GP Arábia Saudita de F1: O erro de grandes consequências de Verstappen
Max Verstappen tinha o seu primeiro ‘match-point’ da temporada no Grande Prémio da Arábia Saudita, mas um erro na qualificação deixou-o em desvantagem, perdendo a corrida para Lewis Hamilton, o que colocou os dois com os mesmos pontos, ficando a decisão do título deste ano para a última prova da temporada – em Abu Dhabi.
O circuito Jeddah, com as suas enormes áreas de aceleração, parecia uma pista talhada para os Mercedes, que com a sua configuração aerodinâmica e a superior unidade de potência de Brixworth em termos de potência pura, estariam mais à-vontade na estreia do traçado citadino mais rápido de sempre – em velocidade média perde apenas para Monza.
Nos treinos-livres de sexta-feira esse ascendente confirmou-se ainda que a forma como os pneus da Pirelli estavam a funcionar levantassem dúvidas, dado que a natureza da pista provocava o aquecimento assimétrico das borrachas, levantando problemas.
No sábado, a Red Bull, mostrou-se muito mais competitiva, com a facilidade do RB16B Honda em “ligar” mais rapidamente os pneumáticos, dado o monolugar de Milton Keynes conseguir colocar temperatura nas borrachas mais rapidamente e com a qualificação a ser disputada à noite, a vantagem parecia pender cada vez mais para o lado da equipa de bandeira austríaca.
Na Q3, Verstappen ditou inicialmente a sua lei, sendo o mais rápido na primeira ronda de voltas lançadas, deixando Valtteri Bottas a três décimos de segundo e Lewis Hamilton a quase quatro, mostrando que estava determinado em arrancar da pole-position.
No entanto, os pilotos da Mercedes melhoraram o suficiente para bater a sua marca inicial, obrigando-o a baixar o seu registo.
O holandês estava a ser verdadeiramente impressionante na sua derradeira volta lançada, roçando os limites e, não poucas a vezes os muros, passando no final do segundo sector com uma vantagem de mais de dois décimos de segundo para Hamilton.
Contudo, na travagem para a última curva, queimou ligeiramente a travagem, alargando a trajectória, e ao não querer levantar o pé, o carro fugiu-lhe de traseira quando colocou a potência no chão, embatendo com a roda traseira – direita nas barreiras de protecção.
Com a suspensão partida, parou de imediato, suspendendo definitivamente aquela que, a ser concluída sem aquele pequeno grande erro, seria seguramente uma das voltas do ano.
Hamilton ficava na “pole” com Bottas ao seu lado, ao passo que Verstappen não ia além de terceiro e com a preocupação de ter eventualmente danos na caixa de velocidades que o obrigassem a substituí-la e, assim, sofrer uma penalização de cinco lugares na grelha de partida, o que poderia ter consequências ainda mais negativas para as contas do título.
Dado o impacto, o ângulo e a intensidade, Verstappen teve a sorte de poder ocupar o seu lugar na partida para o primeiro Grande Prémio da Arábia Saudita da história, mas nas suas voltas a caminho da grelha a Red Bull informou-o que deveria ter cuidado na forma de usar a embraiagem, o que poderá ter sido determinante para os arranques que protagonizou.
Na verdade, nos primeiros momentos da corrida, o holandês teve mais que se preocupar com o que se passava atrás, que com aquilo que se passava à sua frente, mas conseguiu manter o terceiro posto no encalço de Hamilton e Bottas, que conservaram as suas posições relativas.
Os três primeiros rapidamente se afastaram de Charles Leclerc, o quarto classificado, com Sérgio Pérez no seu encalço, rodando juntos, prometendo as trocas de pneus ser um dos momentos decisivos da prova.
Mas a natureza do circuito saudita prometia, no mínimo, situações Safety-Cars e na oitava volta cumpriu, com Mick Schumacher a despistar-se na Curva 22, deixando o seu Haas bastante destruído, o que provocou a entrada imediata em pista do Aston Martin conduzido por Bernd Maylander.
Então, verificou-se a primeira divergência estratégica entre os Mercedes e Verstappen, com os dois carros de Brackley a entrarem nas boxes para montar pneus duros, que em circunstâncias normais os levariam até ao final da corrida de cinquenta voltas, ao passo que o holandês se manteve em pista, preferindo ganhar posição em pista e esperar uma nova situação de Safety-Car ou mesmo o aparecimento de bandeiras vermelhas, o que lhe permitiria trocar de pneus com a corrida neutralizada.
A sorte estava do lado do líder do Campeonato de Pilotos, dado que uma ruptura numa das barreiras de protecção de “tecpro” obrigou ao aparecimento de bandeiras vermelhas, o que lhe permitia trocar os pneus e manter o comando.
Tudo parecia estar a correr bem a Verstappen, uma vez que tinha ritmo para os Mercedes e estava agora no comando da corrida.
Porém, seria necessário realizar um novo arranque e as questões com a embraiagem poderiam interferir novamente nos anseios do holandês. Uma vez mais, o piloto da Red Bull não arrancou bem e viu-se suplantado por Hamilton nos primeiros metros.
Verstappen, como é comum nele, não cedeu e deixou a travagem para lá do último momento, passando pela escapatória e regressando à pista à frente do inglês, que teve de levantar o pé para não bater no Red Bull, o que permitiu que Esteban Ocon passasse para segundo.
A corrida, porém, seria parada imediatamente, devido a um toque entre Pérez e Leclerc, que deixou o mexicano no meio da pista, obrigando George Russell a reduzir substancialmente o seu andamento, o que apanhou Nikita Mazepin desprevenido, entrando pela traseira do Williams adentro.
Todos os pilotos envolvidos saíram dos seus carros sem problemas, mas a pista tinha de ser limpa, obrigando a nova situação de bandeiras vermelhas.
Já com os carros parados na via das boxes, a Red Bull foi instruída por Michael Masi a passar Verstappen para o terceiro posto, atrás de Hamilton, devido à sua indiscrição no segundo arranque, em que tinha mantido o comando ao passar pela escapatória, deixando Esteban Ocon no comando.
Verstappen voltava a ficar em desvantagem, dado que, do terceiro lugar e com as dificuldades que sentia na embraiagem, dificilmente conseguiria manter o comando, porém, a Red Bull resolveu arriscar.
Para dar alguma vantagem ao seu piloto nos primeiros metros, montava pneus médios no carro número trinta e três, esperando outra situação de bandeiras vermelhas para voltar a trocar de borrachas, uma vez que não seria fácil que os pneumáticos marcados a amarelo aguentassem 35 voltas que faltavam.
Verstappen não teve uma primeira fase de arranque brilhante, perdendo até terreno para Ocon e Hamilton, mas com pneus mais aderentes, na travagem, por dentro, lançou-se para a curva, surpreendendo os dois pilotos da primeira linha que estavam entretidos em lutar entre si.
Verstappen recuperava o comando, seguido do francês e do inglês, tendo este se visto livre rapidamente do jovem da Alpine para se lançar na perseguição ao seu rival na luta pelo título.
A luta ficou em banho-maria durante quatro situações de Safety-Car Virtual entre a vigésima terceira e trigésima sexta voltas, sempre para limpar a pista de detritos.
Estas neutralizações da corrida pareciam cair bem ao lado de Verstappen, que assim poderia proteger os seus pneus, mais frágeis que os duros de Hamilton, no entanto, assim que a corrida foi retomada, o inglês mostrou-se ameaçador.
Na trigésima sétima volta, com DRS, o inglês lançou um ataque, por fora, ao holandês, mas este deixou a travagem para tão tarde, que saiu para a escapatória levando consigo o Mercedes.
O piloto da Red Bull mantinha o comando, mas uma vez mais tinha ordem para ceder o lugar, ao que acedeu imediatamente.
No entanto, Hamilton não parecia querer assumir o comando na aceleração para a última curva e foi reduzindo o seu andamento em consonância com o de Verstappen, mas quando este levantou ainda mais o pé, acabou por embater na traseira do Red Bull, danificando o extractor aerodinâmico deste e a asa dianteira do Mercedes.
Ainda assim, ambos continuaram, com o holandês no comando seguido do seu rival, porém, este tinha ainda de deixar passar o inglês, o que fez na quadragésima primeira volta, mas a forma como o fez deixou-o em boa posição para recuperar o primeiro lugar na travagem para a última curva, o que não satisfez os Comissários Desportivos.
Verstappen acabaria por ser penalizado com cinco segundos, cedendo ainda a liderança a Hamilton, que arrancou para a sua oitava vitória da temporada, assinando a volta mais rápida pelo caminho.
Com os pneus a perderem eficácia, o holandês não conseguiu melhor que o segundo posto, o que deixa os dois pilotos empatados no comando do Campeonato de Pilotos quando falta apenas o Grande Prémio de Abu Dhabi.
Verstappen perdia assim o seu primeiro “match-point” da temporada, uma derrota que teve as suas raízes no seu acidente da qualificação, que o deixou numa situação desfavorável, quando poderia ter estado em condições de gerir a corrida.