GP Bélgica F1: Apesar da decapitação, Alpine assegura resultados
A Alpine esteve debaixo dos holofotes durante o Grande Prémio da Bélgica em parte não por os melhores motivos, mas a equipa de corridas, a área da estrutura sob críticas do topo da marca, esteve no seu melhor, conquistando o seu segundo melhor resultado da temporada.
O evento de Spa-Francorchamps tinha quase o seu início com o anúncio da decapitação da estrutura de Enstone, que caía no paddock como uma bomba.
Menos de meia hora depois do final da primeira sessão de treinos-livres, a Alpine revelava que Otmar Szafnauer e Alan Permane deixariam a equipa de Fórmula 1, depois da realização do Grande Prémio da Bélgica.
No mesmo comunicado de imprensa, admitia que Pat Fry deixaria igualmente a estrutura de Enstone, sendo posteriormente confirmado na Williams
Para além de um timing do anúncio altamente discutível, ficava evidente que os responsáveis da Alpine e da Renault não confiavam já em Szafnauer e em Permane.
Se quisermos, podemos dividir uma estrutura de Fórmula 1 em dois grandes grupos – de um lado teríamos toda a vertente responsável por conceber e desenvolver um carro de Fórmula 1, do outro a responsável por o colocar em pista e extrair o seu potencial máximo consistentemente.
Com a saída de Szafnauer e Permane, a de Fry espoletada por ele próprio, fica claro, portanto, que os homens acima da Alpine F1 Team apontavam ao grupo responsável por colocar os carros em pista pela temporada decepcionante da equipa gaulesa, considerando ter um monolugar mais competitivo que aquilo que os resultados demonstram.
Convém recordar, que nas últimas semanas a Alpine esteve debaixo de grande cobertura mediática, dado os seus motores, fornecidos pela Renault, estarem uma vez mais muito aquém da performance dos seus rivais, cifrando-se a diferença, segundo a FIA; em cerca de 22cv de potência, uma desvantagem impressionante nos dias que correm.
No entanto, em Viry-Chatillon não houve qualquer alteração nas últimas semanas, para além Bruno Famin, que será o chefe de equipa interino da Alpine, ter sido promovido a vice-presidente de toda a operação.
Era neste cenário que a equipa da marca francesa abordava o Grande Prémio da Bélgica, num circuito que exige muito do motor e da equipa de corridas, sobretudo quando a instabilidade climatérica se faz sentir, como aconteceu este fim-de-semana, com a chuva a fazer a sua aparição desde o primeiro momento.
Para dificultar ainda mais tarefa dos homens liderados por Szafnauer e Permane, este era um evento Sprint, com pouquíssimo tempo para afinar correctamente os carros.
Talvez pela destabilização criado pelos anúncios, a qualificação para o Grande Prémio, realizada na sexta-feira, não correu da melhor forma a Esteban Ocon e a Pierre Gasly, tendo ambos sido eliminados na Q2.
Pior ainda, voltou a verificar-se um erro operacional por parte da Alpine, uma vez que, depois de ter batido no início do segundo sector, Ocon entrou nas boxes, mas não tinha uma asa dianteira pronta para montar, o que foi determinante para que não conseguisse realizar uma segunda volta lançada com pneus slicks e, dessa forma, avançar para a Q3.
Parecia que os homens da formação do construtor francês queriam justificar a saída de Szafnauer e Permane. Porém, este seria o último erro evidente por parte deles.
Na Sprint Shootout, a qualificação para a corrida sprint, mais uma vez iniciada com pista molhada, mas secando progressivamente até exigir o uso de slicks, Gasly conseguia realizar o sexto crono, ao passo que Ocon assegurava o nono.
Estes resultados deixavam antever bons resultados na prova de cem quilómetros, se a execução da equipa continuasse no mesmo nível que na sessão matinal.
Depois de um atraso devido a uma bátega de água que se abateu sobre Spa-Francorchamps, a corrida teve o seu início com Safety-Car, tendo todos os pilotos sido obrigados a montar pneus de chuva.
No entanto, era evidente que a pista estava a secar progressivamente, e os pneus intermédios eram já os mais adaptados às condições.
Esperava-se uma romaria massiva às boxes, o que exigia das equipas uma excelente troca de pneus e um timing certeiro na ordem para que o piloto arrancasse, devido ao tráfego no ‘pit-lane’.
Gasly, beneficiando do privilégio de ser o mais bem classificado da equipa, parou na volta em que o Safety-Car entrou nas boxes, tal como metade do pelotão, mas com uma boa execução do ‘pit-stop’ por parte da Alpine, o francês conseguiu ascender a terceiro.
Apesar de pressionado por Sergio Pérez, primeiro, e, depois, por Lewis Hamilton, o novo recruta da formação de Enstone assegurou o terceiro posto da Corrida Sprint do Grande Prémio da Bélgica, ao passo que Ocon, sem poder parar nas boxes no momento certo, terminava em nono, exactamente na posição onde tinha alinhando para a partida.
Se na prova de sábado foi Gasly o melhor representante da Alpine, no Grande Prémio, Ocon colocou-se em melhor posição para lutar pelos lugares pontuáveis, ao ganhar duas posições no arranque, subindo a décimo terceiro.
Depois de ter de subir duas mais duas posições, às custas deValtteri Bottas e Lando Norris, o francês ficou preso no pelotão, mas a equipa do construtor francês adoptou uma estratégia agressiva, com uma paragem logo na sexta volta.
Isso permitiu-lhe manter a sua posição, mas sem que Gasly e Lance Stroll tivessem ainda parado, o que lhe dava o nono posto virtual.
Até ao final da corrida, o francês conseguiria ainda ganhar uma posição a Yuki Tsunoda, o que lhe permitiu subir a oitavo no final.
O único ponto menos positivo da execução da Alpine foi ter permitido que Norris suplantasse Ocon na segunda parte da corrida.
O inglês da McLaren, com um carro afinado para chuva, aproveitou o aguaceiro que se fez sentir a partir da décima oitava volta e durante cerca de cinco volta para realizar um ‘undercut’ agressivo que o colocou no sétimo posto.
Ocon estava muito mais rápido que que Norris e mais uma volta e tê-lo-ia suplantado, mas acabou no oitavo posto a um segundo do seu rival da McLaren.
No entanto, num fim-de-semana muito difícil e em que era muito fácil cometer um erro estratégico ou de execução e numa pista em que o motor tem bastante importância, a Alpine esteve quase irrepreensível, mostrando que a decisão dos executivos da Renault talvez não tenha sido a mais acertada ao despedir Szafnauer e Permane, falhando, provavelmente, aárea em que a estrutura francesa precisa de intervenção.