GP do Bahrein de F1: A injustiça de um pódio

Por a 30 Novembro 2020 10:54

Dois pilotos chegavam a Sakhir com os respetivos destinos interligados, podendo o sucesso de um ser o insucesso do outro e, no GP do Bahrein, foi exatamente isso que aconteceu, com Alex Albon a subir ao pódio depois do azar de Sérgio Pérez.

Alex Albon e Sergio Pérez chegaram a esta prova sem o futuro definido, ainda que por motivos bastante diferentes. O tailandês não tem justificado o seu lugar ao lado de Max Verstappen, estando a Red Bull a equacionar se o manterá, sendo os resultados até final do ano, determinantes. Albon tem o futuro nas suas mãos. Já o mexicano, foi vítima das circunstâncias, perdendo o seu lugar na Racing Point, quando Sebastian Vettel ficou livre no mercado, acabando a equipa de Silverstone (em 2021 Aston Martin), por ver no alemão a melhor opção para no futuro. Logicamente, sendo Lance Stroll filho do patrão, teria de ser Pérez a ceder o lugar, apesar de estar a protagonizar uma das suas melhores prestações, se não a melhor, da sua carreira, tendo chegado a Sakhir no quarto lugar do campeonato, apesar de ter falhado dois GP por doença, ao passo que Alex Albon, era nono a 30 pontos do mexicano, mesmo tendo um Red Bull. Este era o cenário.

Numa pista que se apresentava mais fria que o habitual, os pneus tiveram dificuldade de manter as temperaturas na janela correta, os pneumáticos traseiras tinham tendência a sobreaquecer, uma característica que assenta que nem uma luva nas capacidades de Pérez, que tem uma sensibilidade extrema para proteger em aceleração as borrachas do eixo posterior, o que lhe permite amiúde estender os seus ‘stints’.

O fim de semana começou bem para Pérez, mas Alex Albon sofria um violento despiste na última curva do circuito no 2º treino livre, danificando bastante o seu Red Bull RB16 Honda.

Precisamente quando necessitava de ganhar confiança, o tailandês voltava a falhar, tendo a sua equipa de construir um novo carro em redor de um novel chassis. Ainda assim, Albon reagiu bem no sábado, garantindo o quarto lugar, no fundo a pole-position do ‘2º Pelotão’, batendo Pérez por 48 milésimos de segundo, que assegurava o quinto posto da grelha. No entanto, e muito embora a sua reação tenha sido positiva, o tailandês perdia uns massivos 0,596s para o seu colega de equipa, o terceiro mais rápido, uma diferença demasiado elevada e que está para lá do que se espera de um piloto que tem nas suas mãos um Red Bull.

Lado a lado estavam dois dos três candidatos ao lugar de colega de equipa de Verstappen em 2021 – o restante é Nico Hulkenberg, com o tailandês à frente, mas do lado sujo da pista, o que lhe poderia causar problemas no arranque.

Na partida original, Bottas e Albon, ambos fora da tracjetória, arrancaram mal e perderam posições, tendo Pérez assumido o terceiro lugar no encalço de Hamilton e Verstappen, liderando o ‘2º Pelotão’.

Mas claro que a corrida foi rapidamente interrompida devido ao violente acidente de Romain Grosjean, tendo, contudo, a direção de prova decidido manter a classificação no momento em que as bandeira vermelhas surgiram para a grelha de partida, que seria realizada depois de uma longa paragem para reparar as barreiras onde o Haas do francês tinha batido.

Quando a prova foi retomada, Pérez arrancava de terceiro, ao passo que Albon alinhava no quinto posto, desta feita do lado limpo da pista, tendo qualquer um deles mantido as posições. Porém, a primeira volta voltaria a ser marcada por novo acidente, desta feita Daniil Kvyat e Lance Stroll desentendiam-se, tendo o canadiano capotado.

Face ao sucedido, o Safety-Car foi enviado para a pista, para que esta fosse limpa e o Racing Point recuperado, adiando uma vez mais o início consistente da corrida, mas Valtteri Bottas voltava a ter o azar do seu lado, furando nos muitos detritos espalhados pela pista, o que atirou para o fundo do pelotão e de onde teve dificuldades em recuperar.

Quando a prova foi, finalmente, retomada, Pérez estava no terceiro lugar seguido de Albon – os dois pilotos cujos destinos estão interligados iriam bater-se entre si pela vitória da corrida do ‘2º Pelotão’, sem fatores externos e com o mesmo tipo de pneus ao seu dispor (médios), seria a capacidade de cada um a fazer a diferença.

Até à 19ª, momento em que o piloto da Red Bull entrou nas boxes para montar um jogo de pneus médios usados, Pérez, que perdera seis segundos para Verstappen, tinha ganho quatro ao tailandês.

No entanto, a tentativa de ‘undercut’ da formação de Milton Keynes não deu os resultados esperados, devido à pronta resposta da Racing Point, chamou o seu piloto na volta seguinte para montar borrachas duras frescas, conseguindo até estender a sua vantagem para os cinco segundos.

Com pneumáticos mais macios, era esperado que Albon pudesse realizar uma aproximação a Pérez, tendo na verdade reduzido a sua desvantagem até aos três segundos e meio, mas a partir da vigésima nona volta, as borrachas médias cediam e o mexicano passava a afastar-se do seu perseguidor, atingindo o 5,7s na trigésima oitava passagem pela linha de meta.

Apesar de ter atrás de si um carro mais competitivo calçado por melhores pneus, Pérez mostrava-se imperial, gerindo superiormente os pneus e mantendo-se ao abrigo de qualquer tipo de aproximação do seu perseguidor.

Quando completou a sua segunda paragem nas boxes, na trigésima sexta volta, o piloto da Racing Point tinha Albon a 2,7s e com pneus duros novos para os dois, o final da corrida seria um duelo entre dois pilotos que não têm o seu futuro decidido.

Uma vez mais, Pérez mostrou a sua superioridade, construindo uma vantagem que cresceu até aos seis segundos, estabilizando nos cinco, sem que Albon conseguisse ter resposta para o mexicano.

O piloto da Racing Point parecia caminhar para o seu segundo pódio em duas corridas, o que lhe permitiria dar um passo decisivo para garantir o quarto lugar no Campeonato de Pilotos e ajudar a sua equipa a assegurar o terceiro posto no Campeonato de Construtores.

Contudo, na quinquagésima terceira volta, a cinco da bandeira de xadrez, o motor Mercedes do seu monolugar começou a revelar problemas de MGU-K, ditando o seu abandono a quatro do fim.

Uma corrida irrepreensível da parte de Pérez acabava em chamas, deixando para o piloto que o pode impedir de rumar em 2021 à Red Bull a vitória na prova do ‘2º Pelotão’, uma ironia que, seguramente, deixou o mexicano ainda mais desconsolado.

Albon herdava assim o terceiro posto, subindo ao pódio pela segunda vez na sua carreira e terminando encostado ao seu colega de equipa, devido à entrada em pista do Safety-Car para que o Racing Point de Pérez pudesse ser recuperado.

Na luta pelo terceiro lugar do Campeonato de Construtores, a McLaren levou a melhor com o quarto e quinto lugares dos seus pilotos, com vantagem para Lando Norris, ao passo que a Renault ficou com o sétimo lugar de Daniel Ricciardo e o nono de Esteban Ocon, reduzindo as possibilidades da equipa do construtor francês de se impor nesta guerra.

A Ferrari, com o décimo lugar de Charles Leclerc, perdeu qualquer possibilidade real de poder subir a terceiro num fim-de-semana em que os carros de Maranello passaram por muitas dificuldades.

Pierre Gasly voltou a assinar uma boa performance, vendo a bandeira de xadrez em sexto, ao passo que Valtteri Bottas, recuperou até sétimo depois do seu azar inicial.

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