GP de Portugal de F1: vantagens mesmo à porta fechada
O Autódromo Internacional do Algarve está em liça por uma prova de Fórmula 1, este ano, graças à pandemia da COVID-19, que teve um impacto profundo na principal competição da FIA. As circunstâncias são únicas, havendo o risco de ser um Grande Prémio de Portugal à porta fechada, mas ainda assim as vantagens são óbvias e não são apenas para o mais recente circuito permanente português.
O nosso país já foi uma presença assídua no calendário dos Grandes Prémios da categoria máxima, primeiro no final dos anos cinquenta, inícios dos sessenta, com duas provas no Circuito da Boavista e outra no Circuito de Monsanto, mas foi a partir de meados do anos oitenta que Portugal sedimentou a sua posição na categoria, tendo o Autódromo do Estoril feito parte da história da Fórmula 1 durante treze edições, com episódios que marcaram o livro de ouro da disciplina máxima do automobilismo.
É natural que qualquer adepto do desporto automóvel deseje ter um Grande Prémio no seu país, é o expoente máximo das corridas de automóveis, mas existem inúmeros factores para que uma nação concretize o desejo de ter uma corrida de Fórmula 1 dentro das suas fronteiras.
Anualmente, o campeonato da principal competição da FIA tem uma audiência televisiva cumulativa de 1,8 mil milhões de pessoas, tendo em média cerca de 506 milhões de telespectadores por Grande Prémio distribuídos por duzentos países.
Isto garante que a cidade que alberga o evento uma visibilidade global, potenciando a sua imagem e marca como destino de grandes eventos, sejam desportivos ou de entretenimento, o que lhe assegura proveitos a longo prazo do ponto de vista do turismo, sendo ainda determinante para uma estratégia que vise colocar a cidade em questão no mapa dos turistas.
Para além disso, em média, passam 200 mil pessoas por cada Grande Prémio ao longo da temporada, 53% das quais estrangeiras, o que assegura um impacto económico directo profundo.
Usando o exemplo do Grande Prémio de Singapura, desde que a corrida de Marina Bay se estreou em 2008, foram mais de 450 mil os turistas estrangeiros que se deslocaram à cidade-estado, tendo contribuído para a economia local em mais de 1,4 mil milhões de dólares.
Isto significa um impacto directo de quase 110 milhões de dólares por ano, o que, se levarmos consideração que o “race fee” anual é de cerca de trinta milhões de euros, quase pagaria o investimento inicial só através do IVA, que em Portugal tem a taxa de 23%.
Para colocar estes valores em perspectiva, a final da Champions League que se realizou em Lisboa em 2014 teve um impacto directo na economia local de 46,3 milhões de euros.
Estes números impressionantes são alavancados por impactos de segunda ordem. Em Austin, a sede do Grande Prémio dos Estados Unidos da América, o seu evento de Fórmula 1 anual criou já 9100 empregos ao longo das suas oito edições, representando um impacto económico de 306 milhões de dólares anuais, o que cria riqueza na população e ajuda os cofres do estado pela via de impostos.
Porém, estes são as vantagens para um país numa situação normal, ou seja, sem a pandemia da COVID-19 que atravessamos presentemente e cria o risco real de todos os Grandes Prémios deste ano serem realizados à porta fechada, inclusivamente aquele que poderá ser realizado no Autódromo Internacional do Algarve.
Mas ainda assim, se um eventual Grande Prémio de Portugal se vier a concretizar mesmo sem público, haverá benefícios claros, como nos explica Paulo Pinheiro, o CEO da Parkalgar, empresa que gere o mais recente autódromo português: “Existe um impacto económico directo na região, dado que as equipas estarão na zona durante uma semana e a organização (n.d.r.: FOM e FIA) três, o que terá reflexo na restauração, alojamentos e no aluguer de automóveis. É evidente que tudo isto trará benefícios à economia local, o que se traduziria, igualmente, em vantagens para o país em termos de imagem e em impostos”.
Caso se realize o Grande Prémio de Portugal em Setembro ou Outubro, as equipas poderão levar para o circuito apenas oitenta colaboradores, o que significará oitocentas pessoas. A isto é preciso ainda juntar as formações do Campeonato FIA de Fórmula 2, do Campeonato FIA de Fórmula 3, da Porsche Supercup, os membros das organizações e da produtora que assegurará a transmissão televisiva em directo. No total, poderemos estar a falar de cerca de três mil pessoas que terão um envolvimento directo no evento.
Também para o circuito existem vantagens que poderão ter um reflexo no seu futuro, trazendo benefícios para o Algarve e para o país. “Como seria de esperar, para o Autódromo Internacional do Algarve existem vantagens evidentes. Teremos uma enorme visibilidade, o que nos ajudará comercialmente no futuro. Para além disso, com um Grande Prémio no nosso circuito será mais fácil assegurar os testes de Inverno a partir de 2021. Mais uma vez, isso teria um impacto profundo na economia local, uma vez que as equipas estariam no Algarve mais de uma semana”, afirmou ao AutoSport Paulo Pinheiro que acrescentou: “De uma forma mais imediata, a FOM pagar-nos-á pelo aluguer da pista, o que será benéfico para nós e para Portugal, uma vez que se trata de divisas estrangeiras a dar entrada no nosso país”.
No entanto, o CEO da Parkalgar não coloca de parte a possibilidade de o possível Grande Prémio de Portugal se poder concretizar com as bancadas abertas, ainda que com cuidados sanitários. “Até ao dia 30 de Setembro é impossível realizar um evento desta dimensão com público, devido às normas emanadas pela DGS. No entanto, nessa data será realizada uma reavaliação da situação. Penso que temos os meios para ter público no circuito de uma forma segura. Poderemos garantir o distanciamento social exigido com entre 1/3 a 2/3 da capacidade sem que se criem ajuntamentos nocivos. Mas essa é uma situação a avaliar numa fase posterior”, concluiu Paulo Pinheiro.
Seja como for, mesmo sem público, um eventual Grande Prémio de Portugal terá claros benefícios para o país, região e circuito, tendo ainda a vantagem de dar uma ideia de normalidade numa região que vive quase exclusivamente do turismo, podendo ser decisivo para que os turistas regressem, o que poderá ser de capital importância para dinamizar a economia local.