GP Austrália F1: Vitória de Charles Leclerc de fio a pavio
Charles Leclerc venceu o GP da Austrália numa exibição imaculada. O piloto da Ferrari não conheceu outra posição que não fosse a liderança, aguentou os ataques de Max Verstappen, os recomeços após Safety Car e permaneceu sempre no comando das operações. Verstappen foi novamente vítima da falta de fiabilidade da sua unidade motriz e terminou a corrida mais cedo, quando tinha o segundo lugar garantido. Quem aproveitou foi Sérgio Pérez que conseguiu um saboroso segundo posto, à frente de George Russell que conquistou o primeiro pódio pela Mercedes.
Com o seu segundo triunfo em três corridas, e com o abandono de Max Verstappen, Charles Leclerc dilata fortemente o seu avanço no campeonato, fruto de um Grand Slam, já que conseguiu a pole, vitória e volta mais rápida da corrida. Tem agora 71 pontos, 34 pontos de avanço para George Russell, que alcança o seu primeiro pódio com a Mercedes, o que poderá não ter agradado a Lewis Hamilton que teve de se contentar com o quarto lugar, fruto da entrada do Safety Car no momento errado. A McLaren conseguiu um excelente resultado, e mostrou que os problemas que sofreu nas primeira corridas começaram a ser resolvidos. Esteban Ocon conseguiu terminar nos pontos, com uma corrida eficiente mas discreta, ao contrário do seu colega Fernando Alonso cuja estratégia não o beneficiou. Valtteri Bottas e Pierre Gasly deram espetáculo e terminaram nos pontos e Alex Albon conquistou o primeiro ponto do ano para a Williams, numa fantástica prova do tailandês que geriu muito bem os pneus e uma vez que se instalou no top 10 conseguiu fazer sempre bons tempos.
A Ferrari e Charles Leclerc deram um passo importante na luta pelo título enquanto a Red Bull e Max Verstappen marcaram passo, com a fiabilidade a dar dores de cabeça à estrutura de Milton Keynes. A Mercedes conseguiu uma excelente operação e, apesar de estar ainda não estar competitiva, conseguiu muitos pontos e mantém-se ainda na luta. As lutas no segundo pelotão foram animadas e renhidas, mas a McLaren ficou claramente por cima, enquanto a Alpine desperdiçou o que podia ter sido um grande fim de semana. Alfa Romeo e Alpha Tauri lutaram, taco a taco, Haas perdeu gás e Aston Martin teve um fim de semana negro.
Mais de 420 mil pessoas acorreram a Albert Park, em Melbourne, para o maior evento desportivo da Austrália e um dos maiores fins de semana da F1, superando os números de Austin no ano passado. A ausência prolongada da F1, a nova dinâmica do desporto e as mudanças no traçado motivaram ainda mais interesse do que o habitual. Melbourne não costumava dar corridas muito entusiasmantes mas todos tinham esperança que as mudanças feitas no traçado australiano mudassem isso e permitissem ultrapassagens.
A temperatura da pista chegava quase aos 40 graus, o que poderia ajudar na gestão dos pneus. Dos vinte pilotos, apenas Carlos Sainz, Fernando Alonso, Kevin Magnussen, Sebastian Vettel, Lance Stroll e Alex Albon começavam com os pneus duros.
O filme da corrida
Na largada, Charles Leclerc arrancou bem e manteve a liderança, na frente de Max Verstappen. Lewis Hamilton conseguiu ganhar duas posições e instalou-se no terceiro lugar, à frente de Sergio Pérez. George Russell também ganhou uma posição, ficando à frente dos dois McLaren, com Lando Norris a perder duas posições e a ficar sexto, à frente de Daniel Ricciardo. Mas quem perdeu mais lugares foi Carlos Sainz que caiu para 14º lugar, com os pneus duros a revelarem serem uma má opção para esta largada. Pierre Gasly também lucrou, subindo para o nono lugar. Mas a tarde de Sainz, que tinha começando mal, piorou drasticamente, perdendo o controlo do carro na curva 9, tendo exagerado na travagem. Perdeu o controlo do seu monolugar, que foi acabar na caixa de gravilha, onde ficou preso. A direção de corrida acionou o Virtual Safety Car (VSC), com o espanhol a tornar-se a primeira desistência do dia. Mas o Safety Car acabou por entrar para facilitar a remoção do carro italiano da pista.
Lance Stroll foi para as boxes e calçou os pneus médios, largando os duros, mas foi o único a visitar as boxes nesta fase. Na volta seguinte, o canadiano entrou nas boxes para voltar a colocar os pneus duros.
No recomeço da prova, Verstappen não pôde usar a estratégia que normalmente usava e com isso o Ferrari de Leclerc conseguiu manter-se na frente da corrida, quando as bandeiras verdes foram novamente mostradas na pista australiana. Verstappen conseguia manter-se perto de Leclerc, com o Ferrari a sofrer de mais oscilações, o que poderia complicar a tarefa ao piloto monegasco. Atrás, Pérez começava a pressionar Hamilton. Russell mantinha-se na frente dos dois McLaren que não pareciam ser uma ameaça premente nesta fase.
Na volta 10, Pérez tratou de passar Hamilton para tentar juntar-se ao seu colega de equipa. Hamilton não teve argumentos para segurar o mexicano que, depois de passar o Mercedes, depressa se afastou do #44. Atrás desta luta, agora terminada, Sebastian Vettel teve uma pequena saída de pista na curva 11, que o atirou para o fundo da tabela, numa altura em que era 16º.
Leclerc conseguiu sacudir a pressão de Verstappen e afastou-se do #1, com a distância entre ambos a ser de 3 seg. na volta 12. O piloto neerlandês queixava-se de graining, o que poderia comprometer a estratégia da equipa. Ao mesmo tempo que Verstappen queimava uma travagem na penúltima curva e Leclerc se afastava, os McLaren iam-se aproximando cada vez mais dos Mercedes. Um pouco mais atrás, Fernando Alonso começava a aproximar-se de Gasly, na luta pelo nono posto. Também Yuki Tsunoda tinha de se defender de Valtteri Bottas, na luta pelo 11º posto, uma manobra que foi concluída um par de voltas depois, com Kevin Magnussen a querer aproveitar também as sobras. A impaciência de Magnussen ia custando caro, com uma travagem mal calculada na mesma zona em que Sainz errou, conseguindo evitar a caixa de gravilha.
Na volta 14 começavam as primeiras trocas de pneus (excluíndo Stroll que já tinha tratado disso) com Nicholas Latifi e Mick Schumacher a entrarem para as boxes. Esteban Ocon também fez o mesmo na volta 18, assim como Vettel uma volta depois (todos a trocarem pneus médios por pneus duros). Foi também na volta 19 que a Red Bull mandou entrar Verstappen para colocar os pneus duros, no que seria a sua única paragem do dia, acabando na frente da luta Gasly vs Alonso, que sorriu a Alonso, com o espanhol a instalar-se na oitava posição.
Com Leclerc sozinho na frente, o foco voltou-se para a luta Pérez vs Hamilton. O britânico conseguiu afastar-se de Russell e dos McLaren, aproximando-se do Red Bull, com um ritmo interessante, aproveitando as dificuldades de Pérez nesta fase, que entrou na volta 21 para colocar os pneus duros. Também Lando Norris entrou na mesma altura para as boxes para colocar os pneus duros, com o seu colega de equipa Ricciardo a fazer o mesmo na volta seguinte. Leclerc estava na frente com mais de 18 segundos de vantagem para o segundo classificado, que era Hamilton. A saída das boxes de Ricciardo foi animada, com Alex Albon e Lance Stroll em luta com o piloto australiano a conseguir manter o lugar. Na volta 23, Leclerc entrou para a sua troca de pneus, que decorreu na perfeição e Lewis Hamilton entrou pouco depois para trocar de pneus. Hamilton ficou na frente de Pérez, mas o mexicano conseguiu passar o #44, segundos antes de Sebastian Vettel aparecer parado em pista com problemas no seu Aston Martin, depois de perder o controlo do seu carro na curva 4. Quem lucrou foi George Russell que entrou para as boxes com o Safety Car em pista e aproveitou para confirmar a sua candidatura a um lugar no pódio.
Na volta 25, o SC estava em pista pela segunda vez e a ordem era Leclerc, Verstappen, Russell, Alonso (ainda sem ter ido às boxes, com pneus duros), Pérez, Hamilton, Magnussen (sem ter ido às boxes, com pneus duros), Norris, Ricciardo e Albon (sem ter ido às boxes, com pneus duros). Por esta altura todos os pilotos tinham os pneus duros colocados e as estratégias estavam definidas, menos para os três pilotos referidos que, começando com as borrachas mais duras, tinham de esperar mais para trocar de pneus.
Ainda sob SC, Schumacher apanhou um grande susto, quase batendo na traseira de Tsunoda.
No recomeço, Verstappen conseguiu pressionar Leclerc mas o piloto Ferrari conseguiu manter o lugar, com Russell por perto. No entanto, Russell ficava sob pressão de Alonso, com Pérez e Hamilton a espreitar qualquer oportunidade. Mais atrás, Lando Norris tentava passar Magnussen, mas o dinamarquês fechou a porta ao McLaren. Russell sacudiu a pressão de Alonso, que agora estava focado nos seus espelhos, com Pérez cada vez mais perto do Alpine #14, manobra que foi concluída na volta 30, numa altura em que Leclerc tinha quase 3 segundos de vantagem para Verstappen. Depois do ataque inicial, Verstappen deixou escapar o seu adversário.
Na volta 31, Hamilton passou Alonso sem dificuldades, com o espanhol agora em sexto. Na frente, Pérez começava a pressionar Russell que tinha de estar atento ao que o mexicano ia fazendo nos seus espelhos. A luta mais intensa era entre Magnussen e os McLaren, com Norris a despachar o Haas na volta 34 e Ricciardo a querer imitar o seu colega, sem sucesso, visto que Magnussen conseguiu defender-se melhor do australiano. Ricciardo conseguiu passar o Haas na volta seguinte, subindo ao oitavo lugar.
A pressão de Pérez era cada vez maior e a equipa aconselhou Russell a deixar ir o mexicano, se a gestão dos pneus ficasse comprometida. Pérez subiu ao terceiro lugar e Russell teve de se contentar com o quarto.
As lutas do 10º ao 16º eram intensas, mas a corrida ficou ainda mais intensa na volta 39, altura em que Max Verstappen teve de encostar com problemas na unidade motriz do seu Red Bull, na segunda desistência do ano. Era o fim do esforço de Verstappen nesta corrida. O VSC foi acionado e os pilotos que ainda não tinham parado (Alonso, Magnussen) aproveitaram para parar.
A ordem na volta 40, altura em que as bandeiras verdes foram novamente mostradas era Leclerc, com 11 segundos de vantagem sobre Pérez, Russell, Hamilton, Norris, Ricciardo, Albon, Ocon, Stroll e Gasly, com os dois últimos a passarem por Bottas no recomeço. Mas a tarde de Stroll piorou drasticamente com uma penalização de cinco segundos por condução errática nas retas (para defender a sua posição de Valtteri Bottas).
A luta pelo oitavo lugar aquecia, com Stroll a defender-se de Gasly e Bottas, com Alonso a aproximar-se deste grupo, numa espetacular troca de argumentos. Na frente Leclerc não tinha metade do divertimento e estava agora com 14 segundos de vantagem sobre Pérez, que também já tinha cinco segundos de vantagem sobre Russell que começava a ser pressionado por Hamilton. Os McLaren pareciam ter o quinto e sexto lugar garantidos e Albon mantinha-se no top 10 com uma excelente exibição (apesar de não ter parado ainda, continuava a fazer tempos competitivos).
Pérez ainda apanhou um susto com uma pequena passagem pela relva da penúltima curva, mas nada que comprometesse a posição do #11. Stroll não aguentou o lugar e viu Gasly e Bottas passarem por si. Para Alonso, a corrida ia piorando com os pneus médios a cederem perto do fim e o espanhol a perder ritmo. Alonso acabou por entrar novamente nas boxes para mais um jogo de pneus médios.
Gasly apanhou um susto semelhante ao de Pérez, mas no caso do francês custou-lhe o nono lugar, com Bottas a aproveitar a falha. Quem continuava a fazer uma excelente exibição era Albon, que com os mesmos pneus com que começou mantinha os tempos competitivos. Albon teve de parar, mas foi uma boa amostra do que a Williams pode fazer.
A bandeira de xadrez foi finalmente mostrada e Leclerc confirmou uma espetacular vitória (com a volta mais rápida), à frente de Pérez, com Russell a completar o top 3. Hamilton ficou em quarto lugar, seguido de Norris, Ricciardo, Ocon, Bottas, Gasly e Albon, que conseguiu um ponto depois da sua grande prestação.
Destaques
Charles Leclerc fez uma das suas melhores exibições pela Ferrari. Barba, unhas e cabelo como se diz na gíria, com pole, vitória e volta mais rápida. Leclerc aguentou a pressão de Verstappen e nunca perdeu o sangue frio. Leclerc não cometeu um erro, numa pista que não costuma sorrir ao monegasco. O líder do campeonato está forte, subiu o nível este ano e parece ter argumentos para se manter na frente durante muito tempo.
Sergio Pérez teve um prémio de consolação após a desilusão de Jidá. Pareceu sempre mais confortável no carro do que Verstappen e o seu lugar no pódio nunca pareceu em risco. O segundo lugar vem fruto da desistência de Verstappen, mas não deixa de ser merecido. Verstappen não teve um fim de semana fácil e o carro nunca pareceu estar como gostava. Mas isso nunca o impediu de ser competitivo e pressionar Leclerc. Estas desistências poderão custar caro no final da época a Verstappen e à Red Bull, que tem um carro competitivo, mas pouco fiável.
George Russell subiu ao pódio pela segunda vez, primeira pela Mercedes. Beneficiou do Safety Car para passar Lewis Hamilton, que parecia estar a fazer uma gestão um pouco melhor da corrida. Mas Russell não tremeu, soube manter a cabeça fria e deixar ir Pérez, sem argumentos para o Red Bull, e conquistou um merecido terceiro posto, à frente de Hamilton que ficou novamente a perder com uma situação de Safety car. Hamilton fez uma boa corrida, mas a sorte não esteve com ele.
Quem surpreendeu foi a McLaren. Se há poucas semanas se falava em crise, a equipa de Woking deu um sinal de recuperação. Norris e Ricciardo estiveram muito bem, Norris ligeiramente melhor que Ricciardo, e conseguiram um quinto e sexto lugar, primeira vez este ano que os dois carros terminam nos pontos. Boa recuperação da McLaren, que dá sinais de reagir. No entanto, esta melhoria deve-se mais às caraterística da pista do que a mudanças no carro. Talvez seja prematuro falar em melhorias definitivas, mas é um sinal encorajador.
Ocon fez uma boa corrida, algo discreta, mas o suficiente para marcar pontos, ele que teve problemas com o sobreaquecimento do seu carro. Alonso parecia lançado para um excelente resultado, mas a troca para os pneus médios estragou a corrida do espanhol, num fim de semana sem sorte. Havia ritmo para um top 5, mas as borrachas intermédias danificaram-se muito rapidamente no segundo stint e Alonso não pôde fazer o ataque final.
Valtteri Bottas fez uma corrida positiva, mas ia ficando a perder com um recomeço após SC em que estava a dormir e viu Stroll e Gasly passarem para a sua frente. Gasly voltou a dar pontos a Alpha Tauri numa boa prova.
Um dos grandes destaques é Alex Albon. O tailandês fez uma grande prova, aguentou os pneus duros durante praticamente toda a corrida e rodou sempre no top 10 com tempos competitivos. Acabou no décimo lugar e provou à equipa que, apesar de ter argumentos diferentes, pode fazer o mesmo trabalho que Russell fez no ano passado. Williams terminou nos pontos, o que parecia improvável. Tudo graças ao talento de Albon.
Destaques pela negativa para Latifi, que ficou a milhas do que o seu colega de equipa fez, Haas, que desiludiu neste fim de semana, sem o ritmo das duas primeiras corridas. Sainz também tem de ser destacado pelo azar que teve na qualificação que o colocou numa posição difícil, que promoveu o erro no começo da prova. Mas o grande destaque negativo vai para a Aston Martin, num fim de semana terrível. Vettel teve provavelmente o pior fim de semana da sua carreira, Stroll tentou compensar e esteve na luta pelos pontos mas uma penalização (bem aplicada) atirou-o para o 12º lugar, depois de uma corrida com bons apontamentos. Um começo de ano penoso para a equipa sediada em Silverstone. Também Carlos Sainz teve um fim de semana recheado de azares e o erro no começo da corrida custou-lhe muito caro.
As mudanças na pista de Melbourne revelaram-se um sucesso e, em conjugação com os novos monolugares, deram-nos uma corrida entretida e com muitas lutas. A F1 2022 continua a entusiasmar.
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Brilhante Charles Leclerc! Nas 3 corridas esteve imperial e não fossem os safety cars tinha neste momento 3 vitórias. Não é só carro e para o comprovar basta olhar para as prestações do Sainz. Rápido, inteligente e sereno a defender e a atacar, sempre de forma leal. Está a provar que não é preciso ser mau carácter, suplicar por erros humanos, protestar e chorar para ganhar corridas. Percebemos agora a tentativa do Marko em destabilizar o monegasco após os testes pré-época dizendo que o Sainz estava a demonstrar que o Leclerc era um piloto mediano. Percebeu que ia ser o… Ler mais »
Subscrevo em absoluto!
Frenaaaaando? Frenaaaaando??? Onde estás?