GP do Mónaco F1, os insólitos 1982: A surpresa de Riccardo Patrese

Por a 24 Maio 2024 12:18

Com os muros em cima da pista, poucos pontos de ultrapassagem e as mecânicas sujeitas a violências extremas, o GP do Mónaco sempre foi palco de corridas onde o resultado final foi uma surpresa. Selecionamos três edições que achamos fora do vulgar, em 1982, 1984 e 1996. A primeira fica já aqui…

Poucas épocas foram tão atribuladas e imprevisíveis como 1982. Foi uma temporada marcada pela tragédia, muita polémica desportiva, mas também algumas provas que ficarão para sempre na memória dos aficionados, onze vencedores diferentes e culminou com o título de Keke Rosberg – o único piloto a ser campeão com uma só vitória. E se houve prova que refletisse esta dinâmica a tender para o caos, foi o GP do Mónaco.

No rescaldo do acidente de Gilles Villeneuve, ocorrido na ronda anterior em Zolder, a prova monegasca começou com alguma polémica, já que os Theodore e Ensign, que tinham inicialmente contrato com a Avon, viram a marca abandonar abruptamente a modalidade, deixando-as sem pneus. Como as equipas não estavam nos melhores termos com a FOCA, viram-se obrigadas a arranjar alguns pneus para tentar fazer um mínimo de voltas para agradar aos patrocinadores, mas com apenas 20 lugares disponíveis, dificilmente se conseguiriam qualificar, tal como se veio a verificar. De fora da grelha final ficaram também os três March, os Osella e os Toleman, o único Fittipaldi inscrito e o Arrows de Mauro Baldi, nuns treinos marcados pela fantástica pole-position de René Arnoux, que bateu mesmo no final da sessão Riccardo Patrese, o italiano claramente num fim de semana muito inspirado.

O dia de prova amanheceu soalheiro, mas pela hora da partida estava já bastante nublado, embora não ameaçasse chuva a curto prazo. Arnoux fez uma partida perfeita e abriu de imediato uma boa vantagem, e desta vez não houve acidentes na primeira curva, pelo que no final da primeira volta o francês liderava sobre Bruno Giacomelli, Alain Prost, Patrese, Didier Pironi e Andrea de Cesaris, seguido dos restantes 14 pilotos. De facto, Arnoux rodava a um ritmo altíssimo, e para o ajudar ainda mais a ganhar tempo, o Alfa Romeo de Giacomelli servia de tampão aos seus rivais, até que Prost conseguiu ultrapassá-lo na terceira volta. Infelizmente, a boa exibição do italiano não duraria muito mais tempo, pois Bruno viria a abrandar na quinta volta e a parar nas boxes, ficando por lá com o semi-eixo quebrado. Estas primeiras voltas foram razoavelmente calmas, com os Renault a exibir uma grande superioridade, seguidos de Patrese, Pironi, Andrea de Cesaris e Michele Alboreto, o jovem italiano a liderar o pelotão dos motores atmosféricos com o seu Tyrrell.

O primeiro golpe de teatro do dia ocorreu à 16ª volta, quando René Arnoux errou na zona das Piscinas e entrou em pião, deixando o carro ir abaixo, terminando em grande frustração um fim de semana que tinha tudo para ser perfeito, se a fiabilidade dos motores não decidisse estragar os planos ao mais experiente dos franceses da Renault. Deste modo, Prost assumiu o comando e manteve o controlo das operações durante as 50 voltas seguintes. A corrida tendeu para a monotonia, apenas com ultrapassagens casuais na cauda do pelotão e as graduais desistências por falha mecânica, embora na 23ª volta se tenha assistido ao abandono insólito do ATS de Eliseo Salazar, quando o sistema extintor automático se ativou sem razão aparente, pregando um susto ao jovem chileno. O único fator de animação durante este longo período intermédio do GP foram as dobragens, já que nem De Angelis nem Piquet, ambos a viver fins de semana para esquecer, facilitaram propriamente a tarefa aos líderes, o que permitiu uma certa aproximação entre os três primeiros mas, mal os obstáculos foram ultrapassados, Prost voltou a ganhar tempo, seguido de Patrese, Pironi (cuja frente ficou danificada nas dobragens), De Cesaris, Rosberg e Alboreto.

A meio da prova as nuvens tornavam-se progressivamente mais ameaçadoras e o ar carregado de humidade das montanhas da Provença, mas não chovia e a situação de corrida estava estabilizada, aparte os abandonos, destacando-se os dois McLaren, ambos com problemas de motor após um fim de semana em que mal se viram, e Piquet, com problema tanto no novo motor BMW como numa transmissão ‘habituada’ ao venerável Cosworth. Com três quartos da prova completados, Prost era líder mais do que destacado sobre Patrese e Pironi, enquanto Rosberg pressionava De Cesaris na luta pelo quarto posto, seguido de um isolado Alboreto. No entanto, pouco depois da 60ª volta, a chuva fez a sua aparição, e com a direção de prova a optar por levar a corrida até ao fim, as últimas voltas prometiam ser animadas…

A chuva era miúda, mas suficiente para deixar a pista com condições de aderência extremamente precárias, e Rosberg foi a primeira vítima, quando bateu com violência no limitador da chicane do porto e partiu a suspensão na 66ª volta, e cinco voltas depois era a vez de Alboreto abandonar também com a suspensão partida, o que deixava apenas nove carros em prova. Tendo herdado um excelente quarto lugar, Derek Daly derrapou na curva Tabac e deixou toda a parte traseira em mau estado, mas apesar dos danos na caixa e da quase ausência da asa, conseguiu manter o Williams em pista e tentou terminar a prova. Prost estava novamente retido atrás do Lotus de de Angelis e forçou a dobragem por fora em St. Devote, na entrada da 74ª volta, raspando levemente nos rails. Pouco depois dobrou Daly, mas a sair da chicane o Renault guinou abruptamente para a direita e bateu violentamente contra os rails. A partir daqui começava a roleta russa…

Classificação

1 2 Riccardo PATRESE Brabham Ford Cosworth 76 1h 54m 11.259s

2 28 Didier PIRONI Ferrari Ferrari 75 Ignição

3 22 Andrea De CESARIS Alfa Romeo Alfa Romeo 75 Avaria de gasolina

4 12 Nigel MANSELL Lotus Ford Cosworth 75

5 11 Elio De ANGELIS Lotus Ford Cosworth 75

6 5 Derek DALY Williams Ford Cosworth 74 Acidente

7 15 Alain PROST Renault Renault 73 Acidente

8 4 Brian HENTON Tyrrell Ford Cosworth 72

9 29 Marc SURER Arrows Ford Cosworth 70

10 3 Michele ALBORETO Tyrrell Ford Cosworth 69 Suspensão

ab 6 Keke ROSBERG Williams Ford Cosworth 64 Suspensão

ab 8 Niki LAUDA McLaren Ford Cosworth 56 Pressão de óleo

ab 1 Nelson PIQUET Brabham BMW 49 Caixa de velocidades

ab 7 John WATSON McLaren Ford Cosworth 35 Fuga de óleo

ab 9 Manfred WINKELHOCK ATS Ford Cosworth 31 Diferencial

ab 26 Jacques LAFFITE Ligier Matra 29 Comportamento de estrada

ab 25 Eddie CHEEVER Ligier Matra 27 Motor

ab 10 Eliseo SALAZAR ATS Ford Cosworth 22 Extintor

ab 16 René ARNOUX Renault Renault 14 Rotação

ab 23 Bruno GIACOMELLI Alfa Romeo Alfa Romeo 4 Transmissão

nq 30 Mauro BALDI Arrows Ford Cosworth

nq 33 Jan LAMMERS Theodore Ford Cosworth

nq 17 Jochen MASS March Ford Cosworth

nq 35 Derek WARWICK Toleman Hart

nq 31 Jean-Pierre JARIER Osella Ford Cosworth

nq 14 Roberto GUERRERO Ensign Ford Cosworth

npq 36 Teo FABI Toleman Hart

npq 32 Riccardo PALETTI Osella Ford Cosworth

npq 18 Raul BOESEL March Ford Cosworth

npq 20 Chico SERRA Fittipaldi Ford Cosworth

npq 19 Emilio de VILLOTA March Ford Cosworth

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garantia4
garantia4
2 anos atrás

O Pironi fica sem gasolina, o De Cesaris desiste a seguir, o Prost bate e desiste, e o Patrese faz um pião e só consegue ligar novamente o motor graças à descida. No fim corta a linha da meta e vence. Mas não sabe. E está de cabeça perdida pela vitória desperdiçada .À entrada do túnel o Pironi pede-lhe boleia, sobe para o carro, 1ª, 2ª , 3ª, 4a , travagem para a chicane e sente uma grande pancada no capacete. Era o Pironi , “What are you doing stupid?!”, de quem ele já não se lembrava. Vai para as… Ler mais »

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