GP do Mónaco de F1 também paga…
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Ao contrário do que muita gente pensava o Mónaco também paga para ter a Fórmula 1 nas suas ruas, e sendo natural que pague muito menos que a maioria dos promotores do circuitos, a verdade é que Bernie Ecclestone, como se costuma dizer “não perdoa nem o menino Jesus…”. Quem o revelou foi o próprio Príncipe Alberto II, numa entrevista à revista da FIA. Muitas vezes Bernie Ecclestone destacou a importância de ter o Mónaco do Mundial de Fórmula 1, numa corrida que se realiza desde muito antes do arranque do Mundial de F1, em 1950. O ano de 2017 marca a 75ª edição do GP do Mónaco, e quanto à F1, já ali se realizou…62 vezes, falhando apenas os anos entre 1951 e 1954: “O Bernie sempre teve consciência do que o Mónaco dá à F1, ele disse-o várias vezes, bem como os patrocinadores e pilotos. Ele sempre tomou conta de nós, mas ainda assim sempre nos fez pagar o que entendia ser o valor justo” disse o Príncipe Alberto II.
Grande Prémio do glamour
A mais emblemática prova do Campeonato do Mundo de F1 deve muito da sua mística ao glamour em torno da competição, quando o Principado Mónaco se veste para uma semana de festa.
Ao contrário da F1, o Grande Prémio do Mónaco não começou em 1950, quando foi instituído o Campeonato do Mundo da categoria. Bem pelo contrário: a primeira edição a prova do Principado teve lugar em 1929 – e, desde aí, o glamour foi uma constante. Até aos dias de hoje: só mesmo o glamour que o rodeia defende a sua permanência num calendário cada vez mais descaracterizado e repleto de pistas desinteressantes. O GP do Mónaco continua a ser a verdadeira passerelle da F1. Por onde deslizam todas as figuras mais reais e mais virtuais de uma vaidade bonita, sadia e cristalina como as águas da baía de Monte Carlo.
Antes da F1
A primeira edição do Grande Prémio do Mónaco, logo aí organizada pelo Automobile Club de Monaco (ACM), teve lugar a 14 de abrilAbril de 1929. Nessa altura, a expressão “Formula 1” ainda não tinha sido inventada, mas já existiam grandes carros, já de um lugar (para o condutor); de uma forma geral, os regulamentos eram baseados naquilo que se convencionou chamar de “Formula Libre” e o campeonato mais importante para este tipo de veículos era o Campeonato da Europa de Automobilismo. Em 1929, o vencedor foi “Williams”, um britânico que viria a ser executado como espião durante a II Grande Guerra e que ofereceu então a primeira de quatro vitórias à Bugatti nas ruas do Principado. Já então, fazendo as honras reais, estiveram presentes as figuras mais importantes, a começar pelo príncipe Luis II, que então reinava no pequeno país. Nessa altura, Rainier III, que viria a tornar-se um “ex-libris” da prova, juntamente com Grace Kelly, a actriz de Hollywood que protagonizou o primeiro conto de fadas da Era Moderna, ao desposar o jovem príncipe, em 1956, tinha somente seis anos e acompanhou os pais, a princesa real Charlotte e o príncipe Pierre de Polignac, na tribuna de honra.
Nos anos seguintes, o GP do Mónaco disputou-se sem interrupção, até 1937. E, numa prova de que a corrida monegasca, já então, concitava as atenções dos maiores nomes da arte de bem pilotar em toda a pista, subiram ao lugar mais alto da tribuna alguns dos mais sonantes e importantes pilotos dessa altura, hoje cimentados no Olimpo, como lendas da história do automobilismo: René Dreyfus (1930), um dos maiores pilotos franceses de antes da Guerra; Louis Chiron (1931), o mais famoso piloto monegasco de sempre; o grande Tazio Nuvolari (1932); Achille Varzi, o rival de Tazio, numa versão antecipada do duelo Senna-Prost (1933); Guy Moll (1934), a jovem esperança que morreu poucas semanas mais tarde; Luigi Fagioli (1935), que viria perder a vida nas ruas do Principado, depois de se ter tornado o piloto mais velho de sempre a ganhar um GP de F1; Rudolf Caracciola, o mestre da chuva e tri-campeão europeu (1936); e, enfim, Manfred von Brauchitsch (1937).
Interrompido pela Guerra, o Grande Prémio do Mónaco regressou em 1948, para uma edição que serviu com aperitivo para o que, depois de 1950, viria: o Mundial de F1. Até o nome do vencedor sugere uma premonição: Giuseppe Farina, o primeiro Campeão do Mundo da História da F1, ao volante de um Maserati.
Os anos do mercantilismo
O primeiro Campeonato do Mundo de F1 nasceu em 1950, com seis Grandes Prémios europeus – um deles, precisamente o do Mónaco. A partir daí e até aos dias de hoje, somente em 1951, 1953 e 1954 (em 1952 foi uma prova para carros de “Sport”), a prova não fez parte do calendário do campeonato.
Praticamente imutável ao longo dos anos, as características muito próprias das ruas estreitas da cidade associam-se a nomes que fazem parte do imaginário da dolce vita– quando na F1 e no automobilismo em geral, vingava quem tinha fortuna pessoal e podia comprar um carro para correr a expensas próprias. Baronetes e condes, ricos herdeiros de fortunas familiares, divertiram-se a valer nas Curvas da Tabacaria, do Casino, na chicane do Porto. Então, como hoje, perante os aplausos e os olhares fulgurantes de belas atrizes de outros filmes, que não enjeitavam a possibilidade de brilharem num mundo delicioso e viril, como eram, então, as corridas de F1. Quase, quase, como a vida de um matador de touros, era então a dos pilotos de F1.
Ao longo destes anos, o GP do Mónaco cimentou a fama de muitos pilotos, como Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Bruce McLaren, Graham Hill, Jackie Stewart, Jochen Rindt, Gilles Villeneuve, David Coulthard ou Mika Hakkinen, todos eles vencedores. Mas, também, permitiu triunfos improváveis, como os de Jean-Pierre Beltoise e Olivier Panis, em 1972 e 1996, respetivamente, cumpridos debaixo de condições difíceis e que consistiram, para ambos, as únicas vitórias na F1; ou, ainda, de Maurice Trintignant (1955 e 1958) ou Jarno Trulli (2004). Por isso, ainda hoje, correr nas ruas do Mónaco é um exercício do inesperado, mas também de enorme precisão. E, claro, de um “glamour” quente e fora de série.
O Mónaco é o único lugar no mundo da F1 em que os pilotos são heróicos, sob os aplausos da multidão que enche as bancadas em redor do porto e da marina, mas também os balcões e varandins das ruas laterais e de um público de heróis do mundo virtual, atores, músicos, membros da realeza, “socialites” e belezas etéreas.
O Príncipe Ayrton Senna
Não é muito difícil eleger o Príncipe do Mónaco da F1: Ayrton Senna. Afinal, era lá que ele era o artista principal, onde cinzelava a sua perfeita arte de pilotar em cada vénia que fazia aos rails em Rascasse ou Sainte-Dévote, em cada passagem subtil pela chicane da Piscina. O seu nome, aliás, é símbolo do sublime: antes dele, nada havia; depois dele, também não.
Claro que, antes dele, muitos foram os artistas que desenharam obras primas nas ruas onduladas de Monte Carlo: Graham Hill, Jackie Stewart, Jody Scheckter, Ronnie Peterson, Niki Lauda, Alain Prost, Michael Schumacher.
Porém, ninguém como Ayrton Senna mereceu ter o seu nome inscrito na galeria única dos Príncipes do Mónaco. O mágico venceu, consecutivamente, o GP do Mónaco, entre 1989 e 1993. Venceu a primeira vez em 1987 – e só não o fez mais vezes, porque, um belo dia, saiu uma fração de milímetro da linha certa e ficou à entrada do túnel. Os seus seis triunfos nas ruas onde vive o maior glamour europeu continuam uma marca impossível de igualar. Afinal, não são todos os que nascem para serem príncipes – para isso é preciso ter-se nascido mágico.
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