GP Áustria F1: Ferrari vence o Segundo Pelotão
Quem esperaria que a Ferrari estaria embrenhada na luta pelo Segundo Pelotão? Nem os homens de Maranello, mas foi isso que se viu no Grande Prémio da Áustria e só uma performance brilhante de Charles Leclerc garantiu que se impusesse atrás dos Mercedes…
Desde os testes de Inverno que existiam dúvidas quanto à performance do SF1000, queixando-se os pilotos de subviragem e de falta de velocidade de ponta. Segundo a equipa, estes problemas devem-se a problemas de correlação entre as ferramentas de simulação da Scuderia a realidade, o que criou um monolugar com um elevado arrasto e sem o apoio aerodinâmico que permita a Leclerc e Sebastian Vettel baterem-se de igual para igual com os pilotos da Mercedes e da Red Bull.
Os treinos-livres confirmaram as dificuldades, ainda que não tenham evidenciada a dimensão da tragédia de Maranello, mas no sábado a verdade nua e crua foi bem patente na qualificação – o piloto alemão nem sequer passou à Q3, sem que nada de estranho acontecesse, ao passo que o monegasco arrancou a ferros o sétimo posto, não tendo argumentos para um McLaren (Lando Norris) e para um Racing Point (Sérgio Pérez). E mesmo Daniel Ricciardo poderia ser uma ameaça para o piloto da Ferrari, caso não fosse prejudicado pelo despiste de Valtteri Bottas na Q3.
Até os homens de Maranello se mostraram incrédulos que o nível competitivo do seu carro, não esperando estar tão longe dos Mercedes, 0,984s num circuito em que a volta se completa em cerca de 63 segundo em qualificação.
A dimensão dos problemas da “Scuderia” são de tal ordem, que Leclerc perdeu 0,920s para o seu tempo da pole-position para o Grande Prémio da Áustria de 2019, grelha de partida onde, com o seu tempo deste ano, não iria além do quinto lugar.
Seguramente que a unidade de potência transalpina é um problema – tanto as performances da Haas como da Alfa Romeo, comprovam-no – mas com um ano de desenvolvimento a Ferrari apresentar um carro mais lento que o seu predecessor, algo de muito errado se passa no departamento técnico da Gestione Sportiva.
Após a debacle da qualificação, tanto Leclerc como Vettel, tinham esperança de que o SF1000 fosse mais competitivo na corrida, mas dificilmente algum deles sonharia com um pódio.
E nem o arranque dava maiores esperanças aos pilotos da Ferrari, com Leclerc a manter o sétimo posto, atrás de Sérgio Pérez, ao passo que Vettel suplantava Daniel Ricciardo e perseguia Lance Stroll.
Em 2019, seria uma questão de tempo até que ambos conseguissem suplantar os seus adversários, mas em 2020 a situação era bem diversa e a falta de velocidade de ponta do SF1000 impedia que qualquer um dos seus pilotos pudesse recuperar posições.
Apenas com os abandonos de Max Verstappen, problemas eléctricos na unidade de potência Honda do seu Red Bull, na décima primeira volta, e de Lance Stroll, problemas no V6 turbohíbrido Mercedes do seu Racing Point, os pilotos da Ferrari conseguiram subir na classificação.
As questões estratégicas ficaram anuladas com a situação de Safety-Car provocada pelo despiste de Kevin Magnussen – ficou sem travões no seu Haas – uma vez que todos os pilotos entraram nas boxes para a única troca de pneus prevista, colocando praticamente todos em plano de igualdade até ao final da corrida.
Então, Leclerc estava no sexto lugar, tendo à sua frente Lando Norris, Sérgio Pérez, e atrás de si Carlos Sainz e Sebastian Vettel, mas enquanto o monegasco tentava manter-se em contacto com os seus adversários, o alemão entrava mesmo em contacto com o piloto que o substituirá em 2021 na Ferrari, entrando em pião, o que o relegou para o penúltimo posto.
Entretanto, no cabeça do “Segundo Pelotão”, Pérez suplantava Norris em pista, mas Leclerc não mostrava andamento para acompanhar os dois e na quinquagésima volta estava já a quatro segundos do inglês da McLaren e mais de oito do mexicano da Racing Point – com os mesmos pneus, duros, Leclerc simplesmente não conseguia acompanhar os carros que tinha à sua frente…
Mas na volta anterior, Russell parara em pista com problemas na unidade de potência da Mercedes do seu Williams, obrigando a nova entrada em pista do Safety-Car, tendo a Ferrari visto uma oportunidade para arriscar e conseguir algo mais que um deprimente sexto lugar.
Leclerc e Vettel entraram nas boxes para montar médios novos, tal como Norris, ao passo que Pérez se mantinha em pista.
Na ponta final da corrida, os Ferrari teriam pneus mais performantes que os carros ao seu redor, excepto o McLaren de Norris, mas era ainda necessário levar o carro até à meta e ganhar o máximo de posições possível.
A ofensiva de Maranello, assim como a de Norris, foi atrasada pelo despiste de Kimi Raikkonen, que perdeu a roda dianteira/direita na última curva no recomeço da prova, obrigando a que o Safety-Car voltasse à pista, onde permaneceu até à sexagésima volta, deixando apenas onze voltas de ataque.
Leclerc que manteve a sua posição, apesar da sua passagem pelas boxes, e rapidamente se mostrou ameaçador para Norris, quando foram mostradas as bandeiras verdes, suplantando o piloto da McLaren, estavam cumpridas sessenta e quatro voltas.
Por seu lado, Vettel era o décimo primeiro classificado, tendo beneficiado do abandono de Raikkonen, mas depois de entrar nos pontos graças ao pião de Alex Albon, via-se ultrapassado por Antonio Giovinazzi, em Alfa Romeo.
Leclerc, com determinação, na sexagésima sexta volta não dava qualquer hipótese a Sérgio Pérez e ascendeu ao terceiro lugar, beneficiando dos problemas do tailandês da Red Bull para subir ao pódio, dado que, em performance não tinha qualquer possibilidade de se bater com ele.
Quando Lewis Hamilton foi penalizado com cinco lugares devido à sua participação no pião de Albon, o segundo lugar ficou ao alcance de Lelcerc, que o agarrou com as duas mãos, conquistando um resultado que, no início da corrida parecia impossível.
Por seu turno, Vettel, teve uma ponta final de prova sem qualquer brilho, ascendendo aos pontos com os problemas de Daniil Kvyat, que furou a quatro voltas da bandeira de chegada, cruzando a linha de meta no décimo lugar a quase quatro segundos de Giovinazzi.
A ponta final da corrida ficou ainda marcada pela excelente prestação de Lando Norris, que ultrapassou Sérgio Pérez em pista para subir a quarto, ascendendo ao terceiro lugar quando Hamilton foi penalizado. Contudo, o seu primeiro pódio foi conquistado, dado que o jovem teve de realizar a volta mais rápida da corrida na última volta para bater o hexacampeão mundial, sendo um prémio inteiramente merecido para o jovem da McLaren.
Carlos Sainz secundou bem o seu colega de equipa com o quinto posto, à frente de Pérez, que sofreu uma penalização de cinco segundos por ter ultrapassado a velocidade máxima definida para a via das boxes.
Também em alta esteve Pierre Gasly que aproveitou bem a oportunidade para garantir o sétimo lugar, tendo repelido todas as investidas de Esteban Ocon, que no seu regresso à Fórmula 1 ofereceu à Renault a oitava posição.