GP Abu Dhabi F1: As polémicas da decisão do título
Depois de um ano com inúmeras polémicas, pedia-se que o fim-de-semana das decisões fosse disputado sem questões que colocassem a sua definição para fora da pista, mas a tensão a que todos foram sujeitos acabou por, uma vez mais, criar situações que acantonaram os dois lados.
O primeiro episódio aconteceu logo na primeira volta. Max Verstappen arrancara mal da pole-position e perdia o comando, mas ainda na primeira volta, lançava um ataque a Lewis Hamilton na travagem para a Curva 6.
Foi uma manobra no limite, mas manteve-se dentro da pista, ao passo que o inglês, para evitar o contacto entre os dois, era obrigado a passar pela escapatória, mantendo o comando, muito embora, no momento em que saiu de pista, o holandês estivesse já em primeiro. À luz dos últimos incidentes, como os verificados em Jeddah, era esperado que o inglês fosse obrigado a ceder a posição ao seu rival.
No entanto, Michael Masi, depois de questionado pela Red Bull, considerou que Hamilton tinha cedido a vantagem que tinha conquistado injustamente e não teria de ser obrigado a ceder a posição a Verstappen.
Apesar do desconforto da equipa de Milton Keynes e do seu piloto, a situação acabou por ficar em ‘stand-by’, mas prometia mais polémica no final da corrida, caso o desfecho não sorrisse ao holandês.
Este episódio acabaria completamente desvalorizado, com o que ocorreria já perto do final da corrida.
Na quinquagésima segunda volta Nicholas Latifi batia na Curva 14, onde Kimi Raikkonen se despistara na sexta-feira, e com o seu Williams bastante danificado e parado em pista, o Safety-Car em pista foi accionado.
Este desenvolvimento permitiu aos Red Bull trocar de pneus, o que os poderia deixar em vantagem face a Hamilton, caso a corrida fosse retomada antes do seu final e se fosse permitido aos carros dobrados ultrapassar o Safety-Car, a prática normal nos últimos anos.
A grande questão era o tempo, uma vez que o incidente acontecera já perto do final da prova e havia o risco de terminar a corrida da decisão do título sem que fosse possível lutar por posições.
Numa primeira fase, na quinquagésima sexta volta, surgiu a mensagem de que os carros dobrados manteriam os seus lugares, o que deixava Verstappen numa situação difícil para suplantar Hamilton, dado que entre os dois estavam Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel.
Esta era uma decisão que, evidentemente, não agradava à Red Bull, que não tinha qualquer possibilidade de ver o seu piloto vencer o Campeonato do Mundo de Pilotos de 2021.
No entanto, pouco depois, na quinquagésima sétima volta de cinquenta e oito, surgia a mensagem que permitia aos pilotos que estavam entre os candidatos ao título ultrapassar o Safety-Car, deixando Hamilton e Verstappen juntos, estando este último em grande vantagem de pneus para realizar a derradeira volta da temporada, que seria disputada com bandeiras verdes.
Subitamente, era a Mercedes que estava profundamente desagradada com a decisão de Michael Masi, uma vez que via uma corrida que dominara fugir-lhe por entre os dedos e, com isso, o título mundial de pilotos.
A questão que se levantava era o porquê de ser permitido a apenas aqueles cinco pilotos desdobrarem-se, continuando Daniel Ricciardo, Lance Stroll e Mick Schumacher nas respectivas posições e com uma volta de atraso.
Nos últimos anos tem sido prática comum, em situação de Safety-Car, os retardatários se desdobrarem, tendo sido a primeira vez que apenas alguns deles foram liberados para o fazer e foi isso que levantou a polémica e a sensação de injustiça da parte da Mercedes.
A fúria de Toto Wolff, pressentindo que o seu piloto iria perder o campeonato, deixava evidente que a situação não ficaria por ali, e teria desenvolvimentos fora da pista, colocando em suspenso o resultado da corrida e, claro, a decisão do título.
Aquilo que se esperava concretizou-se e a Mercedes apresentou dois protestos distintos.
Um deles alegava que Verstappen ultrapassara Hamilton com o Safety-Car em pista.
A formação de Brackley argumentava que, na última volta de neutralização, que o holandês tinha ultrapassado o seu rival pouco antes da primeira linha Safety-Car, cometendo assim uma ofensa aos regulamentos.
No outro protesto, a Mercedes defendia que não tinha sido utilizado o procedimento correcto na situação de Safety-Car, uma vez que foi permitido apenas aos cinco carros entre Hamilton e Verstappen recuperarem a volta perdida.
No entanto, os comissários desportivos do Grande Prémio de Abu Dhabi – Garry Conelly, Derek Warwick, Felix Holter e Mohamed Al Hashmi – rebateram ambos os protestos da formação do construtor de Estugarda.
No primeiro, relativo à hipotética ultrapassagem de Verstappen a Hamilton ainda com o Safety-Car em pista, foi “determinado que, embora o Carro 33 [Verstappen] tenha numa fase, durante um período de tempo muito curto, ficado ligeiramente à frente do Carro 44 [Hamilton], numa altura em que ambos os carros em aceleravam e travavam, [o carro de Verstappen] voltava atrás do Carro 44 e não estava à frente quando o período do Safety Car terminou (ou seja, na linha)”.
O segundo recurso apresentado pela Mercedes foi também recusado, no qual alegava que o procedimento de Safety-Car não tinha sido respeitado. Os homens da formação de Brackley apontavam que o Artigo 48.12 do Regulamento Desportivo não tinha sido respeitado – “… qualquer carro que tenham sido dobrado pelo líder será obrigado a passar os carros na volta do líder e o Safety-Car… assim que o último carro dobrado passe o líder, o Safety-Car volta às boxes no final da volta seguinte.”
Os comissários argumentaram que o Regulamento Desportivo, através do Artigo 15.3 dá ao director da corrida “autoridade dominante” em várias áreas, incluindo a utilização do Safety-Car.
Os Comissários determinaram ainda que, embora o Artigo que a Mercedes apresentava não tivesse sido “aplicado na totalidade” foi suplantado pela mensagem “Safety-Car in this lap (o Safety-Car entra nesta volta)” que estava a ser exibida nos ecrãs de informação das equipas, o que torna obrigatório retirar o Safety-Car no final da volta.
Também consideraram não ser apropriado o desejo da Mercedes em encurtar a corrida em uma volta retrospectivamente para emendar a classificação e esta refletir as posições da penúltima volta.
No entanto, a Mercedes apresentou a intenção de apelar da decisão dos Comissários precisamente deste último recurso, o que significa que a Mercedes tinha noventa e seis horas desde ter accionado o seu desejo para decidir seguir com o processo ou não.
Até ao momento do fecho desta edição, não havia uma decisão oficial da equipa dirigida por Toto Wolff, muito embora circulem rumores que dão conta da desistência dos homens da formação do construtor de Estugarda de todo o processo.
Não vale a pena comentar Corrupção ninguém a consegue combater e uma Máfia muito poderosa na FIA