GP do Mónaco de F1: Glamour. Cinema. Casinos. Luxo. Atores e atrizes. Reis, príncipes e princesas..

Por a 24 Maio 2024 15:52

Glamour. Cinema. Casinos. Luxo. Atores e atrizes. Reis, príncipes e princesas. Belezas de estontear. Depois, pelo meio do casario derramado até ao cimo da encosta, lá onde está o palácio, pelo meio dos longos iates que dormem na baía, enclausurados por fileiras de redes e proteções metálicas, duas dezenas de monolugares voam a mais de 230 km/h.

É o GP do Mónaco – como ele não há igual.

Felizmente longe das manias exasperantes de segurança antes do espetáculo e dos pesadelos desenhados pela Tilkemania, o GP do Mónaco continua – tal como os da Bélgica e de Itália, mas estes por outros motivos – a ser um dos mais aguardados em cada temporada de F1.

Não exatamente por ser uma pista emocionante – apesar de, de vez em quando, resultar em corridas espetaculares, com vencedores inesperados. Mas, isso sim, por ser uma montra viva do glamour europeu – e, porque não, mundial.

Desde os pilotos aos diretores de equipa, sem esquecer as marcas que apostam na F1, todos esperam para que chegue o grande dia. Para eles, o Mónaco é a grande oportunidade de ser diferente e, principalmente, em muitos casos de fazer render o ‘peixe’ que é a F1.

GP do Mónaco – montra de vaidades? Sem dúvida. Mas também, a par das 24 Horas de Le Mans e das 500 Milhas de Indianapolis – curiosamente, todas elas realizadas no arco de menos de um mês, entre maio e junho – uma das três mais importantes e prestigiadas corridas de automóveis de todo o Mundo.

Aos ziguezagues, entre as casas

A primeira edição do Grande Prémio do Mónaco teve lugar em 1929, nessa altura pelas ruas estreitas e sem proteções da vila de Monte Carlo. Organizado por Anthony Noghès, presidente do ACM (Automobile Club de Monaco). O ACM tinha sido fundado por Alecandre Nighès, pai de Anthony, sob o nome de Sport Vélocipédique Monégasque. A primeira prova de automóveis que realizou foi o Rali de Monte Carlo, em 1911. Reconhecido internacionalmente em 1928, Noghès teve a ideia de organizar uma corrida tipo Grand Prix nas ruas do Mónaco – tudo, para atrair as atenções. Aberta a convidados, a primeira edição do Grande Prémio foi ganha pelo britânico “Williams” – pseudónimo de William Grover-Williams, um nobre que acabou fuzilado pelos nazis, em 1943, por espionagem – ao volante de um Bugatti, a única marca que apostou em força na prova.

A Alfa Romeo e a Maserati, então as grandes marcas nas corridas de circuito, estiveram ausente e a Mercedes enviou apenas o seu principal piloto, Rudolf Caracciola, que conduziu um Mercedes SSK. Logo desde o início, o Grande Prémio teve a égide real – então, apoiado e celebrado por Luís II, que era o príncipe nesses primeiros anos.

O Grande Prémio do Mónaco fez parte do calendário do Campeonato da Europa de Grandes Prémios, que existiu antes da II Grande Guerra, em 1931 e 1932 e, depois de dois anos sem se realizar, entre 1935 e 1939. A primeira edição pontuável para o Europeu teve lugar em 1936 e foi ganha por Caracciola, em Mercedes. Em 1950, fez parte do primeiro Campeonato do Mundo de F1, mas depois esteve vários anos sem se realizar – com exceção de 1952, ano em que teve lugar em novembro e foi aberto a carros de GT e de “Sport”. Regressou ao Mundial de F1 em 1955, nesse ano com a designação de GP da Europa – algo que viria a suceder em 1963. Desde então, fez sempre parte do calendário da F1.

Ilustres desconhecidos

O GP do Mónaco foi ganho por quase todos os “monstros sagrados” da F1. Mas, antes disso, assistiu a duelos imortais entre nomes imortais. Nos primeiros anos, a Bugatti dominou, primeiro com “Williams” e, nos dois anos seguintes, com René Dreyfus e com o herói local, Louis Chiron – para quem, na realidade, aprova tinha sido “feita” por Noghès. Em 1932, o nome do vencedor foi Tazio Nuvolari, com um Alfa Romeo e, em 1933, Achile Varzi, num Bugatti. Neste ano, pela primeira vez, as posições na grelha foram estabelecidas por tempos conseguidos em treinos prévios, em vez do metido de sorteio, praticado até então.

Ficaram na história os duelos entre estes dois homens, Nuvolari e Varzi, que se detestavam – como, anos mais tarde, viriam a ficar os travados entre Senna e Prost. Guy Moll, o menino-prodígio francês, venceu em 1934, poucas semanas antes de morrer num acidente. A partir de 1935, foi a vez da Mercedes dominar – primeiro, com Luigi Fagioli, que viria a perder a vida exatamente na prova que foi feita com carros de ”Sport”, em 1952. Depois, através de Caracciola e Manfred von Brauchitsch. Entre 1938 e 1947, não se realizou e, em 1948, Nino Farina venceu o GP com um velho Maserati. Então, chegou o ano de 1950 – e o resto faz parte da história da F1.

De Senna e Schumacher a Beltoise e Panis

O GP do Mónaco foi terra de verdadeiros Príncipes – para não dizer Reis. Estes são conhecidos sem hesitação – os nomes de Ayrton Senna, Graham Hill, Michael Schumacher e Alain Prost juntam-se a outros, como Maurice Trintignant, Stirling Moss, Jackie Stewart, Niki Lauda, Jody Scheckter ou, mais recentemente, David Coulthard, Fernando Alonso e Mark Webber, todos eles vencedores em mais que uma vez nas ruas do Principado.

Porém, existem ainda os verdadeiros artistas, aqueles que fizeram as delícias dos amantes das derrapagens em controlo absoluto e que, não se sabe bem com que artes e artimanhas, souberam fintar os “rails” que delimitam as ruas e atingir o lugar do Olimpo. Estamos a falar de Jochen Rindt, Ronnie Peterson, Gilles Villeneuve ou Juan Pablo Montoya, peritos em andar mais de lado que a direito, algo improvável de ser bem sucedido no Mónaco.

Jack Brabham, Bruce McLaren, Denny Hulme, Patrick Depailler, Carlos Reuteman, Riccardo Patrese, Mika Hakkinen, Kimi Raikkonen e Lewis Hamilton foram outros grandes piulotos que triunfaram no Mónaco, mas em solitário. Depois, existem aqueles cuja vitória foi apenas fruto das circunstâncias – Keke Rosberg e Jarno Trulli, porque tinham um carro imbatível; Oliver Panis, o sobrevivente do caos; e Jean-Pierre Beltoise, artista inesperado numa pista encharcada.

Palco supremo e difícil de cumprir, o GP do Mónaco falta na prateleira de troféus de virtuosos como Jim Clark ou de Campeões do Mundo como Alberto Ascari, Mike Hawthorn, Phil Hill, Nelson Piquet ou Mario Andretti. No entanto, mantém intacta a sua áurea cosmopolita e de uma beleza rara, mas bem real. Literalmente.

Helio Rodrigues, In Memoriam

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