GP dos EUA de F1: Ferrari afirma-se como 3ª força

Por a 25 Outubro 2021 16:46

Se na frente do pelotão se assiste a uma dura luta entre a Mercedes e a Red Bull, logo atrás destas verifica-se uma intensa batalha entre Ferrari e McLaren pelo terceiro lugar do Campeonato de Construtores, tendo no Grande Prémio dos Estados Unidos da América a Scuderia batido a sua rival num circuito que no papel deveria ser favorável à equipa de Woking.

O Circuit of the Americas parecia ter sido criado para o McLaren MCL35M, com suas as curvas rápidas e duas longas retas a favorecerem, na teoria, o monolugar criado por James Key.

Os homens da formação de Maranello olhavam para o circuito do Texas com alguma preocupação, uma vez que esperavam que a sua adversária estivesse um passo à frente pelas razões apontadas e, também, pela exigência que a pista coloca nos pneus dianteiros, devido às inúmeras curvas de alta velocidade, nomeadamente, todo o primeiro sector e as rapidíssimas curvas 16, 17 e 18, feitas a fundo.

Para deixar os homens da formação transalpina ainda mais apreensivos, as temperaturas em Austin estavam mais elevadas que o esperado – o asfalto rondou os 40ºC – o que poderia ser um problema para as borrachas que a Pirelli escolhera para a prova americana, que esperava que o mercúrio marcasse valores aproximados aos dos anos anteriores – em 2019 o alcatrão da pista americana não chegou sequer aos 30ºC – e que poderia ser exacerbado pelas características do SF21.

Porém, a Ferrari tinha pela primeira vez os seus dois carros equipados com a respetiva quarta unidade de potência do ano – que integra o novo sistema híbrido – e sem penalizações associadas e isso parece ter mudado as regras do jogo, ideia que começou a emergir logo na segunda sessão de treinos-livres, com Carlos Sainz e Charles Leclerc a conseguirem um melhor ritmo nas simulações de corrida que Lando Norris e Daniel Ricciardo.

Ainda assim, esperava-se que, em qualificação os pilotos da formação de Woking estivessem ligeiramente à frente dos seus rivais directos, aproveitando a maior elasticidade de afinação aerodinâmica oferecida pela superior performance das unidades de potência da Mercedes.

No entanto, no sábado à tarde – horas locais – nem Norris nem Ricciardo tinham resposta para Leclerc e Sainz.

O monegasco chegou mesmo a ser uma ameaça para Valtteri Bottas, assegurando o quarto posto com a penalização deste, liderando o seu colega de equipa e os dois pilotos da McLaren, com o australiano, em muito boa forma, a bater o seu jovem companheiro.

Apesar de estar ainda a alguma distância das prestações da unidade de potência da Mercedes, o novo sistema híbrido da Ferrari dava ao V6 turbo híbrido de Maranello novos argumentos, o que permite à equipa colocar mais asa nos seus carros, melhorando a performance em qualificação e protegendo os pneus em corrida, havendo uma maior janela de afinações aerodinâmicas para os técnicos da “Scuderia”.

Com os quatro carros juntos na grelha de partida, o arranque poderia ser determinante para a corrida de cada um destes pilotos, esperando-se uma primeira volta intensa entre eles.

Leclerc, porém, colocou-se ao abrigo de qualquer verdadeiro ataque com um bom arranque, chegando a ser uma ameaça para Sergio Pérez, mas atrás de si, Ricciardo, Sainz e Norris digladiaram-se como se aquela fosse a última volta da última corrida da temporada de um campeonato discutido entre si.

Os três pilotos mudaram de posições diversas vezes, tendo o inglês chegado a liderar o trio, mas no final da primeira volta o australiano estava no quinto lugar seguido do espanhol e do seu colega de equipa da McLaren.

Charles Leclerc desde cedo evidenciou um ritmo infernal que se mostrou ficar além do que Daniel Ricciardo conseguiu imprimir, desaparecendo no horizonte dos seus perseguidores, mas estes continuaram em luta ao longo de quase toda a corrida.

Sainz foi, juntamente com Yuki Tsunoda, o único a passar à Q3 com pneus macios, o que o deixava em desvantagem para a primeira parte da corrida, que prometia duas paragens nas boxes, tal o esforço a que as borrachas da Pirelli sofriam com a inesperada canícula do Texas.

Com Norris mais perto do espanhol que este de Ricciardo, tendo, portanto, alguma margem de manobra, a McLaren despoletou a trocas de pneus quando estavam cumpridas dez voltas, ao chamar o inglês, esperando fazer o ‘undercut’ ao piloto da Ferrari.

Porém, a equipa de Maranello respondeu prontamente na volta seguinte, tal como Ricciardo, defendendo a posição do seu piloto, que saiu a 2,8s à sua frente de Norris.

Agora com os três pilotos equipados com pneus duros seria possível verificar qual dos três teria melhor ritmo de corrida.

A superioridade da Ferrari começou a fazer-se sentir e Sainz encostou em Ricciardo, mas sendo o McLaren um dos carros com velocidade de ponta mais elevada, a ultrapassagem parecia ser bastante difícil, ou impossível.

Lando Norris, por seu lado, não conseguia ser um fator na luta entre o espanhol e o seu colega de equipa e, na vigésima nona volta os estrategas de Maranello chamaram o seu piloto às boxes com o intuito de realizar o “undercut” a Ricciardo.

A ideia era boa, mas, como tem acontecido inúmeras vezes depois da mudança de procedimentos das trocas de pneus, a paragem de Sainz foi demasiado lenta, perdeu 3,4s, o que deitou por terra os planos da sua equipa.

Aproveitando a oportunidade, a McLaren respondeu na volta seguinte, chamando Ricciardo, para defender a posição deste, e Norris, para que este atacasse a posição de Sainz, porém, tudo permaneceria na mesma entre estes três pilotos.

O Ferrari era claramente mais rápido que o McLaren e, depois de ter uma vantagem de 3,7s para o seu perseguidor, Ricciardo, ao fim de sete voltas, já tinha o carro vermelho bem presente nos seus espelhos.

Porém, Sainz tinha de fazer em pista aquilo que a sua má paragem o impedira de fazer estrategicamente – ultrapassar Ricciardo.

Na quadragésima terceira volta o piloto da Ferrari lançou um feroz ataque ao australiano, colocando-se por fora na aproximação à Curva 13, mas o homem da McLaren não estava disposto a ceder e, ao colocar a potência no chão, a traseira do seu monolugar saiu de traseira, embatendo no flanco direito do carro de Maranello, o que danificou alguns componentes, inclusivamente, a asa dianteira, acabando assim a ameaça de Sainz a Ricciardo, que conseguiu libertar-se definitivamente da pressão do seu perseguidor, assegurando o quinto lugar final.

O piloto da Ferrari, com os danos no seu monolugar, ficou exposto a Valtteri Bottas, que recuperava da penalização por ter montado o seu sexto motor de combustão interna, e, depois de suplantar Norris, tinha colocado Sainz na mira.

Este tudo tentou para manter o seu lugar, mas na penúltima volta acabou por sucumbir ao finlandês, vendo a bandeira de xadrez no sétimo posto, à frente de Norris, numa prova em que o quinto posto estaria claramente ao seu alcance sem a falha nas boxes da parte da Ferrari.

Longe de todas estas lutas, Leclerc realizou uma corrida impressionante, rodando num ritmo elevadíssimo consistentemente e sem erros, o que lhe permitiu deixar Ricciardo a vinte e quatro segundos. Mais significativo foi o facto de ter ficado a apenas dez de Sérgio Pérez, o que diz bem da extraordinária performance do monegasco.

A Ferrari provava assim numa pista que não lhe parecia ser favorável, e sem intervenção das condições climatéricas, que a evolução da sua unidade de potência é um claro passo em frente e que é agora a principal candidata ao terceiro lugar no Campeonato de Construtores. Contudo, tem de analisar cuidadosamente as suas paragens nas boxes para evitar as dificuldades que teve na segunda paragem de Sainz.

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