GP do Qatar de F1: Hamilton impõe-se nas contrariedades de Verstappen
Lewis Hamilton venceu confortavelmente o Grande Prémio do Qatar, uma prova em que a Red Bull esperava estar mais forte, mas em que diversos problemas contrariam a equipa de Milton Keynes, impedindo que Max Verstappen fosse além do segundo lugar.
Pela primeira vez no calendário do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, o circuito de Losail era uma incógnita para todos – mesmo para Sérgio Pérez (GP2 Asia) e Nikita Mazepin (MRF Challenge Formula 2000) que já lá tinham competido – mas era esperado exigir uma configuração aerodinâmica máxima, o que poderia cair dentro das características do Red Bull RB16B Honda, que gera mais apoio aerodinâmico que o Mercedes W12.
No entanto, num circuito semelhante, Hungaroring, a formação de Milton Keynes já tinha evidenciado dificuldades – não conseguia encontrar o melhor equilíbrio para o seu monolugar, que sofria de subviragem.
A situação repetiu-se no Qatar, sendo exacerbada ao longo do fim-de-semana, à medida que a pista catarí, com pouco uso e sem categorias de apoio, ia ganhando borracha.
Para dificultar ainda mais a situação de Verstappen, a sua asa traseira escolhida para Losail, sempre que abria o DRS, apresentava uma oscilação no “flap” superior, o que lhe roubava velocidade de ponta.
Depois de muitas tentativas frustradas para resolver o problema, a Red Bull decidia montar para a qualificação uma asa traseira de configuração diferente, que gerava maior apoio aerodinâmico, criando ainda mais subviragem.
Foi, portanto, sem grande surpresa que Hamilton conquistou a pole-position, com 0,455s de vantagem para Max Verstappen, que registara o segundo crono na qualificação.
Se surpresa houve, foi o facto de Valtteri Bottas não ter ido além de terceiro num circuito em que os Mercedes se mostravam claramente superiores aos Red Bull.
Do lado desta, Sérgio Pérez estava ainda numa situação mais difícil, não conseguindo ascender à Q3, depois de não ter tido a possibilidade de aquecer convenientemente os pneus na sua última tentativa da Q2, o que o deixou no décimo primeiro posto da grelha de partida. Resultado – não estava em posição de poder ajudar o seu colega de equipa na luta com os Mercedes.
Porém, a situação Verstappen ficava ainda mais difícil – nos momentos finais da Q3, Pierre Gasly partia a sua asa dianteira, furando o pneu dianteiro – direito ao passar por um corretor, provocando o aparecimento de bandeiras amarelas. O holandês não respeitou a mostragem de duplas bandeiras amarelas, sofrendo uma penalização de cinco lugares na grelha de partida, e Bottas ignorava bandeiras amarelas, o que lhe valeu a perda de três posições.
O piloto da Red Bull partia de sétimo e o da Mercedes de sexto.
Subitamente, Hamilton via a sua vida ainda mais facilitada, uma vez que, se tivesse o seu rival na luta pelo título a seu lado, poderia sofrer um ataque deste na primeira curva, o que poderia alterar completamente a corrida.
Na eventualidade de um bom arranque de Verstappen e alcançar a liderança, seria este a ditar o ritmo de prova, o que deixaria, no mínimo, com a possibilidade de lutar pela vitória. Assim, muito dificilmente poderia ter alguma esperança de bater o inglês.
Ao invés de ansiar por bater Hamilton no arranque, Verstappen tinha como prioridade desenvencilhar-se de Bottas para não correr o risco de andar longas voltas no encalço do Mercedes errado, o que poderia condicionar a sua recuperação, que tinha como objectivo mínimo o segundo lugar.
O holandês partiu que nem uma seta, o finlandês nem sequer foi um factor, subindo a quarto nos primeiros metros, ao passo que Hamilton não tinha dificuldades em garantir o comando face a Gasly e a Fernando Alonso, lançando-se para uma corrida sem sobressaltos.
Verstappen rapidamente se viu livre do Alpha Tauri e do Alpine, chegando à segunda posição na quinta volta, estava então já a 3,7s do inglês e, ainda para o desajudar mais, durante as primeiras voltas provocava alguns danos na sua asa dianteira – não era significativo, mas não colocava o holandês numa situação mais confortável.
Os escudeiros dos candidatos ao título eram cartas fora do baralho na luta entre os dois – Pérez recuperava, mas nunca conseguiria ser um factor na batalha entre Hamilton e Verstappen, ao passo que Bottas no arranque caía para décimo primeiro e ficava também longe de poder ter qualquer influência da definição dos dois primeiros lugares.
Até à décima sexta volta o holandês estava já a mais de oito segundos da liderança, entrando nas boxes na volta seguinte para tentar forçar a Mercedes a entrar numa zona que lhe fosse menos confortável.
No entanto, com um carro claramente mais performante, à equipa de Brackley bastava apenas imitar as acções da sua rival e, na volta seguinte, chamava Hamilton às boxes, apesar deste mostrar algum interesse em continuar em pista e alargar o seu primeiro ‘stint’.
A partir de então, o inglês passou a gerir a sua distância para o seu perseguidor, permitindo que descesse até aos seis segundos, na trigésima segunda volta, mas rapidamente subiu para os oito, mostrando Hamilton que, se quisesse, tinha “armamento” para responder a qualquer ataque, ainda que ténue, de Verstappen.
Num circuito em que os pneus seriam alvo de elevada exigência, Bottas foi o primeiro piloto a ter problemas, tendo o seu pneu dianteiro – esquerdo que usara na qualificação e com o qual iniciara a corrida, cedia, quando estavam cumpridas trinta e três voltas (portanto, com trinta e seis realizadas), acabando na prática com a prova do finlandês, que desistia mais tarde com problemas de sobreaquecimento.
A Red Bull poderia ter seguido o caminho de obrigar a Mercedes a adoptar uma estratégia de uma paragem apenas e tentar provocar um problema semelhante ao de Hamilton.
Porém, na quadragésima primeira volta os estrategas da formação de Milton Keynes chamavam Verstappen, o que permitia à Mercedes fazer o mesmo na volta seguinte, deixando tudo na mesma.
Em condições normais, nada poderia impedir que Hamilton rumasse à sua sétima vitória da temporada.
A duas voltas do fim, Nicholas Latifi parou em pista com um furo (também o dianteiro – esquerdo, tendo George Russell e Lando Norris sentido problemas semelhantes), espoletando uma situação de Safety-Car Virtual.
O inglês exposto a Verstappen, que faria sempre o contrário da opção tomada pelo piloto da Mercedes, não pôde parar para montar um jogo de pneus e assegurar a volta mais rápida, mas o holandês aproveitou a oportunidade e foi mesmo o mais rápido com o tempo realizado na sua derradeira volta, limitando ainda mais os danos num fim-de-semana em que a Red Bull esteve longe daquilo que se esperava.
No final, com uma prestação imaculada, Hamilton vencia com uma vantagem de 25,743s para Verstappen – diferença exacerbada pela terceira paragem nas boxes do piloto da Red Bull – reduzindo a sua diferença para o comando do Campeonato de Pilotos para apenas oito pontos.
O holandês, sem material para se poder lutar pela vitória e com uma penalização na grelha de partida, fez o máximo que se lhe pedia, terminar em segundo, minimizando aproximação do seu rival.
No Campeonato de Construtores, com o abandono de Bottas e o quarto lugar de Pérez, a Red Bull aproximou-se da Mercedes, estando agora as duas equipas separadas por cinco pontos.
Prevêem-se dois últimos Grandes Prémios bem tensos…
FIGURA
Fernando Alonso
O piloto espanhol provou uma vez mais que o seu regresso é mais que apenas um mero desejo pessoal, antes o regresso de um piloto com direito próprio para estar entre os melhores.
Mostrou o andamento e a capacidade de gestão que se lhe reconhecem, lutando com carros bem mais performantes que os seus para chegar a um pódio que lhe escapava desde o longínquo ano de 2014.
Provou uma vez mais que merece ter um carro competitivo para poder lutar por vitórias e por mais um título.
MOMENTO
Penalização de Verstappen
Sem andamento puro para bater Hamilton, o holandês depositava todas as suas esperanças num bom arranque a partir da segunda posição para ascender à liderança e assim ter alguma possibilidade de bater o seu rival na luta pelo título.
A penalização, justa, acabou por o impedir de colocar essa possibilidade em prática, deixando Hamilton sozinho para rumar a uma vitória sem grandes sobressaltos.