GP da Bélgica de F1: Felicidade e frustração no 2º Pelotão
O Grande Prémio da Bélgica foi marcante para duas equipas – a Renault assegurou o seu melhor resultado da temporada e a Ferrari passou por um fim-de-semana humilhante.
O majestoso circuito de Spa-Francorchamps é uma das pistas mais exigentes da temporada, uma vez que as suas longas rectas – os pilotos estão cerca de 70% da volta com o acelerador a fundo – exigem velocidade de ponta, mas o segundo sector demanda um carro com apoio aerodinâmico para poder enfrentar as inúmeras curvas de alta velocidade que o compõem.
Estas características levam a que as equipas tenham de optar entre um monolugar com pouco “downforce” e comprometer o segundo sector, ou carregar o carro e perder tempo nos primeiro e segundo sectores.
Claro que, quanto mais potente for a peça atrás das costas do piloto, mais apoio aerodinâmico é possível colocar no carro, o que nos leva aos desfechos diametralmente opostos da Renault e da Ferrari no passado fim-de-semana, com os carros do construtor francês a terminarem em quatro e quinto lugares, com vantagem para Daniel Ricciardo, e os monolugares italianos a cruzarem a linha de meta nas décima terceira e décima quarto posições, com Sebastian Vettel à frente do seu colega de equipa.
O desfecho destes resultados começaram a desenhar-se logo na sexta-feira com Daniel Ricciardo a assegurar o segundo lugar na segunda sessão de treinos-livres, ao passo que o melhor que a Ferrari conseguia era colocar Charles Leclerc no décimo quinto lugar da tabela de tempos e Sebastian Vettel no décimo sétimo, não conseguindo sequer aproximar-se dos tempos que a equipa tinha feito o ano passado na sessão equivalente do Grande Prémio da Bélgica.
As dificuldades da “Scuderia” eram evidentes – os problemas com a sua unidade de potência, que perdeu muitos cavalos durante o Inverno, obrigavam a equipa a tirar apoio aerodinâmico do SF1000, o que causava grandes dificuldades aos seus pilotos.
A formação de Maranello chegou mesmo a tentar uma configuração com o índice aerodinâmico de Monza, mas os resultados foram assustadores, revertendo para um pacote semelhante ao usado em Silverstone.
Como efeito secundário, o baixo apoio aerodinâmico dificultava a colocação dos pneus na temperatura correcta de funcionamento numa pista bastante fria – ao longo do fim-de-semana a temperatura do asfalto das Ardenas oscilaram entre os 22ºC, na primeira sessão de treinos-livres, e os 30ºC, na corrida – colocando Leclerc e Vettel no centro de uma tempestade perfeita.
A Renault, por seu lado, após um fim-de-semana em Espanha em que terminou fora dos pontos pela primeira vez esta temporada, muito embora tenha prometido muito nos treinos-livres, o circuito de Spa-Francorchamps assentava como uma luva no R.S.20, um monolugar com uma boa unidade de potência e com uma configuração aerodinâmica que prima pelo baixo arrasto, curiosamente uma filosofia adoptada o ano passado pela Ferrari.
Contudo, não é anormal verificarem-se alterações competitivas entre sexta-feira e sábado, depois de as equipas analisarem todos os dados reunidos nas duas primeiras sessões e de os introduzirem nas suas ferramentas de simulação – esta era a esperança da Ferrari e a preocupação da Renault.
Mas sábado chegou e tudo se manteve.
A Renault esteve na luta por um lugar na segunda linha, tendo Daniel Ricciardo assegurado o quarto lugar depois de ter chegado a ser uma ameaça para Max Verstappen e Valtteri Bottas, Esteban Ocon garantia o sexto posto da grelha de partida a pouco mais de um décimo de segundo de Alex Albon.
A Ferrari, por seu lado, vivia um pesadelo, tendo corrido o risco de sofrer a ignomínia de não conseguir passar da Q1. Charles Leclerc passou à Q2 ao bater Kimi Raikkonen por menos de um décimo de segundo, não indo além do décimo terceiro posto da qualificação seguido do seu colega de equipa.
Após a qualificação, a “Scuderia” tinha de viver com o facto de, no espaço de um ano, no circuito onde tinha garantido a primeira linha e a vitória em 2019, ter perdido 0,477s, quando todas as restantes equipas tinham evoluído, inclusivamente as que usam unidades de potência da Ferrari.
A corrida começou bem para a Renault, com Daniel Ricciardo a acossar Max Verstappen, mantendo, porém, o quarto lugar, ao passo que Esteban Ocon passava Alex Albon, ascendendo a quinto.
A Ferrari tinha também uma réstia de esperança, uma vez que Charles Leclerc arrancava bem e subia a oitavo – beneficiando dos problemas de escape de Carlos Sainz que não alinhou para a corrida – mas a partir daí a frustração passava a ser o sentimento dominante nas hostes transalpinas.
O monegasco rapidamente perdeu lugares, sem velocidade de ponta, era presa fácil para os seus perseguidores, submetendo-se a Pierre Gasly, Sérgio Pérez, Lando Norris e Daniel Kvyat em voltas quase sucessivas para figurar no décimo segundo lugar quando entrou nas boxes na décima passagem pela linha de meta.
Por seu lado, Sebastian Vettel ganhava uma posição, lançando-se para uma corrida anónima ao longo das quarenta e quatro voltas completadas.
A prova acabaria por ficar marcada pelo despiste de António Giovinazzi na saída de Fagnes na décima volta. O piloto da Alfa Romeo embateu na barreira de protecção, tendo uma roda do seu monolugar se soltado, que embateu na suspensão dianteira esquerda do Williams de George Russell. O jovem inglês seria uma vítima inocente da falha do italiano, abandonando no momento.
Com o Safety-Car a entrar em pista para recuperar os dois carros e limpar a pista, de todos os pilotos que ainda não tinham parado – todos excepto Leclerc, os dois homens da Haas e Kimi Raikkonen – apenas Sérgio Pérez e Pierre Gasly não aproveitaram a oportunidade para parar, tendo restantes assumido um longo segundo “stint”.
Para Ricciardo esse não foi um problema, conseguido rodar sempre dentro do “tempo de troca de pneus” da Verstappen a caminho de um quarto lugar, chegando a ser ameaçador para o holandês, que passava por dificuldades com os pneus duros da Pirelli.
Na última volta o australiano assinaria mesmo a melhor volta da corrida, terminando a 3,4 segundos do seu ex-colega de equipa, um resultado notável, uma vez que não foi fruto de circunstâncias favoráveis, antes do verdadeiro potencial do Renault R.S.20.
Esteban Ocon, que perdeu tempo atrás de Ricciardo durante a troca de pneus, o que o atirou para o escape de Albon, conseguiu suplantar o jovem piloto da Red Bull, confirmando a boa forma da equipa do construtor francês com um excelente quinto posto final.
Atrás do tailandês ficou Lando Norris, que deu um motivo de celebração à McLaren depois de perder um carro ainda antes do arranque, e Pierre Gasly que assinou uma boa prestação após uma segunda metade de prova ao ataque.
Os dois pilotos da Racing Point fecharam os dez primeiros, com vantagem para Lance Stroll, num fim-de-semana em que os homens da estrutura de Silverstone ficaram aquém das expectativas geradas pelo potencial do “Mercedes Cor de Rosa”.
Ora já se percebeu que nenhum dos pilotos da Ferrari conseguiram ver a bandeira de xadrez entre as posições dos pontos.
Vettel sofreu a infama de ser ver ultrapassado pelo Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, terminando no décimo terceiro lugar.
Leclerc, adoptou uma estratégia de duas paragens, tendo a sua segunda troca de pneus sido comprometida por ter sido necessário reabastecer o sistema pneumático de comando das válvulas da sua unidade de potência, terminando no encalço do seu colega de equipa.
Num fim-de-semana que foi um verdadeiro pesadelo, a Ferrari deixava Spa sem sequer ser a melhor equipa que usa os seus V6 turbohíbrido, vendo-se batida pela Alfa Romeo, o que só por si explica os problemas que reinam em Maranello.
Talvez seja melhor até que no próximo fim-de-semana, em Monza, o Grande Prémio de Itália esteja fechado ao público, tal será o embaraço que se prevê para a “Scuderia” num circuito em que a velocidade de ponta é de capital importância.
Já para a Renault o “Tempio della Velocità” poderá ser uma boa oportunidade para regressar aos pódios…