GP Austrália F1: O Grand Slam do imparável Charles Leclerc
Charles Leclerc dominou o Grande Prémio da Austrália, beneficiando do abandono de Max Verstappen para disparar no comando do Campeonato de Pilotos, mas o segundo triunfo da temporada do piloto da Ferrari nunca esteve em dúvida.
O Grande Circo chegava a Melbourne depois de dois anos de ausência devido à COVID-19 e o traçado australiano apresentava-se com alterações substanciais para fomentar as oportunidades de ultrapassagem.
Estas modificações aproximaram as suas características das de Jeddah, havendo quem apontasse que a Red Bull poderia ter algum ascendente em Albert Park, como já tinha acontecido na prova saudita.
No entanto, a preparação da Ferrari para o fim-de-semana foi substancialmente diferente em Melbourne, não tendo visto nenhum dos seus pilotos bater nos treinos-livres, podendo ter uma ideia clara sobre qual o caminho a seguir no que diz respeito a afinações, ao contrário do que acontecera em Jeddah. Lá, despistes de Leclerc e Carlos Sainz obrigaram-na a assumir uma abordagem mais cautelosa, carregando o carro com apoio aerodinâmico para proteger os pneus, o que foi determinante para que Verstappen vencesse.
Desde o início das sessões de treinos-livres que se assistiu a um ligeiro ascendente da parte dos carros de Maranello – na terceira, foi Lando Norris o mais rápido, mas ficava claro que os pilotos da Scuderia não tinham ido até aos limites do F1-75.
Já a Red Bull sentia algumas dificuldades com o comportamento do RB18, não se mostrando Verstappen agradado com o carro que tinha, ao passo que os Mercedes continuavam longe e não seriam um factor na luta pelos lugares do pódio, em condições normais.
A qualificação mostrou que as indicações que foram sendo verificadas nos treinos-livres eram acertadas e Charles Leclerc esteve no controlo das operações quando verdadeiramente contava, na Q3, e conquistou a sua segunda pole-position da temporada.
O Campeão do Mundo assegurou um lugar na primeira linha, mas poderá ter beneficiado dos problemas de Carlos Sainz, que viu a sua primeira volta lançada na Q3 não contar para nada devido ao despiste de Fernando Alonso, que precipitou bandeiras vermelhas.
O espanhol da Ferrari teria ainda mais azar, uma vez que, depois da sessão ter sido retomada, quando tinha sobre si a pressão de ter de realizar um tempo, a equipa não conseguiu colocar o seu carro em funcionamento no momento certo, deixando-o com pouco tempo para preparar os pneus para a sua única volta lançada.
Sainz, com os pneus frios, cometia um erro que o deixava no nono posto da grelha de partida.
Verstappen poderia ainda ser ameaçado por Alonso, mas este, quando realizava um tempo que poderia ser muito próximo do do Campeão Mundial, viu o sistema hidráulico do A522 entrar em falência, enviando o espanhol para um despiste e para o décimo posto.
Verstappen via assim o seu segundo lugar assegurado, a quase três décimos de segundo de Leclerc, seguido de Sergio Pérez e de Lando Norris, que batia os dois Mercedes.
O monegasco arrancava para o Grande Prémio da Austrália como o principal favorito e mantinha a sua liderança, seguido de Verstappen, Lewis Hamilton, Pérez e George Russell.
Sainz, por seu turno, passava por um pesadelo desde os primeiros momentos da prova. O espanhol necessitava de uma troca de volante, mas o novo não estava com as afinações correctas, levando a que o sistema “anti-stall” entrasse em funcionamento no arranque. O piloto da Ferrari foi engolido pelo pelotão e, com pneus duros, ao tentar recuperar, na segunda volta, despistou-se, ficando atascado na gravilha.
A corrida do espanhol acabava pouco depois de começar, assistindo à performance impressionante do seu colega de equipa na restante tarde.
Depois da situação de Safety-Car para recuperar o Ferrari número cinquenta e cinco, rapidamente se percebeu que Leclerc tinha margem mais que suficiente para vencer.
Da sétima à décima volta, Verstappen ainda conseguiu acompanhar o líder, mas daí para a frente perdia muito, por diversas vezes mais de um segundo por volta, sendo evidente que o Ferrari era mais simpático para os pneus que o Red Bull.
O holandês entrava nas boxes na décima oitava volta, mas com 8,3s de vantagem no bolso, o monegasco não necessitava de responder antes da vigésima segunda volta, mantendo o comando.
A prova voltava a ser neutralizada na vigésima terceira volta, agora devido ao despiste de Sebastian Vettel, sendo retomada na vigésima sétima.
No recomeço, Leclerc subvirava na última curva, dando a ideia de que Verstappen poderia atacar, mas foi o único momento em que o Campeão do Mundo teve a ideia de poder lançar um ataque, que nunca foi concretizado.
Com os pneus duros não se assistiu a uma quebra de performance da parte do Red Bull do holandês, mas a distância foi aumentando progressivamente, chegando aos 7,2s na trigésima oitava volta.
Na seguinte, Verstappen abandonava com uma fuga de gasolina. Em três corridas, o Campeonato do Mundo ficava em branco em duas.
Depois de uma situação de Safety-Car Virtual para arrumar o carro do holandês, Leclerc caminhou triunfalmente para a sua segunda vitória da temporada, liderando todas as voltas e assinando a melhor volta, a que se juntava a pole-position do dia anterior – o primeiro Grand-Slam do líder do Campeonato de Pilotos na Fórmula 1.
Sérgio Pérez assegurou o segundo lugar a vinte segundos de Leclerc, tendo uma vantagem para os Mercedes bastante inferior ao tempo que o separou do vencedor.
A equipa de Brackley continua a ter muitos problemas com o W13, mas na Austrália concentrou-se na afinação de corrida, sacrificando a performance em qualificação. Ao longo da prova de Melbourne mostrou ter uma melhor gestão de pneus que a Red Bull, muito embora continue a não chegar.
George Russell conquistou o seu primeiro pódio com a Mercedes, tendo beneficiado do timing do segundo Safety-Car para suplantar Lewis Hamilton, que rodou à frente do seu colega de equipa até à sua paragem nas boxes, que ocorrera uma volta antes do despiste de Vettel.
O heptacampeão sofreu ainda problemas de sobreaquecimento no seu Mercedes no final da prova, o que condicionou a sua aproximação ao conterrâneo.
Com os resultados de Melbourne, Leclerc e a Ferrari dispararam na liderança dos respectivos campeonatos, sendo a surpresa a Mercedes, que tem Russell no segundo lugar, ainda que a trinta e quatro pontos, e está no segundo posto na competição de construtores, trinta e nove da Scuderia.
Motivos para a reflexão para a Red Bull que, apesar de ter um carro competitivo, muito embora o Ferrari pareça cada vez mais o melhor do pelotão, tem diversos problemas de fiabilidade que a impedem de concretizar o seu potencial.
FIGURA
Alex Albon
Depois de ter sido desqualificado (falta de combustível para análise) dificilmente o tailandês sonhava em chegar aos pontos.No entanto, com uma estratégia arrojada e boa capacidade de poupar os pneus, com que iniciou a corrida, colocou-se em contenção por um lugar no top 10, ao parar apenas na penúltima volta. Mostrou rapidez, capacidade de gestão e conquistou o seu primeiro ponto com a Williams.
MOMENTO
Qualificação
Até a Austrália, qualquer um dos vencedores teve de lutar com o seu adversário para garantir o primeiro lugar, mas esse não foi o caso em Melbourne.
Depois de conquistar a pole-position, Leclerc parecia destinado ao seu segundo triunfo da temporada e, na verdade, ao longo das 58 voltas, a sua liderança nunca foi questionada e o abandono de Verstappen apenas a reforçou.
84 o número de Grandes Prémios que Leclerc teve de esperar para alcançar o seu primeiro “Grand Slam” na F1.