GP Abu Dhabi de Fórmula 1: Verstappen esmaga Mercedes
Desde o início da Era Turbohíbrida que a Mercedes nunca tinha sido batida no fastidioso circuito de Yas Marina, mas no passado domingo Max Verstappen infligiu uma pesada derrota aos monolugares do construtor alemão, triunfando no Grande Prémio de Abu Dhabi.
A pista desenhada na ilha de Yas ingressou no calendário da categoria máxima em 2009 e, desde então, nas primeiras dez edições da prova, não há memória de uma corrida que tenha puxado pelas emoções dos adeptos, nem mesmo quando lá se decidiram títulos, como foi o caso em 2010 ou 2016.
O conjunto de curvas pouco exigentes em termos de pilotagem e as longas escapatórias de asfalto, deixam pouco espaço para que os pilotos possam fazer a diferença e para que os erros sejam pagos de forma efectiva, nivelando por baixo as capacidades dos pilotos, o que produz corridas desprovidas de grandes momentos de interesse.
O Grande Prémio de Abu Dhabi deste ano não fugiu à regra, tendo os adeptos voltado a assistir uma prova morna ao longo de cinquenta e cinco voltas, apesar de uma situação de Safety-Car, na nona volta, quando Sérgio Pérez parou em pista com problemas na sua unidade de potência Mercedes.
Ainda assim, havia alguma expectativa, dado que, depois de ter falhado o Grande Prémio de Sakhir, por ter contraído a COVID-19, Lewis Hamilton regressava aos comandos do seu monolugar, mas desde cedo era evidente que não estava na sua melhor forma física, mostrando-se depauperado pela infecção de que tinha sido alvo.
Após ter falhado o papel de líder em pista da equipa de Brackley em Sakhir, onde foi suplantado por George Russell, Valtteri Bottas tinha novamente a responsabilidade de carregar as expectativas da Mercedes.
Mas o fim-de-semana começava a correr mal aos homens do construtor de Estugarda logo na sexta-feira, quando George Russell sofreu um problema no MGU-K da unidade de potência do seu Williams.
Sem perceber a questão técnica que levou à falha do componente, a Mercedes decidia reduzir o nível de performance de todos os seu V6 turbohíbridos da grelha de partida para garantir o mínimo de fiabilidade. Segundo os responsáveis da marca alemã, esta medida custava menos de um décimo de segundo por volta, mas o desconforto estava instalado.
Para além disso, numa qualificação disputada como a de sábado passado, os três primeiros ficaram separados por 0,086s, o castramento das unidades de potência Mercedes poderá ter sido suficiente para que, pela primeira vez este ano, o autor da pole-position não tivesse um V6 turbohíbrido alemão nas costas, tendo sido Verstappen o responsável pela derrota infligida.
Valtteri Bottas conseguia manter o seu papel frente a um debilitado Hamilton, os dois ficaram separados por 0,061s.
Por uma vez, Alex Albon conseguia colocar-se em redor da diferença mínima que a Red Bull preconizava existir regularmente entre si e Verstappen, 0,3s, mas o tailandês via-se suplantado por uma volta extraordinária de Lando Norris, o que o remetia para o quinto lugar da grelha de partida, vendo, novamente, um carro com menos potencial à sua frente.
Numa corrida em que os pneus teriam um papel decisivo no seu desfecho, os três primeiros arrancavam com pneus médios, ao passo que Albon teve de recorrer aos macios para passar à Q3, o que o deixava em desvantagem estratégica face aos restantes pilotos das duas grandes.
Corrida morna
O arranque foi bastante calmo e os cinco primeiros mantiveram as suas posições, e só na sexta volta Albon suplantava Norris, estando já a quase doze segundos do seu colega de equipa, que liderava confortavelmente a corrida, com mais de dois segundos de vantagem para Bottas e mais de seis para Hamilton.
No entanto, na oitava volta a prova teria um “reset” provocado pelo Safety-Car espoletado pelo abandono de Sérgio Pérez, que voltava a ter problemas na unidade de potência Mercedes do seu Racing Point.
Era ainda cedo para fazer uma paragem nas boxes programada, mas nenhum dos pilotos da frente enjeitou a vantagem estratégica de realizar uma troca de pneus a baixo custo, tendo todos eles montado borrachas duras para levarem até ao final da corrida.
Este era um desafio que exigia uma grande capacidade de gestão dos pneumáticos da Pirelli, correndo o risco de ficarem sem borracha na ponta final da prova, o que poderia implicar uma nova passagem pelas boxes.
A partir da décima quarta volta, quando o Safety-Car regressou às boxes, Verstappen passou a imprimir um andamento que os seus perseguidores não conseguiam replicar e ao cabo de onze voltas, tinha já uma vantagem de quase cinco segundos para Bottas, de mais de sete para Hamilton e mais de treze para Albon, que apesar de estar a realizar a sua melhor prestação da temporada, não tinha como mostrar o mesmo ritmo do seu colega de equipa.
Os Mercedes, por seu lado, não tinham argumentos para o Red Bull RB16 Honda pilotado pelo holandês.
Por diversas vezes Bottas e Hamilton foram avisados de que necessitavam de reduzir a distância para o líder, mas todos os seus esforços foram infrutíferos.
Até à trigésima quinta volta, holandês não dava qualquer possibilidade aos seus perseguidores e sua vantagem para o finlandês subia para 7,9s, ao passo que o inglês estava já a 11,7s.
Para além de não terem ritmo para Verstappen, Bottas e Hamilton tinham ainda de se haver com um desgaste superior dos pneus relativamente ao Red Bull e, pela primeira vez este ano, estavam bloqueados estrategicamente, uma vez que com a proximidade de Albon, a sete segundos do inglês e a onze do finlandês, não tinham como opção realizar uma paragem nas boxes extra sem perderem uma posição para o tailandês.
Sem capacidade para contrariar o ascendente de Verstappen, os homens da Mercedes viram o holandês caminhar para a sua segunda vitória da temporada, décima na Fórmula 1, garantindo o triunfo no derradeiro Grande Prémio da temporada e numa pista em que os “Flechas Prateadas” se mostravam invencíveis de 2013.
A corrida não será recordada pela sua emoção, mas fica marcada por ter sido a primeira vez que os Mercedes foram derrotados em 2020 sem qualquer factor estranho, apenas porque o trinómio Verstappen-Red Bull-Honda era o mais forte em pista.
Se isto será uma previsão daquilo que poderá acontecer em 2021 só o tempo o dirá.
Bottas assegurou sem grande brilho para o segundo posto, a quase 16 segundos do holandês, ao passo que Hamilton, sem a energia física habitual, acabava as cinquenta e cinco voltas da prova a defender-se de Albon.
O tailandês assinou a sua melhor prestação da temporada, mas ainda assim, desde a décima quarta volta, logo após a saída do Safety-Car, e a trigésima quinta, quando Verstappen passou a gerir o andamento, perdeu quinze segundos, 0,7s por volta, o que desta feita foi suficiente para ter impacto estratégico na corrida dos Mercedes, mas poderá ser curto noutras situações, caso se mantenha na Red Bull.
FIGURA: Max Verstappen
O holandês esteve irrepreensível em Yas Marina, conquistando a pole-position, liderando todas as voltas, vencendo e só perdeu a volta mais rápida já perto do final, quando Daniel Ricciardo, com pneus bastante mais frescos, tentou e conseguiu terminar a sua passagem pela Renault de uma forma ainda mais positiva.
Mais uma vez mostrou que, se a Red Bull lhe der um carro competitivo, poderá ser um candidato ao título já em 2021.
MOMENTO: Qualificação
O Red Bull Honda nas mãos de Verstappen era o monolugar mais rápido em pista, mas a pole-position que conquistou teve o condão de infligir uma derrota inesperada à Mercedes, que admitiu não ter imaginado perder o melhor lugar da grelha de partida em Yas Marina.
No domingo, com um bom arranque, Verstappen teve apenas de mostrar que era imbatível em circunstâncias normais, não tendo Bottas e Hamilton argumentos para contrariar o seu ascendente.