GP de Portugal de F1, Impacto económico: De 30 a 130 milhões!

Num contexto em que se anunciou oficialmente o regresso da Fórmula 1 a Portugal, após 24 anos de ausência, numa questão que extravasa claramente o âmbito especializado e se alarga, e muito à imprensa generalista, falar da questão económica da vinda da F1 para Portugal é natural, e se muitos pegam na questão do quanto custa, é também necessário explicar o outro lado da questão. Que retorno dá. Veja-se como exemplo o Rali de Portugal.

A edição de 2019 do Rally de Portugal gerou 141,2 milhões de euros na economia nacional, mais 2,9 milhões que a edição anterior, registando um novo recorde no impacto que o evento provoca anualmente no País. Isto para uma prova que custa 3,5 milhões.

De acordo com o Estudo do Impacto do Vodafone Rally de Portugal na Economia e Turismo, mais de metade do retorno verificou-se em despesa direta assegurada por adeptos e equipas nas regiões do Norte e Centro onde decorreu a prova do Automóvel Club de Portugal: 73,42 milhões de euros. Atente-se nestes valores, que são uma boa base para perceber o que pode acontecer com a Fórmula 1.

Curiosamente, e devido ao facto da Liberty Media e a FOM se terem visto na obrigação de procurar novos locais para disputar as provas, deixando de lado alguns dos 22 promotores com que tinham contratos, Portugal não terá de pagar um valor que para as provas europeias oscila entre os 30 e os 40 milhões de dólares, mas sim ‘apenas’ cerca de 3.5 milhões, que se dividem entre obras no circuito, por exemplo, novo asfalto, absolutamente necessário para a F1, e tudo o resto que consta no caderno de encargos da F1.

Falámos dos custos, agora vamos ao retorno.

Segundo Paulo Pinheiro, CEO do AIA, e Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo, este evento irá gerar no mínimo algo como €30 milhões de euros, e isto numa previsão muito pouco otimista. Neste momento por causa da pandemia, as equipas estão a movimentar menos gente, mas em outubro, partindo do princípio que as coisas estarão um pouco melhor que agora é natural que as equipas movimentem pelo menos entre duas a três mil pessoas.

Normalmente, sem pandemia, a Fórmula 1 movimenta cerca de 5000 pessoas, só diretamente ligadas à ‘máquina’ da F1. Hoje em dia não é assim, nem se prevê que em outubro seja assim. Mas poderá ser bem diferente do que é agora. E também pior, para sermos rigorosos.

Portanto toda essa gente vai ter que ficar cerca de uma semana no Algarve. Hotéis, alimentação, etc, etc.

A Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, revelou que se “está a trabalhar em vários cenários, com diversas cargas de público, tudo dependendo da evolução epidemiológica”.

Neste contexto, sabendo-se que a capacidade máxima do circuito de Portimão é de cerca de 120 mil pessoas, está trabalhar-se em números de 50% ou 25%, tudo dependendo do que acontecer até outubro, e só aí se saberá exatamente quantos espetadores poderá ter o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, sendo que isto também irá afetar diretamente o impacto que o Grande Prémio terá na região e no País.

Paulo Reis Mourão, um economista, estimou em entrevista à Lusa que o impacto da realização de um grande prémio de Fórmula 1 em Portugal pode chegar aos 130 milhões de euros, entre ganhos diretos e indiretos. Ele é o autor do livo “The Economics of Motorsports: The Case of Formula One”, onde apresenta um estudo sobre a economia à volta da F1 desde o seu início, em 1950, e não tem dúvidas em afirmar que o impacto económico direto, mesmo sem público pode rondar os 100 milhões de euros. Detalhando, explica: “O impacto direto, sem público, será algo entre 30 a 50 milhões de euros (num período até ano e meio a dois anos após a prova). Indireto (somando emprego criado, rendimento adicional, receitas fiscais, efeito multiplicador e promocional), e considerando a dimensão de Portugal, em contexto de pandemia, pode ir até mais 40 a 50 milhões de euros”, disse à Lusa.

A isto soma-se o retorno resultante da presença de público: “Com público, podemos ter mais 20 a 30 milhões de euros”.

Para que se perceba o impacto sem público, imagine só o simples facto deste anúncio de ontem, e a quantidade de notícias publicadas em todo o mundo. Quantos vão ficar curiosos com as fabulosas imagens do Algarve e da não menos espetacular pista, daqui até outubro, e depois com a corrida que se espera, de sonho. Resumindo, a secretária de Estado, Rita Marques admite que “no pior das hipóteses», o impacto de 30 milhões de euros e, na melhor das hipóteses, muito superior a isso”. João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve admite que “é um enorme evento que acontece na época baixa, de 23 a 25 de outubro, e que provoca um impacto direto e indireto que pode chegar aos 80 milhões de euros”. Por fim, o economista, Paulo Reis Mourão, estimou que o impacto pode chegar aos 130 milhões de euros, entre ganhos diretos e indiretos. Seja que número for, nunca será um mau negócio. E o melhor de tudo é que planta sementes que podem dar frutos no futuro. Seja porque que prisma for, é um acontecimento muito grande para Portugal.