GP Brasil de F1: contrariedades não travaram Hamilton
Depois da pesada derrota no México, a Mercedes e Lewis Hamilton precisavam de reagir e o inglês venceu e diminuiu a sua desvantagem para Max Verstappen, mas precisou de ultrapassar inúmeros contratempos para cruzar a linha de meta em primeiro, para gáudio do público brasileiro.
Lewis Hamilton chegava a Interlagos a dezanove pontos do seu rival e se perdesse mais cinco no Brasil, deixava de depender apenas de si para assegurar o seu oitavo título mundial, uma vez que bastava a Verstappen terminar sempre sem segundo para conquistar o seu primeiro ceptro.
Era, portanto, determinante para as aspirações de Hamilton, ganhar pontos a Verstappen na ronda brasileira deste ano.
O Circuito José Carlos Pace poderia ser um terreno de grande disputa entre a Mercedes e a Red Bull, uma vez que o primeiro e terceiro setores favorecem o conceito do carro de Brackley, com menos arrasto, ao passo que o segundo assenta que nem uma luva nas características do monolugar de Milton Keynes, com mais apoio aerodinâmico.
Curiosamente, se juntarmos os tempos do primeiro e segundo setores, ficamos com um valor muito semelhante ao tempo que leva a fazer o segundo, aguardando-se, portanto, grande equilíbrio entre as duas equipas mais fortes da Fórmula 1 atual.
Mas as preocupações com as unidades de potência da Mercedes continuavam e Hamilton montava para o Grande Prémio do Brasil o seu quinto motor de combustão interna, o que lhe valia uma penalização de cinco lugares na grelha de partida para a corrida de domingo.
Mas a escolha de Interlagos para que a equipa tenha tomado esta decisão não foi inocente – na pista brasileira com a sua longa aceleração desde a penúltima curva até ao S de Senna favorece as ultrapassagens, assim como na recta oposta, o que poderia permitir a Hamilton recuperar e, no mínimo, limitar os danos da sua penalização.
Para além disso, um novo motor de combustão interna zero quilómetros Mercedes vale entre dois a três décimos de segundo face a uma já no meio da sua vida. A equipa de Brackley sabia que, mesmo com a penalização, Hamilton poderia discutir com Verstappen o triunfo no Grande Prémio de São Paulo.
Na qualificação, o heptacampeão mundial não deu qualquer possibilidade e foi o mais rápido, esmagando o holandês ao deixá-lo a 0,438s. Parecia que o inglês estava a caminhar para um triunfo retumbante no Brasil que lhe poderia permitir recuperar oito pontos face ao seu adversário, apesar da penalização.
Porém, logo após a qualificação a vida do inglês e da Mercedes começou a complicar-se.
A asa traseira do W12 número quarenta e quatro não estava dentro de regulamento, algo de que a Red Bull estava bastante ciente, tendo “levantado a lebre” à FIA, que, depois de inúmeras audições decidia desqualificar Hamilton, que teria de arrancar da última posição para a Qualificação Sprint.
Max Verstappen ficava na melhor posição da grelha de partida com Valtteri Bottas ao seu lado e Sérgio Pérez atrás de si e tudo parecia correr de feição ao holandês e à Red Bull.
No entanto, num campeonato em que muitos dos resultados são definidos por pormenores, a Mercedes tudo faria para tentar desfeitear os seus rivais.
Realizar toda a Qualificação Sprint com os frágeis pneus macios poderia ser possível, mas era um exercício marginal.
Ainda assim, a Mercedes arriscou e enviou Bottas para a grelha de partida com as borrachas mais brandas da Pirelli – o objectivo principal era tentar que o finlandês assumisse o comando e aproveitasse a superior velocidade de ponta do W12 para se manter na liderança e assim assegurar a pole-position para a corrida de domingo.
Esta estratégia, a dar resultado, teria duas vantagens – roubava um ponto a Verstappen, que em vez de somar três pontos na Qualificação Sprint reunia dois, e deixava-o mais próximo de Hamilton na grelha de partida, podendo ainda o finlandês gerir a prova de domingo de modo a privilegiar a aproximação do inglês ao holandês.
Bottas aproveitou a vantagem que lhe era conferida pelos pneus macios e no arranque para o exercício de sábado à tarde ascendeu ao comando, ao passo que Verstappen perdia terreno, vendo-se até suplantado por Carlos Sainz, que arrancara de sexto.
O piloto da Red Bull rapidamente se desenvencilhou do espanhol, colocando-se em perseguição ao finlandês.
Esperava-se que os macios do piloto da Mercedes pudessem perder eficácia face aos médios de Verstappen, mas este nunca conseguiu lançar um verdadeiro ataque à liderança e ficava-se pelo segundo posto, ao passo que Sérgio Pérez, também com um péssimo arranque, terminava em quarto atrás de Sainz.
O objectivo da Mercedes era alcançado, Bottas era o mais rápido na Qualificação Sprint, roubando um ponto a Verstappen e ficando em posição de controlar a corrida de domingo.
Por seu lado, Hamilton, com um ritmo impressionante, protagonizava ultrapassagem atrás de ultrapassagem e após a prova de vinte e quatro voltas subia de vigésimo a quinto, vendo bandeira de xadrez no escape de Pérez.
Era uma prestação notável que abria boas perspectivas ao inglês, apesar de ter de arrancar para o Grande Prémio do décimo lugar, dado ter montado o seu quinto motor de combustão interna.
Ainda assim, Hamilton tinha uma dura tarefa pela frente e logo na partida tudo pareceu ficar mais difícil, uma vez que Bottas arrancou mal e foi ultrapassado de imediato por Verstappen.
Na descida do Sol o finlandês saía muito largo e perdia mais uma posição para Pérez.
Hamilton por seu lado, na primeira volta era já sexto, mas com dois Red Bull no comando a possibilidade de vencer parecia distante.
Mas o heptacampeão continuava a ganhar posições, subindo a quarto quando estavam decorridas apenas três voltas, o que diz bem da determinação que evidenciava, ficando no encalço do seu colega de equipa, quando este já estava a mais de três segundos de Verstappen, que então era ainda um líder com algum conforto.
No entanto, na sexta volta, já depois de Bottas ter cedido o terceiro lugar ao seu colega de equipa, o Safety-Car entrou em pista devido a um toque entre Yuki Tsunoda e Lance Stroll no S do Senna que deixou a pista com bastantes detritos e a vantagem de Verstappen esfumava-se, ficando Hamilton em cima de Pérez.
No final da décima sétima volta o inglês lançou um feroz ataque ao mexicano na recta da merda, que respondeu na aceleração para a Descida do Lago, mantendo o segundo posto, mas seria Sol de pouca dura.
Na volta seguinte, Hamilton ultrapassava definitivamente Pérez e lançava-se na perseguição a Verstappen, que começava a sentir que poderia ver a vitória no Grande Prémio de São Paulo escorregar-lhe por entres as mãos.
Na vigésima sexta volta o inglês entrava nas boxes, aproveitando estar a menos de quatro segundos do líder para tentar o “undercut”.
Porém, em Interlagos esta estratégia não era verdadeiramente potente, e com a resposta de Verstappen na volta seguinte tudo ficou na mesma.
Bottas era o último a parar para realizar a sua primeira troca de pneus e com a sorte de um Safety-Car Virtual – para colher detritos de carbono deixados cair pelo Aston Martin de Lance Stroll – acabou por suplantar Sérgio Pérez, que parecia capaz de manter o finlandês atrás de si.
A certa altura parecia haver um pacto de não-agressão entre os dois candidatos ao título, rodando Hamilton a pouco mais de um segundo de Verstappen, mas sem realizar um ataque ao seu rival.
O holandês foi o primeiro a regressar às boxes, temendo o “undercut” do seu perseguidor, mas Hamilton não reagiu, mantendo-se mais três voltas em pista até realizar a sua segunda troca de pneus, estavam cumpridas quarenta e três.
O objectivo era que o heptacampeão mundial pudesse estar nas melhores condições possíveis para lançar um ataque à liderança na ponta final da corrida.
O piloto da Mercedes saiu das boxes a 2,1s de Verstappen, mas rapidamente começou a rodar na zona de DRS do holandês, que tinha o seu comando sobre forte perigo.
Na quadragésima oitava volta, o inglês desferiu o seu primeiro ataque, discutindo a travagem para a Descida do Lago por fora.
Contudo, Verstappen deixou a travagem para tão tarde, que saiu de pista, obrigando o inglês a fazer o mesmo para evitar o contacto entre ambos.
O piloto da Mercedes não desarmou e voltou à carga, até que na quinquagésima oitava volta o inglês voltou a tentar suplantar o líder, mas este voltou a defender-se, continuando no comando.
Na sexagésima volta, Hamilton saía melhor do S de Senna e na recta que dá acesso à Descida do Lago ultrapassou Verstappen sem que este se pudesse defender, lançando-se para o comando.
A partir de então dificilmente o inglês poderia perder a corrida, conquistando a sua sexta vitória da temporada, ao cruzar a linha de meta com mais de dez segundos de vantagem para Verstappen.
Bottas terminou no terceiro lugar, a treze segundos do seu colega de equipa, ao passo que Pérez viu a bandeira de xadrez em quarto, tendo feito uma paragem extra nas boxes para montar um jogo de pneus macios e roubar a volta mais rápida a Hamilton na última passagem pela meta.
Quando faltam três Grandes Prémios, os dois candidatos ao título estão separados por catorze pontos, estando tudo por decidir…
Apesar de todas as contrariedades que foi tendo ao longo do fim-de-semana, Hamilton conseguia alcançar o objectivo a que se propusera para a corrida brasileira – ganhar pontos a Verstappen e continuar a depender apenas de si para revalidar o título.
Lewis Hamilton
O inglês esteve imparável e, apesar de inúmeras contrariedades, conseguiu vencer, depois de ter sido desqualificado na qualificação. Hamilton teve a sorte do problema regulamentar na sua asa ter surgido num fim-de-semana com o novo formato, mas aproveitou a oportunidade e foi perfeito nas ultrapassagens que foi realizando ao logo dos dois dias, evitando contactos, mesmo quando foi alvo de uma defesa robusta da parte de Verstappen.
O inglês manteve intactas as suas possibilidades em revalidar o título.
Ultrapassagem de Hamilton a Verstappen
Desta feita, o momento não é nenhum golpe estratégico ou o arranque, é mesmo uma ultrapassagem que definiu o vencedor do Grande Prémio de São Paulo.
Hamilton já tinha tentado por duas vezes, mas Verstappen defendeu-se, numa situação com muita veemência, mas à terceira foi de vez. Não foi a ultrapassagem mais espetacular da carreira do inglês, mas foi determinante para o desfecho da corrida brasileira e poderá ser de capital importância para as contas do campeonato.