Fórmula 1: Porque é que a Mercedes não vence?
Por José Manuel Costa
Não é a pergunta do milhão de dólares, mas não deixa de ser uma questão que inquieta não só os adeptos da equipa alemã como a própria Mercedes. “Somos, atualmente, a segunda ou terceira força do plantel” atirou um amargurado Lewis Hamilton no final do Grande Prémio do Bahrain, com Bottas a dizer que “temos de tornar o nosso carro mais rápido… e depressa!”
Desabafos preocupantes dos pilotos da equipa que após 2014 e a introdução da regulamentação híbrida dominou a competição e nunca perdeu três corridas seguidas. “Gostava tanto que fosse como antigamente” suspirou Toto Wolff com um sorriso amargurado e triste perante os jornalistas no final do Grande Prémio da China.
A fortaleza Mercedes já tinha mostrado algumas fraquezas o ano passado, mitigadas por um esforço notável de desenvolvimento do W08 e pelo verdadeiro “hara kiri” da Ferrari na fase final da temporada. Mas 2018 está a ser um duro teste à couraça da Mercedes que volvidos três fim de semana de competição mostra dificuldades inesperadas. Mas, afinal, porque é que a Mercedes não vence?!
A Mercedes sempre denotou dificuldades em gerir os pneus mais macios da gama Pirelli e, ao longo de 2017, o trabalho realizado nos treinos livres de sexta feira incidia, sempre, na melhor utilização dos pneus mais duros. Com essas borrachas, o Mercedes voava e por isso mesmo a casa alemã quase renunciava ao trabalho com as misturas mais macias. Depois, o modo de qualificação do motor Mercedes colocava todos em sentido e largando da “pole position” Lewis Hamilton mostrou mestria a ganhar tempo até ficar ao abrigo da utilização do DRS pelos seus adversários.
Ora, a Pirelli decidiu tornar todas as misturas mais macias, lançando mesmo um pneu hipermacio. E aqui está, já, uma das razões para a Mercedes não ter ganho, ainda, em 2018.
Poderíamos ser levados a descontar os resultados da Austrália e do Bahrain, pois foram corridas muito táticas e ganhas pela Ferrari, em Melbourne graças a um safety car virtual, em Sakhir graças a um esforço impressionante de Vettel em cumprir mais de 30 voltas com pneus que duravam metade disso, numa agilidade tática desconhecida nos italianos.
Porém, a enorme dificuldade de Hamilton em usar os supermacios – não lhes tocou na qualificação do Bahrain e usou os médios para tentar surpreender a Ferrari já que foi penalizado por trocar a caixa de velocidades – deixou a ideia que os problemas de 2017 estavam para durar.
Toto Wolff e Niki Lauda engoliram em seco a humilhação de ver os dois Ferrari na primeira fila da grelha de partida do GP do Bahrain e a ensaboadela tática que a equipa de Maurizio Arrivabene lhe ofereceu durante a corrida. Mas a chegada do GP da China animou as hostes da Mercedes. Enfim, nunca tinham perdido em solo chinês e nunca a equipa alemã tinha perdido três corridas seguidas desde 2014. Ânimo era o que não faltava!
Afinal, após os treinos de sexta feira dominados por Lewis Hamilton, a cara de poucos amigos de Toto Wolff e de Niki Lauda eram o prenúncio de mais um fim de semana complicado para a Mercedes. Não só porque a Ferrari continuou demasiado perto, mas porque a Red Bull mostrou ter andamento para surpreender na corrida.
A dificuldade em colocar temperatura nos pneus mais macios, especialmente os traseiros, foi tamanha que a Mercedes apostou tudo no trabalho com os pneus macios, tendo feito a Q2 com essas borrachas. Ou seja, iriam os dois pilotos arrancar para a corrida com os pneus macios e depois trocariam para os médios sem tocar nos malditos pneus mais suaves da Pirelli.
Perder, novamente, a primeira fila da grelha para a Ferrari foi excruciante para Toto Wolff que desabafou “este Grande Prémio é uma prova de fogo!” Para quem? Claro, para o projeto W09 que, parece cada vez mais, um projeto menos conseguido fruto de alguma sobranceria de uma equipa habituada a confiar nas capacidades do motor.
Aliás, isso foi evidente durante os testes de inverno com a Mercedes a ignorar, olimpicamente, os pneus mais macios da Pirelli. Argumentos foram vários, inclusive a utilização dos hipermacios só na quinta corrida. Enfim, a Mercedes acreditou que tudo seria como antes. Não está a ser e parece que algo terá de mudar e rapidamente!
Claro que a Mercedes continua a ser a principal favorita ao título de 2018 e o andamento de Valteri Bottas no GP da China e as performances de Hamilton e de Bottas nos treinos com os pneus mais duros do arco-íris da Pirelli, são factos que não podem ser mandados pela janela. O W09 continua a ser um carro rápido e o motor feito em Brixworth é dos melhores senão o melhor do plantel.
E também tenho de dizer que na China, o “safety car” acabou por entregar de bandeja a vitória à RedBull, pois Ferrari e Mercedes tiveram o “azar” da colisão entre os dois Toro Rosso ter despoletado a saída do Mercedes AMG GT para a pista imediatamente depois dos Mercedes e Ferrari terem passado pela linha de meta. A Red Bull reagiu imediatamente com a paragem dos seus pilotos e com isso Ricciardo venceu.
Poderá dizer, “mas que diabo! porque não entraram na volta seguinte?!” Porque os estrategas da Mercedes entenderam que a posição em pista era mais importante e porque não era interessante, no seu ponto de vista, ficar atrás dos Red Bull. Toto Wolff reconheceu que “errámos quando pensámos que a posição em pista na frente dos Red Bull era mais importante que os pneus e a nossa simulação mostrava que ficar em pista era a melhor opção. Errámos!” Segundo erro do sistema de simulação da Mercedes…
Enfim, a Mercedes está numa situação desconfortável porque o W09 não é, por agora, o melhor carro do plantel – as dificuldades com os pneus mais macios são muito penalizadoras – perdeu três corridas de uma assentada e, pela terceira vez, errou na estratégia de corrida. “A RedBull demonstrou uma enorme audácia ao parar no ‘safety car’ e trocar para pneus macios, mas estavam 100% certos” lamentou-se Toto Wolff.
Como referi acima, o domínio da Mercedes mostrou brechas em 2017 que se ampliaram em 2018, mas seria uma idiotice pensar que a equipa que domina a era híbrida da F1 com punho de ferro não tem capacidade para reagir a este momento menos bom. O GP do Azerbaijão está, já, ao virar da esquina.
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