GP de Espanha: Frustração de Verstappen esfuma-se com abandono de Leclerc
Max Verstappen venceu o Grande Prémio de Espanha, mas até à vigésima sétima volta parecia improvável que o holandês se pudesse impor, depois de uma saída de pista, e apenas o abandono de Charles Leclerc apagou a frustração que o Campeão do Mundo evidenciava.
Depois do ascendente da Red Bull nas duas últimas corridas, a Ferrari tinha a esperança de poder restabelecer a vantagem que tinha exibido nas primeiras provas da temporada, com um novo pacote técnico que seria estreado no Circuit de Barcelona – Catalunya.
Tal como acontecera em Miami, Leclerc mostrava-se imperativo na qualificação, apesar de um pião na sua primeira volta lançada da Q3, conquistando a pole-position, ao passo que Verstappen voltava a sentir problemas com o DRS do seu monolugar na sua última tentativa, impedindo-o de tentar defender o seu ascendente inicial.
A primeira batalha tinha sido vencida pelo monegasco e pela “Scuderia”, mas no seio da formação de Maranello havia alguma preocupação quanto à capacidade do F1-75 em gerir os pneus, tendo ficado a ideia na segunda sessão de treinos-livres de sexta-feira que o RB18 era melhor neste aspecto.
Com a temperatura da pista a ascender aos 48ºC no dia da prova, a capacidade em fazer durar os pneumáticos seria determinante para o desfecho final, sendo aceite por todos que, no mínimo, seriam precisas duas passagens pelas boxes para completar as sessenta e seis voltas que compunham o Grande Prémio de Espanha, a sexta ronda da temporada deste ano do Campeonato do Mundo de Fórmula 1.
Se a Ferrari tinha algumas preocupações quanto à gestão de pneus, apesar de algumas alterações terem surtido bons resultados nos treinos matinais de sábado, a Red Bull tinha também algumas inquietações com o DRS de Verstappen, tendo trabalhado até ao último momento numa solução, o que ditou que o Campeão do Mundo tenha saído para a pré-grelha seis segundos antes da via das boxes ter fechado.
O duelo entre os protagonistas na luta pelo título tinha como pano de fundo a subida de forma da Mercedes, que com uma nova actualização técnica, conseguia domar o “porpoising” do W13, o que permitia a George Russell qualificar-se em quarto logo atrás de Carlos Sainz e à frente de Sérgio Pérez e de Lewis Hamilton, que protagonizava uma prestação sofrível na sessão que definiu a grelha de partida.
Apesar da preocupação com os pneus, a vasta maioria dos pilotos começou a corrida com borrachas macias (apenas o heptacampeão mundial optou pelos médios), tendo Leclerc a vantagem de ter à sua disposição um jogo completamente novo, ao ter passado à Q3 com pneumáticos usados. Esta vantagem era ligeira face a Verstappen, pouco substancial na prática, já que com os problemas de DRS do holandês, rapidamente este cancelou a sua última volta lançada da Q3, protegendo os seus pneus, o que os deixou quase novos.
Era este o cenário para a corrida de domingo e o piloto da Ferrari levava a melhor no arranque, mantendo a sua vantagem face a Verstappen, ao passo que Carlos Sainz via as rotações do motor do seu carro caírem em demasia e perdia posições para Russell e para Pérez.
Os dois da frente rapidamente se afastaram do jovem da Mercedes, que não conseguia imprimir um ritmo capaz de os acompanhar.
Hamilton tinha um péssimo início de corrida, tendo sofrido um toque de Kevin Magnussen que atirou o dinamarquês para fora de pista, conseguindo continuar ainda assim, e furou o pneu dianteiro esquerdo do monolugar do inglês, atrasando-o significativamente e deixando de ser um facto na luta pelos lugares da frente.
Nas duas primeiras voltas, Verstappen conseguia manter-se a menos de um segundo de Leclerc, mas a partir daí começou a perder o contacto com o Ferrari e no final da oitava passagem pela linha de meta a diferença entre os dois já superava os dois segundos, parecendo evidente que o F1-75 estava a gerir bem os pneus macios e era o Red Bull a ficar numa situação mais difícil nesta área.
Na volta seguinte a corrida parecia cair definitivamente no colo do piloto monegasco.
Na abordagem à Curva 4, Verstappen via a traseira do seu monolugar escapar-lhe, saindo de pista e perdendo imenso tempo, o que o atirou para trás de Russell e Pérez. O mesmo acontecera uma volta antes a Sainz, que se atrasara ainda mais, ficando de fora da luta pelos lugares do pódio.
Leclerc ficava isolado no comando e com uma boa gestão dos pneus, não tinha qualquer dificuldade em continuar a cavar uma vantagem muito confortável para os seus perseguidores, que se cifrava já em 8,5s, mas que ele estenderia até aos dez segundos nas três voltas seguintes, uma antes de Verstappen e Russell entrarem nas boxes, deixando Pérez no segundo posto.
Com uma vantagem substancial para os seus perseguidores, Leclerc e a Ferrari tinha a possibilidade de gerir o momento em que pararia para trocar de pneus, o que lhe permitiria uma maior flexibilidade estratégica. Ainda assim, o monegasco continua a estender a sua vantagem para o mexicano, que quando parou nas boxes, na décima sétima volta, estava já a mais de dezasseis segundos do Ferrari número 16.
O piloto que então ainda liderava o Campeonato de Pilotos pararia apenas na vigésima primeira volta, o que o deixava dentro dos intervalos que lhe permitiria parar apenas mais uma vez para concluir a corrida.
Quando saiu das boxes, num dia em que o “undercut” era potente, o monegasco tinha Russell a menos de seis segundos, mas em cinco voltas esta vantagem crescia para os 12,6 segundos.
Tudo corria de feição a Leclerc e só algo de muito inesperado poderia impedi-lo de vencer pela terceira vez este ano.
Porém, como todos sabemos, as corridas podem ser bastante cruéis, e o Grande Prémio de Espanha mostrou isso mesmo.
Na vigésima sétima volta, o turbo da unidade de potência do carro número 16 cedia, obrigando Leclerc ao abandono, quando tinha a vitória no bolso.
Russell ficava no comando, com os dois Red Bull no seu encalço, parecendo quase impossível que Verstappen não vencesse.
O holandês passava também por dificuldades, depois da sua incursão por fora de pista.
Depois de Pérez lhe ter cedido a posição para que pudesse atacar Russell, o DRS do seu Red Bull voltava a não funcionar correctamente, o que lhe dificultava a vida na luta com o inglês, até porque o Mercedes W13 era mais veloz em recta, notando-se uma frustração crescente em Verstappen.
Depois de ter parado pela primeira vez ao mesmo tempo que o jovem recruta da equipa de Brackley, o Campeão do Mundo viu-se e desejou-se para o suplantar, assumindo uma táctica de três paragens assim que Leclerc abandonou.
Com um carro bastante mais competitivo que o inglês, imprimiu o andamento fortíssimo, o que lhe permitiu ascender ao comando não sem que antes Pérez fosse instruído a ceder-lhe a posição.
Verstappen venceu o Grande Prémio de Espanha, sendo acompanhado por Pérez e Russell na subida ao pódio, e assumiu o comando do Campeonato de Pilotos, mas a Ferrari parece ter dado um passo em frente com o seu novo pacote técnico para o F1-75, que poderá dar a Leclerc algum ascendente nas próximas provas, isto se o problema de fiabilidade no V6 turbohíbrido for resolvido, mas também a Red Bull tem as suas questões para resolver…
O Momento – Abandono de Leclerc
O monegasco estava tinha o absoluto controlo da corrida espanhola, sobretudo depois do erro de Verstappen, mas mesmo antes disso evidenciava um ligeiro ascendente sobre o holandês. Era preciso um cataclismo para que impedisse o piloto da Ferrari de vencer.
Na vigésima sétima volta foi isso mesmo que aconteceu ao então ainda líder do Campeonato de Pilotos, na forma de um problema técnico na sua unidade de potência que o levou ao abandono. Sem este episódio dificilmente o Campeão do Mundo teria vencido em Barcelona.
A Figura – Lewis Hamilton
O heptacampeão mundial esteve longe de impressionar na qualificação, sendo batido pelo seu colega de equipa, e o início de corrida não foi o mais simpático para si, uma vez que um incidente com Magnussen furou-lhe um pneu, atrasou-o e atirou-o para a penúltima posição.
O inglês chegou mesmo a indagar a equipa sobre se não seria melhor abandonar para proteger a sua unidade de potência.
No entanto, a Mercedes ditou que continuasse e Hamilton assinou uma performance ao nível daquilo que esperamos de um heptacampeão mundial. No final, um quarto lugar parecia estar ao seu alcance, mas uma fuga de água obrigou-o a reduzir o ritmo nas três voltas finais, terminando em quinto.