Fórmula 1: Uma questão de peso…
Um dos grandes temas do paddock de Barcelona foi o famigerado ‘porpoising’, mas outro tema tem vindo a ganhar importância – o peso – e existem já movimentos para que o limite mínimo seja aumentado, apesar de haver duas equipas que estão em muito boa posição, e não as mais óbvias.
O peso mínimo dos carros de Fórmula 1 aumentou este ano para 795 quilogramas, em 2021 era 752, para que fosse possível acomodar as novas medidas de segurança passiva nos chassis e os novos pneus de 18”, que por serem de maiores dimensões são mais pesados.
Com os monolugares da categoria cada vez mais pesados, a FIA e a FOM esperavam que este aumento, ainda aquém dos massivos e simbólicos 800 quilogramas, fosse suficiente, dado que pretendem travar a tendência de aumentar o peso – em 2008 o mínimo era de 595 quilogramas – mas parece que a maior parte das equipas está longe de o poder alcançar, havendo alguns casos em que a diferença se cifra na ordem dos dois dígitos – uma enormidade, uma vez que, normalmente, os F1 estão abaixo do peso mínimo para dar às equipas a possibilidade de alterar o seu comportamento com lastro.
Para se perceber um pouco o impacto que o peso pode ter num monolugar de Fórmula 1 e entender as movimentações de algumas equipas, no Circuit de Barcelona-Catalunya dez quilogramas representam 0,3s por volta no cronómetro, um valor bastante significativo.
Segundo os “mentideros” de Barcelona, o Red Bull RB18 é o monolugar mais afastado dos 795 quilogramas desejados, ao passo que o Alfa Romeo C42 é o único que está abaixo do peso mínimo sem lastro, ao passo que o McLaren MCL36 está bastante próximo.
Os restantes, todos eles, estão acima do número mágico, a distâncias diferentes, o que tem vindo a criar um movimento para aumentar o peso mínimo regulamentar para este ano.
Segundo algumas destas equipas, seria benéfico haver um incremento, fala-se para os 800 quilogramas, uma vez que era uma forma de poupar dinheiro, que seria esbanjado a procurar formas de baixar o peso de alguns dos pesos – materiais e novas tecnologias para tornar os seus monolugares deste ano mais leves.
Esta linha de pensamento parece ser liderada pela Red Bull, segundo os rumores a mais afetada pela “obesidade” do seu carro, tendo havido uma reunião com as equipas, FIA e FOM no último dia de testes de Barcelona para discutir o assunto.
No papel, se a FIA estiver de acordo, são precisas oito equipas favoráveis à alteração para que esta seja concretizada, parecendo este número ser possível de alcançar, dado que apenas a Alfa Romeo e a McLaren estão confortáveis com o peso dos respetivos monolugares.
A FIA tem, portanto, “a faca e o queijo” na mão, podendo ser determinante para o equilíbrio competitivo da próxima temporada.
Os argumentos usados pelas equipas que desejam o aumento do peso mínimo seria forte, caso não houvesse um teto orçamental implementado que impede que cada formação “esbanje” dinheiro para chegar a um ponto em que todos ficam nivelados tecnicamente.
Hoje, com os constrangimentos orçamentais, cada uma das equipas tem de definir as suas prioridades e, pelo menos a Alfa Romeo e a McLaren, colocaram como prioridade colocar os seus carros dentro do limite mínimo de peso, ao passo que as restantes, preferiram alocar parte dos seus recursos financeiros a outras áreas.
Seria, portanto, justo que agora as regras do jogo fossem alteradas para proteger as equipas que estão numa situação menos confortável no que diz respeito ao peso?
Se a FIA for na conversa e aceder aos pedidos destas, por que motivo, se oito equipas sentirem que têm uma aerodinâmica menos desenvolvida, não poderão ser alvo de um relaxamento dos constrangimentos ao uso do CFD e túnel de vento para que pudessem recuperar relativamente às outras duas.
A entidade federativa tem, portanto, de manter um pulso forte e não ceder a chantagens seja de quem for, e neste rol poderão estar as três maiores equipas da categoria, não abrir um precedente e manter a integridade do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, onde sempre foram os melhores a vencer.
Se duas equipas conseguiram alcançar a região dos 795 quilogramas, cabe às restantes trabalharem para lá chegar, tal como aconteceu quando a Mercedes apareceu em 2014 com um carro que era muito melhor que os outros.
O teto orçamental impede que, como no passado, apenas algumas equipas tenham a capacidade para lá chegar, cabendo ao engenho de cada uma delas alcançar os seus objetivos e é assim que deve ser.