos passaram pelas boxes.
O holandês rapidamente se afastou do finlandês, mas a treze segundos de Hamilton, o máximo que poderia aspirar era ao segundo posto, muito embora não tivesse dificuldades em replicar o andamento do Campeão do Mundo.
No entanto, na quinquagésima volta, o piloto da Red Bull sofria um furo no seu pneu traseiro / direito, provocado por detritos em pista, lançando-o para o abandono e para a gravilha da escapatória da Chicane de Tamburello.
Uma corrida em que poderia ter dado luta aos Mercedes cifrava-se num abandono para Verstappen que este ano, em três Grandes Prémios realizados em Itália, abandonou sempre.
Para se defenderem de qualquer eventualidade, os dois pilotos da formação de Brackley aproveitaram a situação de Safety-Car espoletada pelo holandês para passaram pelas boxes e montar pneus macios usados, mas com os problemas que Bottas sentia desde a segunda volta, este nada podia fazer quanto ao seu colega de equipa, que caminhou triunfalmente para a sua nonagésima terceira vitória na Fórmula 1.
A Mercedes, com mais uma dobradinha, garantia o seu sétimo título consecutivo de construtores, um recorde, batendo o da Ferrari.
Num dia em que após a primeira volta Hamilton parecia ter a vitória bastante distante, tudo conjurou para que o inglês subisse ao degrau mais alto do pódio, sendo Bottas uma vez mais derrotado, mas desta feita sem que pudesse ter feito algo para evitar mais um desaire…