GP da Grã-Bretanha de F1: Estratégia errada dá vitória a Carlos Sainz

Por a 4 Julho 2022 18:23

A Ferrari regressou às vitórias, com Carlos Sainz a assegurar o seu primeiro triunfo na Fórmula 1 ao vencer o Grande Prémio da Grã-Bretanha, mas uma vez mais, a ‘Scuderia’ cometeu erros estratégicos e foi Charles Leclerc o grande perdedor, acabando por ser o F1-75 ‘errado’ a cruzar a linha de meta em primeiro lugar.

A equipa de Maranello precisava urgentemente de um triunfo para se reabilitar, depois de todos os problemas das últimas corridas, mas depois da qualificação parecia até que a Red Bull, que estreava mais um extenso pacote aerodinâmico, estava mais forte e Max Verstappen demonstrou-o ao longo de uma qualificação, que se disputou com a pista molhada, e só um erro do monegasco, fez um pião na sua última volta da Q3, impediu que o Campeão do Mundo pudesse conquistar a pole-position, ao ter de levantar o pé devido às bandeiras amarelas provocadas pelo seu rival na luta pelo título.

Acabaria por ser Sainz a assegurar a melhor posição da grelha de partida, seguido pelo holandês, o monegasco, Sérgio Pérez e Lewis Hamilton, que gozava de um Mercedes W13 mais competitivo com o novo pacote técnico da equipa de Brackley.

Com apenas duas sessões de treinos-livres realizadas com a pista seca, havia dúvidas quanto à estratégia a seguir, se uma ou duas paragens, mas quando os carros se preparavam para realizar a volta de apresentação verificava-se um pensamento dominante entre as equipas da frente, com os pneus médios a serem predominantes entre os cinco primeiros, o único que fugia à regra era Verstappen que apostava nos macios para tentar suplantar Sainz e aproveitar o potencial do seu monolugar.

A estratégia de Verstappen deu resultados e no arranque surpreendeu o espanhol e assumiu o comando.

No entanto, a corrida seria imediatamente interrompida, devido ao acidente protagonizado por Guanyu Zhou, Pierre Gasly e George Russell, que atirou o chinês contra as redes de proteção da Curva 1, depois de ter ido de ‘rojo’ pela escapatória com o seu Alfa Romeo capotado.

Num incidente separado, mas provocado pela confusão, Sebastian Vettel deu um ligeiro toque em Alex Albon que entrava em pião, embatendo violentamente no muro das boxes.

Com carros e detritos espalhados pela pista, a corrida tinha de ser interrompida com bandeiras vermelhas, até porque Zhou estava preso no seu monolugar, que se tinha imobilizado entre o muro de pneus e as redes de proteção da área dos espectadores.

Tudo recomeçaria com uma grelha de partida formada através da classificação da qualificação, mas sem os pilotos que ficaram sem carros para competir – Zhou, Russell e Albon. Mas desta vez Verstappen apostava também em médios.

Sainz não se deixou surpreender pelo Campeão do Mundo e apertou-o contra o muro do lado direito e ao ‘apex’ da Curva 1, sendo o piloto da Red Bull obrigado a levantar o pé.

Mais atrás, Leclerc e Pérez também se digladiavam, danificando as respectivas asas dianteiras, mantendo-se o monegasco no terceiro posto. O mexicano, pouco depois tinha de passar pelas boxes para substituir o seu apêndice aerodinâmico anterior, mas o piloto da Ferrari conseguia prosseguir apesar de não ter a deriva lateral direita da asa dianteira do seu F1-75.

Como se suspeitava, Verstappen era mais rápido que Sainz e entrou na zona de DRS do espanhol que, contudo, conseguia manter-se no comando, apesar da pressão.

Porém, em Becketts, na tentativa de perder o mínimo de tempo possível para se poder defender do ataque do holandês em Hangar Straight, o carro fugiu de traseira ao espanhol e Campeão do Mundo não se fez de rogado, assumindo do comando, estavam cumpridas onze voltas.

Porém, a expectativa de poder vencer em Inglaterra gorou-se pouco depois. Destroços do Alpha Tauri de Gasly danificaram o fundo plano do Red Bull número 1, tendo este perdido cerca de um terço do apoio aerodinâmico, quando estavam decorridas treze voltas.

O comportamento do RB18 ficou de tal forma afectado, que Verstappen pensava que tinha um furo, rumando imediatamente às boxes.

Com um carro difícil de domar, o holandês terminaria no sétimo posto, pressionado por Mick Schumacher, que tentou ultrapassá-lo na última curva da corrida e, com o oitavo lugar, conquistou os seus primeiros pontos na Fórmula 1.

Com os problemas de Verstappen e Pérez fora da equação, parecia que tudo estava a correr de feição à Ferrari, mas havia ainda uma ameaça aos desejos dos homens da Scuderia – Lewis Hamilton.

Depois do seu erro, Sainz não conseguiu encontrar-se mais e, muito embora tivesse danos no seu carro, Leclerc era claramente mais rápido que o seu colega de equipa, rodando consistentemente na zona de DRS deste.

O monegasco pediu diversas vezes para a equipa trocar a ordem dos carros, uma vez que Hamilton estava a ganhar tempo a ambos, mas no “pitwall” da Ferrari parecia não haver quem agarrasse a situação e tomasse uma decisão.

Acabaram por chamar Sainz às boxes na vigésima volta na esperança de que a situação se resolvesse, porém, o espanhol não mostrava andamento com os pneus duros que montara, perdendo tempo para Hamilton e mantendo um andamento semelhante ao seu colega de equipa.

Logo, quando Leclerc parou, na vigésima quinta volta, o problema manteve-se, com este no escape do seu colega de equipa, e claramente mais rápido.

Com o inglês da Mercedes a manter um andamento semelhante ao de Sainz e este a condicionar a prestação do seu colega de equipa, os homens da formação de Brackley estenderam ao máximo o ‘stint’ do heptacampeão para que, na parte final da prova, estivesse com melhores pneus que os dois pilotos da Ferrari.

Os estrategas da Scuderia demoraram muito tempo a reagir, pedindo a Sainz que aumentasse o seu ritmo, sem sucesso, ao passo que Leclerc instava que trocassem a ordem dos carros.

Os homens da formação de Maranello arriscaram mesmo que Hamilton pudesse realizar a sua paragem, mantendo-se no comando, até que na trigésima volta, percebendo que o espanhol estava a condicionar Leclerc e a colocar uma vitória da equipa risco, ordenaram, finalmente, que Sainz cedesse o comando, ao que este assentiu.

O monegasco aumentou o ritmo e afastou-se do seu colega de equipa e uma paragem lenta da Mercedes, Hamilton perdeu um segundo, parecia ter salvo a Ferrari, mas ainda era preciso perceber se o tempo que Leclerc perdera atrás de Sainz seria crítico para suster a previsível recuperação do heptacampeão do mundo.

A pouco mais de seis segundos do monegasco, o andamento de Hamilton não tinha um impacto imediato na diferença para o líder, mas Sainz parecia ser uma presa fácil para o piloto da Mercedes, que lhe ganhava cerca de meio segundo por volta.

Porém, a corrida mudava completamente na trigésima nona volta e a Ferrari voltava a errar de forma evidente.

Esteban Ocon parava na antiga recta da meta com problemas na bomba de gasolina, o que obrigou à entrada do Safety-Car em pista.

A Ferrari tinha pouco mais de oito segundos para decidir se chamava Leclerc às boxes para montar pneus macios frescos para ter a performance máxima para as voltas finais da corrida.

Havia o risco de a Mercedes manter Hamilton em pista e assim ganhar posição em pista face ao monegasco, mas a diferença de performance entre os dois pneus – duros com mais seis voltas do inglês contra macios novos de Leclerc – dava garantias de que, num circuito que permite as ultrapassagens, o ataque ao inglês seria bem-sucedida.

A Ferrari poderia até chamar os seus dois pilotos às boxes e, caso Hamilton não parasse, ficavam em segundo e terceiro e ambos em vantagem face ao homem da Mercedes para a ponta final da corrida, defendendo-se ainda de Pérez, que com o Safety-Car passava a ser um factor.

Estranhamente, os estrategas da Scuderia deixavam em pista o piloto que lhe garante maiores condições para lutar pelo título em pista, chamando apenas Sainz, o que expunha o monegasco a todos aqueles que tinham parado para montar macios – e para além do espanhol, também o inglês e o mexicano aproveitaram a oportunidade que lhes fora concedida pelo Safety-Car.

Quando a prova recomeçou, a dez voltas do fim, Sainz rapidamente passou o seu colega de equipa, passando a este a defender-se estoicamente de Hamilton e Pérez, lutando com todas as suas forças, incluindo até uma ultrapassagem por fora ao inglês em Copse – onde no ano passado o heptacampeão e Verstappen bateram – mas os seus esforços foram infrutíferos, vendo-se batido pelos dois pilotos, que tinham pneus muito mais frescos e performantes.

Ainda assim, conseguiu manter Fernando Alonso e Lando Norris, que também aproveitaram a oportunidade do Safety-Car para montar borrachas macias, na sua traseira, terminando no quarto posto.

Sainz, num dia em que uma vez mais mostrou não estar ao nível do seu colega de equipa, beneficiou da melhor estratégia que lhe fora dada pela Ferrari para vencer pela primeira vez na Fórmula 1 seguido de Sérgio Pérez, que fez uma boa recuperação e aproveitou as oportunidades para subir ao pódio, e por Lewis Hamilton, que voltou a terminar em terceiro, à semelhança do que acontecera no Bahrein e no Canadá.

A Scuderia venceu, algo de que precisava de como pão para a boca, mas voltou a mostrar fragilidades estratégicas, protegendo o carro errado, o que custou a treze pontos a Leclerc – são muitos pontos e que, muito provavelmente, serão determinantes para o desfecho do Campeonato de Pilotos.

Charles Leclerc

O monegasco fez tudo para vencer o Grande Prémio da Grã-Bretanha – foi agressivo no arranque, mostrou andamento, mas uma vez mais foi desapontado pela sua equipa, que jogou mal estrategicamente, protegendo o carro errado e do piloto mais lento, que acabou por vencer.

A forma como Leclerc se defendeu dos ataques de Hamilton e Pérez, ultrapassando até o inglês por fora na dantesca Copse, demonstra a sua estirpe e que, se for apoiado pela sua equipa, está mais que pronto para lutar pelo título.

No entanto, a Ferrari tem de decidir o que quer fazer – se quer se vista com simpatia por todos por deixar os seus pilotos lutarem em pista ou se quer ganhar títulos. A Red Bull parece ter feito a sua escolha há muito tempo.

Safety-Car

Até ao aparecimento do Safety-Car espoletado pelo abandono de Ocon, Leclerc parecia estar no controlo das operações, muito embora Hamilton pudesse ser uma ameaça nas voltas finais. Porém, a entrada em pista do Aston Martin Vantage mudou completamente a corrida e a Ferrari jogou mal estrategicamente, defendendo o carro errado, o que permitiu a Sainz ficar em condições de vencer, ao passo que o seu colega de equipa, desamparado pela sua equipa, caiu para quarto.

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breno_mascarenhas2020_hotmail_com
2 anos atrás

Na matéria da Autosport lemos ao final: “Porém, a entrada em pista do Aston Martin Vantage mudou completamente a corrida e a Ferrari jogou mal estrategicamente, defendendo o carro errado, o que permitiu a Sainz ficar em condições de vencer, ao passo que o seu colega de equipa, desamparado pela sua equipa, caiu para quarto.”
Não entendi: querem dizer que o só o Leclerc tem o direito de vencer?


Pity
Pity
Reply to  breno_mascarenhas2020_hotmail_com
2 anos atrás

Não, mas se tivessem parado os dois, teriam tido, muito provavelmente, uma dobradinha, Mesmo que Leclerc terminasse em segundo, teria ganho mais seis pontos ao Verstappen. Mesmo em termos de campeonato de construtores, teriam ganho mais pontos à Red Bull.

breno_mascarenhas2020_hotmail_com
Reply to  Pity
2 anos atrás

Pelo que disse o Mattia Binotto, não daria para para os dois carros entrarem nos boxes ao mesmo tempo.
Parece que no momento da decisão de chamar os pilotos, Leclerc já tinha passado a entrada do box.

Pity
Pity
Reply to  breno_mascarenhas2020_hotmail_com
2 anos atrás

O que eu ouvi, foi que, a princípio, disseram ao Leclerc que as boxes estavam fechadas, o que não era verdade.
O que é certo, é que a Ferrari é perita em dar tiros nos pés.

GTONE
GTONE
2 anos atrás

A Ferrari tem sido um desastre em estratégia de corrida, está mais que visto. Mas continua a existir a quem quase tudo é permitido na defesa das suas posições, é mais que evidente. E é assim que se ganham campeonatos. A lei do dinheiro.

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