Fórmula 1: Será que foi mesmo a Ferrari a errar?

Charles Leclerc foi bastante crítico da estratégia da Ferrari para a qualificação do Grande Prémio do Canadá e, mesmo se, depois, amenizou as suas palavras, ficou a ideia de que os estrategas de Maranello voltaram a errar, mas terá sido mesmo assim?

A sessão que definiu a grelha de partida para a prova de Montreal foi uma das mais difíceis do ano, uma vez que com a pista húmida e com alguns aguaceiros a caírem ocasionalmente, fazer uma volta rápida no momento certo era caminho seguro para um bom resultado.

O momento de maior incerteza ocorreu no início da Q2, com a pista a apresentar algumas trajectórias secas, mas com zonas ainda muito molhadas.

Montar slicks era uma escolha arrojada, dado que era esperada chuva entre seis e sete minutos e os pneus da Pirelli marcados a vermelho demorariam duas voltas a aquecer, saindo o tempo à terceira – isto equivaleria a mais de quatro minutos.

Caso esta fosse uma má opção, quem a tivesse escolhido perderia o momento em que a pista estaria em melhores condições.

Isto levou a que apenas Alex Albon fosse o único a montar slicks, assumindo o risco num Williams que, até então, ainda não se tinha mostrado muito competitivo – acabaria por ser ele quem acertou, acabando com a melhor volta da Q2.

Todos os restantes pilotos saíram das boxes com intermédios.

Leclerc rapidamente começou a apontar à Ferrari que a pista estava pronta para slicks, assim que deixou o ‘pit-lane’, mas então, voltar às boxes e marcar um tempo com as borrachas marcadas vermelho custaria sete minutos, o que entrava no intervalo de tempo em que a chuva era esperada, sendo avisado que fosse marcado um tempo com intermédios com a pista nas suas melhores condições e, depois, passar arriscar nos slicks.

O monegasco assinou o sexto crono, o que não sendo brilhante, lhe dava o sexto posto, podendo então rumar às boxes para montar pneus para seco.

Como era esperado, só na terceira volta com slicks sairia um tempo, dado a pista estar muito fria, mas no último momento para realizar um crono que lhe garantisse a passagem à Q3, Leclerc errou na travagem para a última chicane, seguindo pela escapatória e não melhorando.

Com a chuva a intensificar-se, a janela para fazer um tempo de slicks tinha-se fechado e o monegasco ficava em décimo primeiro, não passando ao derradeiro segmento da qualificação.

Uma vez mais, na sua volta de slicks, Leclerc não estava rapidíssimo, mas se juntássemos os registos dos dois primeiros sectores com o terceiro da sua melhor volta – realizado com intermédios e, portanto, com um potencial de performance mais baixo – teria assinado o tempo de 1m20,294s, o que lhe daria o oitavo tempo e o passaporte para a Q3.

Fica evidente que, desta feita, não foram os estrategas da Ferrari a errar, mas sim Leclerc a cometer uma ‘falta pessoal’ no momento em que não podia errar, ficando exposto àqueles que foram mais fiáveis numa pista em que as condições eram difíceis.

Claro que a história de erros da parte dos homens da formação de Maranello poderá ter sido determinante para a falha do monegasco.

As frustrações pelas quais Leclerc passou ao longo do último ano meio, em que decisões erradas o deixaram numa situação de desvantagem, levaram a que a confiança nas opções estratégicas dos seus engenheiros esteja em níveis baixíssimos e isso pode ter levado a que sentisse estar a viver mais um dos episódios em que se viu protagonista, deixando que a frustração tomasse conta de si e ficando mais propenso a erros.

No entanto, desta feita, do lado da Ferrari tudo foi feito como deveria ser…