Fórmula 1 perto de regressar a Portugal
É cada vez mais forte a probabilidade do Mundial de Fórmula 1 regressar a Portugal. O AutoSport sabe que, apesar de ainda não estar certo, as conversações com o Autódromo Internacional do Algarve e a FPAK estão muito avançadas. Há ainda fatores que podem fazer mudar as coisas, mas neste momento as hipóteses de voltarmos a ter um Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 em Portugal são muito fortes.
E esta heim? Quem diria que uma chance destas poderia acontecer a curto prazo! É sempre verdade que por vezes é nos momentos de crise que surgem novas oportunidades e este é um perfeito exemplo. Tudo começou quando a FPAK se lembrou de mandar uma carta à FIA a explicar que tem dois circuitos com grau 1 da FIA, os que podem receber a F1, e a partir daí o natural desenrolar das coisas redundou no facto do Autódromo Internacional do Algarve cair como mel na sopa das pretensões da FOM, que, tal como já se percebeu está um pouco ‘aflita’ para conseguir delinear o calendário da segunda parte da época de Fórmula 1 de 2020.
Como vamos perceber nas próximas linhas, a Fórmula 1 não está garantida em Portugal, mas está bem encaminhada pois há muitos dados que apontam para isso. Há uma maior preferência da generalidade das equipas por Portugal, e apesar de três países, Alemanha, Itália e Portugal estarem na corrida por um lugar, na prática, como as coisas estão, a FOM não tem garantias que consiga realizar corridas nos EUA, México e Brasil, por exemplo, e não só.
Portanto, os ‘buracos’ podem abrir-se ainda mais e no limite até todos podem ter lugar. Caso se mantenha só um lugar em aberto, aí sim, a ‘disputa’ será entre os três e todos eles têm os seus argumentos.
Há algum tempo atrás ficou a saber-se que o Autódromo Internacional do Algarve (AIA) passou a contar com a classificação de Grau 1 da FIA, e pouco depois, como Ni amorim vai explicar detalhadamente, mais para a frente, a FPAK enviou uma carta à FIA no sentido de deixar claro que Portugal e o Autódromo Internacional do Algarve, têm as condições necessárias para albergar uma prova do Campeonato do Mundo de Fórmula 1: “Quando vi que o assunto estava a ficar complicado em alguns países na Europa, enviei uma carta ao Presidente e Secretário-Geral da FIA, dizendo que tínhamos infraestruturas de exceção. Tínhamos acabado de ter homologação grau 1 de Portimão. Fruto dessa carta e do trabalho do Autódromo Internacional do Algarve, o assunto ficou em cima da mesa. Naturalmente, não poderia ser financiado pelo Estado, mas, neste caso, pelo promotor, pois não era uma prova nova, era apenas para lhes facilitar a vida”, revelou Ni Amorim, garantindo ainda que “há equipas que pressionam o promotor para o campeonato vir a Portugal este ano”, algo confirmado pelo administrador do Autódromo Internacional do Algarve, Paulo Pinheiro, que revelou existir “muita vontade das equipas” de Fórmula 1 que Portugal integre o calendário do Mundial de 2020, advertindo no entanto que uma decisão final só acontecerá “em meados de julho”.
“Sabemos que há muita vontade das equipas de que Portugal seja escolhido para o calendário e nós temos feito tudo o é necessário”, disse Paulo Pinheiro, no dia em que se ficou a saber do cancelamento de mais três corridas: Azerbaijão, Singapura e Japão, pelos mesmos motivos de sempre, a pandemia de covid-19.
Ross Brawn levantou o véu…
Tudo isto foi despoletado pelo facto do diretor desportivo da F1, Ross Brawn, nos últimos dias, ter admitido que Portugal é um dos países que está a ser equacionado como alternativa para fazer parte do calendário do Mundial de 2020, caso falhem os promotores com os quais a Formula One Management já tinha contrato. Ross Brawn falou em Imola (Itália), Portimão (Portugal) e Hockenheim (Alemanha).
Para Paulo Pinheiro, uma corrida em território nacional poderá acontecer “em setembro, outubro ou novembro”, mas o que “fará a diferença é a possibilidade, ou não, de haver público nas bancadas. Somos a hipótese que todos querem, pela localização, pela pista, pelas instalações grandes que permitem maior distância de segurança, pelo clima, pela hotelaria e pelo reduzido impacto da covid-19”, disse Paulo Pinheiro.
Recorde-se que depois da FIA e da FOM terem acordado um primeiro calendário-parcial de oito provas, a fase europeia, estão agora à procura da segunda fase que pensaram, a fase asiática e com o cancelamento de mais três corridas já perceberam que provavelmente vão precisar de provas europeias, onde é mais fácil organizar corridas. É nesse contexto que Portugal já é hipótese há muito tempo, e pelo que se percebeu depois das declarações de Ross Brawn, é hipótese ainda mais forte depois de estarem escolhidas as primeiras provas europeias. Esta sucessão de cancelamentos pode levar a que a segunda metade da temporada do Mundial de Fórmula 1 venha a realizar-se em circuitos que não integravam o calendário inicial de 2020, como é o caso do Autódromo Internacional do Algarve, Imola (Itália) e Hockenheim (Alemanha).
Como se sabe, foram muitos os calendários para o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 deste ano que surgiram nos últimos tempos, antes da FOM ter optado pelas primeiras oito corridas europeias, e num deles, a que tivemos acesso, a pista situada nos arredores de Portimão aparecia como prova de reserva a Silverstone, caso um acordo entre o circuito britânico e a entidade que gere os aspetos comerciais da categoria máxima do desporto automóvel não tivesse chegado a bom porto, pois existiu um impasse nas negociações entre as duas partes, deixando em risco a realização do Grande Prémio da Grã-Bretanha e a segunda corrida de Silverstone, tendo sido equacionado substituir os dois eventos por outros no Autódromo Internacional do Algarve e no Hockenheimring.
Surgiu a oportunidade
A verdade é que desde que se percebeu que havia Grandes Prémios a ficar pelo caminho, logo em março, que a hipótese de um Grande Prémio em Portugal, no AIA esteve sempre em cima da mesa. A ‘chancela’ Grau 1 já estava prevista e foi só o primeiro passo para que tudo pudesse ser possível. Tal como Paulo Pinheiro nos disse, há tempos, do lado do AIA está tudo preparado para aceder às necessidades da FIA e da FOM, e apesar de se ter ponderado inicialmente que a prova portuguesa pudesse avançar após um eventual cancelamento de Silverstone, a verdade é que apesar das oito corridas europeias estarem já confirmadas, curiosamente é devido às dificuldades que a FIA e a FOM estão a ter relativamente à concretização da segunda parte do calendário, a fase Eurasia/Ásia, que Portugal volta à baila, e as declarações de Ross Brawn deixaram claro que é muito forte a possibilidade de Portugal ter uma corrida.
Como se percebeu pelo cancelamento recente de três corridas (Azerbaijão, Singapura e Japão) a FOM e a FIA já depreenderam que vão ter que incluir mais corridas europeias, e é nesse contexto que Portugal se chega à frente. A data para a prova portuguesa pode ainda oscilar muito, e a razão para isso é simples: É dos países cogitados (Itália, Alemanha e Portugal) que maior probabilidade tem duma boa meteorologia em qualquer altura. Por isso pode oscilar onde der mais jeito à FIA/FOM.
Mugello/Imola/Hockenheim, quanto mais para a frente no ano, mais provável é poder chover demais. A juntar a tudo isto não é líquido que se consigam realizar corridas nos EUA, México e Brasil, e isto só faz crescer ainda mais a probabilidade lusa. Por fim e também importante. Nenhuma das corridas europeias que a FIA/FOM precisam para compor a segunda fase do calendário vai pagar um cêntimo. O GP de Itália está previsto para 4 a 6 de setembro. A partir daí, qualquer data dos dois meses seguintes pode ser para Portugal. Agora, resta aguardar, mas pode ter a certeza que as hipóteses de voltarmos a ter F1 em Portugal (a última vez foi em 1996) são mesmo muito fortes…
Como a FPAK abriu a hipótese da F1 em Portugal
Mas afinal como tudo isto começou? Para o saber, falámos com Ni Amorim, Presidente da FPAK, entidade que deu o tiro de partida de toda esta situação: “Em finais de março, princípio de abril, quando verificámos que as fronteiras estavam fechadas, quer as da Europa, quer a intercontinentais, vimos logo que ia haver muitos problemas para se realizarem provas internacionais, e à medida que fomos vendo provas a ser canceladas, decidimos fazer uma carta ao presidente da FIA, Jean Todt, e ao Secretário Geral da FIA, Peter Bayer, a dizer que tínhamos circuitos em Portugal (ndr, Estoril e Portimão) homologados em grau 1, nomeadamente Portimão que é um circuito muito mais recente que o Estoril, que tem quase 50 anos, enquanto Portimão tem 12, portanto mais ajustado às necessidades atuais da Fórmula 1, do que o Estoril” começou por dizer Ni Amorim, que explicou depois todos os passos: “Se fosse preciso por consideração do promotor (ndr, a Formula One Management), de que se fosse necessário haver provas de substituição, Portugal estava aqui para se ver o que se poderia fazer.
Isto naturalmente articulei com o Paulo Pinheiro (ndr, administrador do AIA), dei conta da diligência que a FPAK fez, e decidimos esperar para ver o que poderia surgir. Em finais de de maio troquei impressões com o Paulo Pinheiro, e apercebemos-nos que a carta tinha surtido efeito porque as equipas de F1 falavam da hipótese Portimão. O promotor passou a olhar para Portimão como uma possibilidade para dar continuidade ao calendário do Campeonato do Mundo de Fórmula 1.
O Secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, está por dentro de todo este dossier, desde que nós enviámos a carta.
Desde abril que o Governo está dentro do assunto, o Senhor Primeiro-Ministro (ndr, António Costa) teve uma reunião em Portimão na semana passada, quando a Presidente da Câmara Municipal de Portimão (ndr, Isilda Gomes) lhe deu conta desta possibilidade, e portanto neste momento o Governo – ainda ontem falei com o Secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo – está por dentro desta possibilidade, que por enquanto é uma possibilidade.
No entanto há aqui uma coisa curiosa, há uma sondagem que a Fórmula 1 fez no Twitter, em que internacionalmente estão a perguntar aos adeptos quem é que devia receber o Grande Prémio na Europa em 2020, Portugal, Alemanha ou Itália e Portugal vai largamente à frente na votação, se fosse em política tínhamos maioria absoluta (ndr, 84.295 votos, Portimão, 49.2%, Imola, 30.9%, Mugello, 12.3% e outro, 7.6%), o que denota uma forte expectativa dos adeptos para com Portugal que não tem um Grande Prémio de Fórmula 1 há 24 anos.
Portanto eu acho que estamos perante uma oportunidade de ouro, que dificilmente vai voltar a acontecer, porque aqui o que se trata é que o Autódromo Internacional do Algarve cumpra o caderno de encargos do promotor, que é sempre muito dinheiro, passa pelo reasfaltamento da pista, e passa também por um conjunto de alterações que eles querem ver introduzidas no circuito, para estarem de acordo com as melhores práticas internacionais. Mas estamos mas estamos de fora do pagamento do ‘fee’.
Ora, um país para receber uma prova de Fórmula 1, paga entre os 30 e 40 milhões de dólares para se poder candidatar a ter uma prova, e depois disso tem que ir para uma fila de espera, há países à frente, há países que esperaram anos para ter uma corrida de Fórmula 1 e portanto tudo isto somado, Portugal tem hipótese de ter um Grande Prémio de Fórmula 1 em Portugal.
Evidentemente que a experiência da vida diz-me que temos que esperar, que é cedo para dizer como tenho visto na comunicação social que Portugal vai ter o GP de Fórmula 1, ainda hoje vi (ndr, sábado, 13 de junho) um grande destaque num jornal com esse título, o que não é verdade. O que é verdade é que neste momento há três países e há possibilidades divididas entre cada um deles.
Portanto, estamos a ir a jogo, estamos na corrida, esta sondagem no Twitter é-nos, favorável, naturalmente, e sei que há responsáveis de equipas de Fórmula 1 que estão a fazer força para que seja Portugal a receber o Grande Prémio, com também da FOM.
Portanto, esta tudo isto é despoletado pela FPAK através duma carta que faz sem qualquer tipo de esperança, mas que sentiu que devia ter feito e em boa hora o fizemos, pois viemos despoletar todo um processo, que eu desconheço qual é o desfecho. Mas o facto de chegamos até aqui é muito bom. Isto claro que explodiu de repente, depois de Ross Brawn (ndr, Formula One Managing Director) da FOM ter dito que Portugal tem uma fortíssima possibilidade de vir a receber o Grande Prémio. A partir daí, isso está em todos os sites internacionais. De qualquer forma, eu acho que apesar de alguma imprensa estar a dar isto como um dado adquirido, não é essa a informação que eu tenho à data de hoje (sábado, 13 de junho). Temos vários fatores a nosso favor. As crises também trazem oportunidades, e esta é uma oportunidade absolutamente excecional, única nunca na vida, porque dificilmente o Governo iria pagar entre 30 a 40 milhões vários anos para ter Fórmula 1 em Portugal. É preciso ver que o Rali de Portugal pelos números que são públicos, custa três milhões e tal, e trinta e tal milhões são dez vezes mais, e isso seria impensável fazer sem o apoio do estado. Isso é uma opinião absolutamente consensual. Portanto, temos que ter fé, sou uma pessoa muito positiva, mas a vida também me diz que não nos podemos precipitar. Temos que esperar porque os lobbies na Alemanha são muito fortes, é um país construtor de automóveis é o país que a crise menos afeta neste momento na Europa, e portanto temos que ter alguma confiança, ” disse Ni Amorim, Presidente da FPAK, que está esperançado no regresso da Fórmula 1 a Portugal, mas sabe que não se pode cantar vitória.
Ainda hoje o nome de Portimão e Portugal se viram em grandes parangonas internacionais, em sites de grande relevância, pelo que, tal como sempre dissemos, havia fogo para lá do fumo, e agora resta esperar que o trabalho que foi feito até aqui, resultem no regresso da F1 a Portugal. Muitos preferem olhar para o copo meio vazio. Nós preferimos olhar para o meio cheio.
F1 em Portugal? Perguntas e respostas…
Como já percebeu, Portugal pode vir a ter, 24 anos depois um Grande Prémio de Fórmula 1. O primeiro foi em 1958, no Porto, o segundo um ano depois, em Lisboa, Monsanto, o terceiro novamente no Porto, em 1960. A F1 regressou a Portugal em 1984, ao Estoril, onde se manteve até 1996, depois de Ayrton Senna ali obter a primeira vitória da sua carreira, em 1985.
O regresso pode dar-se no Algarve, uma pista de 4.6 km nascida em 2008, que já teve testes de Fórmula 1 em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, com a Ferrari, McLaren, Renault, Williams, Toyota e Toro Rosso a marcar presença. O único piloto da atual grelha de Fórmula 1, que já rodou com um F1 em Portimão é Lewis Hamilton. Mas há outros pilotos do atual plantel que já ali correram: Sergio Perez (GP2), Daniel Ricciardo (Renault 3.5/F3 inglesa), Valtteri Bottas (F3 inglesa). Alex Albon, Charles Leclerc, Antonio Giovinazzi, George Russell e Lance Stroll correram ali na F3 em 2015. O último Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 realizou-se no Estoril em 1996.
Mas há outras perguntas que vai querer ver respondidas: Se houver Fórmula 1 em Portugal será sem público ou com público? As duas hipóteses estão em aberto, pois estamos a falar de datas em setembro/outubro. A pista de Mugello está bem posicionada? A Ferrari, claro, quer, mas a maioria das equipas, com Mercedes e Red Bull à cabeça entendem que em Mugello a Ferrari partiria com grande vantagem técnica. É só somar 2+2…
Portugal pode receber duas corridas? Não, caso se concretize, será apenas uma. Ainda que neste momento nada seja absolutamente certo.
Quais são as vantagens de Portugal face às restantes? Quase todas. Em teoria, a meteorologia é muito mais segura, que Mugello, Imola ou Hockenheim em setembro/outubro, o que pode permitir encaixar a corrida num lapso de tempo maior. Instalações do melhor que há, uma pista absolutamente desafiante e nova para toda a gente (o que não sucede com Mugello, por exemplo), inúmeros hotéis, caso seja necessário correr sem público, a pista é bem isolada, o que não sucede com Hockenheim, Imola ou Mugello. Outro sinal, a estrondosa votação no Twitter. Portugal teve 49.2%, os restantes três circuitos somados, totalizaram 50.8%. Maioria absoluta para Portugal.
Seja como for, há muita coisa a acontecer, a evolução ou desaceleração da pandemia pode mudar tudo, ou muito, pelo que os dados estão lançados, mas agora resta esperar por quem decide…