GP Abu Dhabi de F1: O título de Verstappen e a ajuda de Pérez
Max Verstappen não parecia ter a possibilidade de ficar à frente de Lewis Hamilton no Grande Prémio de Abu Dhabi, mas um excelente jogo de equipa na Red Bull e decisões e ataques oportunísticos permitiram ao neerlandês conquistar a vitória e o título num final emocionante.
Desde a primeira sessão de treinos-livres da derradeira prova do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 deste ano que ficava no ar um ligeiro ascendente da Mercedes num circuito que, com as alterações realizadas, parecia encaixar melhor nas características do carro de Brackley que nas do de Milton Keynes, e num fim-de-semana em que tudo contava para definir o Campeão Mundial, isso poderia ser determinante para o desfecho da temporada.
No entanto, a qualificação dava uma esperança a Max Verstappen e à Red Bull.
O holandês produzia uma das voltas do ano, com a ajuda de Sérgio Pérez, que lhe deu um excelente cone de ar ao longo de o primeiro sector e parte do segundo, e conquistava uma pole-position que parecia ser improvável frente a um incrédulo Lewis Hamilton, que garantia não ter resposta para o seu adversário.
No entanto, existiam preocupações de ambos os lados da barricada.
Do lado Red Bull, os dois pilotos arrancavam com pneus macios, depois do plano inicial ser usar os médios, tal como Hamilton decidira.
Do lado da Mercedes, Bottas desapontava num fim-de-semana em que estratégia poderia ser determinante, e não ia além de frustrante do sexto lugar da grelha de partida e, também com médios para a parte inicial da prova e com diversos pilotos ao seu redor com borrachas macias, dificilmente conseguiria recuperar posições na partida.
A Red Bull tinha a sua estratégia condicionada pela fragilidade dos pneus dos seus pilotos, mas tinha dois carros para poder obrigar a Mercedes a fazer coisas que não queria com Hamilton.
O arranque seria um dos primeiros grandes momentos da decisão, com Verstappen a ter necessariamente a obrigação de manter o comando para, de alguma forma, poder controlar a corrida e gerir os seus pneus macios a um ritmo que lhe permitisse estender o máximo possível o seu primeiro “stint”.
No entanto, o holandês, apesar de ter pneus mais performantes que lhe poderiam dar vantagem nos primeiros metros, partiu muito mal e Hamilton rapidamente ascendeu à liderança.
O piloto da Red Bull sabia da importância que tinha para a sua corrida comandar e na travagem para a Curva 6 lançou um ataque fortíssimo ao primeiro lugar do seu rival.
Verstappen ficou à frente, mas para evitar o contacto, o inglês teve de recorrer à escapatória, mantendo a liderança sem que o incidente fosse investigado.
Verstappen sofria a primeira derrota do dia, teria de continuar em segundo de acordo com o ritmo imprimido pelo seu rival e com pneus mais frágeis no seu carro.
No entanto, a Red Bull tinha ainda o luxo de ter Pérez no terceiro lugar, que se desenvencilhara rapidamente de Lando Norris, terceiro na qualificação, ao passo que Bottas ficava mais longe de poder influenciar a decisão do título, ao cair para oitavo, e isso teria consequências mais à frente.
Era evidente que Verstappen, apesar de ter pneus macios contra médios de Hamilton, não conseguia acompanhar o piloto da Mercedes e na décima segunda volta tinha já uma desvantagem de 5,1s para o líder e com as borrachas marcadas a vermelho a perderem cada vez mais eficácia.
Contudo, o holandês não tinha ainda cavado uma vantagem que lhe permitisse passar pelas boxes e sair à frente do líder do segundo pelotão, comandado por Carlos Sainz.
A desvantagem para o líder era demasiado longa para fazer o “undercut” e continuar com aqueles pneus era a garantia de perder ainda mais tempo.
A Red Bull arriscou fazer a paragem nas boxes imediatamente, mesmo correndo o risco de cair no escape do Ferrari de Sainz e na décima terceira volta chamou Verstappen.
Sem nada a perder e com a garantia de que Hamilton sairia à frente do espanhol, a Mercedes reagiu na volta seguinte e, com a inesperada dificuldade de Verstappen em suplantar o carro número cinquenta e cinco, a vantagem do inglês cresceu para 8,2 segundos, deixando o heptacampeão ainda mais confortável à frente do seu rival.
No entanto, a Red Bull tinha ainda uma carta a jogar – Sergio Pérez.
O mexicano ainda não parara e tinha como objectivo atrasar o máximo possível Hamilton de modo a poder deixar Verstappen o mais próximo deste possível.
O mexicano foi irrepreensível e, muito embora tivesse pneus completamente gastos, defendeu-se o máximo que pôde do inglês, ripostando até a uma ultrapassagem do piloto da Mercedes. Quando Hamilton suplantara definitivamente Pérez, Verstappen estava a apenas 1,7s da liderança, o que foi significativo, dado que o holandês mantinha-se dentro da janela de Safety-Car do inglês. Ou seja, se houvesse uma situação de Safety-Car ou Safety-Car Virtual, o piloto da Mercedes não conseguiria ir às boxes sem perder uma posição para Verstappen, se este escolhesse ficar em pista e isso seria determinante para a decisão da corrida.
Isto dava uma flexibilidade estratégica à Red Bull a que a Mercedes nunca acedeu, dado que com Bottas longe, este não poderia impedir Verstappen de realizar uma paragem nas boxes sem perder uma posição em pista para o finlandês.
No entanto, mesmo com pneus duros nos carros dos dois contendores ao título, a vantagem continuava do lado de Hamilton que voltou a imprimir um ritmo inalcançável para Verstappen. Na 35ª volta, a diferença entre os dois primeiros cifrava-se em 5,7 segundos. Se adicionarmos este tempo, à vantagem que Hamilton detinha antes de encontrar Pérez no seu caminho, 8,2s, teríamos 13,9 segundos, em cima dos 14 que custava uma paragem nas boxes com situação de Safety-Car ou situação de Safety-Car Virtual, e isto seria determinante.
Na volta seguinte, 36ª, António Giovinazzi via a sua carreira na Alfa Romeo terminar com problemas de caixa de velocidades e, com o carro de Hinwil parado em pista, foi espoletada uma situação de Safety-Car Virtual.
A Mercedes estava amarrada estrategicamente, dado que se parasse com Hamilton, a Red Bull manteria Verstappen em pista e o inglês teria de ultrapassar o seu rival em pista, com todos os riscos que isso aquilatava, dado que se ambos abandonassem, o título ficaria nas mãos do holandês.
O inglês não parou, a Red Bull não precisou de pensar muito, chamou os seus dois pilotos às boxes.
Verstappen teria agora de dar o máximo para apanhar Hamilton e ultrapassá-lo em pista para vencer e se sagrar Campeão do Mundo, tendo saído a dezasseis segundos do líder.
O holandês era mais rápido, mas não o suficiente para ter um impacto na decisão da corrida e, por conseguinte, na do título.
O máximo que conseguiu foi estar a 11,0s de Hamilton e, se os pneus deste não se deteriorassem significativamente nas últimas voltas, nunca conseguiria almejar o seu objectivo.
Porém, os deuses das corridas estavam do lado de Verstappen.
Nicholas Latifi e Mick Schumacher envolveram-se numa luta intensa, estavam cumpridas cinquenta e duas voltas, a seis do final, e depois de estarem lado a lado, o canadiano não conseguiu garantir a ultrapassagem e, com os pneus sujos, o seu Williams fugiu-lhe ao seu controle na Curva 14, onde Kimi Raikkonen batera na segunda sessão de treinos-livres, e com o seu carro danificado e no meio da pista, o Safety-Car foi obrigado a entrar em pista.
Uma vez mais, Hamilton não tinha margem para fazer uma troca de pneus sem perder o comando para Verstappen e era obrigado a manter-se em pista, ao passo que os dois Red Bull, com Bottas longe, podiam parar para montar macios de forma a atacar a liderança do inglês.
Porém, havia ainda questões em cima da mesa.
Seria possível limpar a pista antes do fim da corrida, evitando assim terminar a temporada de 2021 com o Safety-Car em pista? Seria possível aos retardatários desdobrarem-se ficando assim os dois primeiros juntos, dado que entre eles estavam cinco carros?
Rapidamente pareceu evidente que teríamos ainda uma volta de corrida, mas a questão era saber o que fazer quanto aos carros dobrados.
Depois de numa primeira fase ter passado a informação de que não haveria alterações de posições, posteriormente, Michael Masi deu ordem para que apenas Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel – os pilotos entre Hamilton e Verstappen – passassem o Safety-Car deixando os dois candidatos ao título juntos, para satisfação da Red Bull e para grande dessatisfação da Mercedes.
Depois de ter dominado completamente toda a corrida, o inglês via-se agora em desvantagem para uma última volta em que o título seria decidido.
Como é habitual, Verstappen não deixou fugir a oportunidade e logo na primeira possibilidade após o recomeço, lançou um feroz ataque à liderança na Curva 5 ao qual Hamilton não tinha como responder.
O piloto da Mercedes ainda tentou ripostar na Curva 9, mas o holandês foi autoritário e caminhou com certeza para o seu primeiro título mundial de Fórmula 1, tornando-se no trigésimo quarto piloto a ostentar o ceptro.
Terminava assim, em pista, a temporada de 2021, com dramatismo, sendo uma das mais impressionantes de sempre, com dois pilotos no máximo das suas capacidades, sendo qualquer um deles um justo vencedor. A sorte acabou por sorrir a Verstappen.
Sérgio Pérez, que foi instrumental na vitória do seu colega de equipa, acabaria por abandonar ainda durante a situação de Safety-Car. O carro do mexicano desenvolvera um problema técnico, havendo a possibilidade parar em pista, o que poderia alongar a situação de Safety-Car, e a Red Bull decidiu chamar o seu piloto às boxes para desistir e não correr o risco de não haver voltas de corrida para Verstappen suplantar Hamilton.
Bottas, que em parte foi responsável pela derrota do seu colega de equipa, terminou a sua passagem pela Mercedes com um decepcionante sexto posto…
MOMENTO
Despiste de Latifi
Lewis Hamilton dominou completamente o GP de Abu Dhabi e só um milagre permitiu a Verstappen desfeitear o inglês. O despiste de Nicholas Latifi, despoletou a entrada em pista do Safety-Car e todas as decisões posteriores. Hamilton, amarrado estrategicamente, não parou, abrindo uma oportunidade à Red Bull.
Quando Michael Masi decidiu que alguns carros poderiam ultrapassar o Safety-Car, o heptacampeão mundial ficou numa posição fragilizada perante Verstappen, que tinha pneus novos para lançar um ataque decisivo à liderança e ao título de 2021.
FIGURA
Max Verstappen
O holandês nunca baixou os braços, mesmo quando parecia claro que, em circunstâncias normais, não teria como desfeitear Lewis Hamilton. Já no sábado tinha realizado a pole-position e durante a corrida, também com a ajuda de Pérez, conseguira manter-se em posição de condicionar estrategicamente o seu rival.
Quando a oportunidade surgiu, não a enjeitou, venceu e conquistou o título. Teve de alguma sorte, mas deu o seu melhor para se manter em posição de poder bater o seu rival.