Fórmula 1: Os motivos para o cancelamento do GP de Singapura

Por a 25 Maio 2020 15:20

Os Grandes Prémios citadinos são as vítimas mais óbvias da situação criada pela pandemia da COVID-19, tendo os eventos de Melbourne e de Monte Carlo sido cancelados e o AutoSport sabe que Singapura também não será realizado.

Uma prova no meio de uma grande cidade coloca sempre constrangimentos muito superiores às vividas num autódromo, uma vez que as estruturas são temporárias e, habitualmente, o espaço não abunda, logo encontrar medidas para promover a distância social exigida para conter o novo coronavírus revela-se uma quase impossibilidade.

Muito embora em Melbourne a situação tenha sido diversa e fruto de um conjunto de circunstâncias que apanhou a FOM despreparada, acontecendo mesmo que o Grande Prémio da Austrália fosse disputado num circuito tradicional, a prova do Mónaco foi vítima das suas características – uma pista citadina que exige que todos os trabalhos comecem a ser realizados com mais de dois meses de antecedência quando se vive grande incerteza e condições que não permitem o distanciamento social exigido pelo combate à COVID-19.

Para além disso, os locais precisam de viver a sua vida e, se nas circunstâncias actuais os constrangimentos já são elevadíssimos – como podemos verificar no nosso dia a dia – imagine-se se uma cidade tivesse ruas fechadas, lojas encerradas, criando ainda maiores dificuldades aos seus habitantes devido a uma corrida de Fórmula 1.

Muito embora o programa do Grande Prémio de Singapura seja realizado, maioritariamente, durante a noite, a chegada da categoria máxima à cidade-estado causaria, obrigatoriamente, transtorno ao pulsar dos locais, o que poderia criar, inclusivamente, anticorpos entre os autóctones relativamente à categoria.

Na batalha à pandemia que aflige o globo, depois de um segundo surto, Singapura tem vindo a conter a disseminação do novo coronavírus e desde o início de Maio, muito embora os números de novos casos sejam ainda consideráveis, o número de óbitos por COVID-19 tem vindo a ser residual.

Em 2019 foram quase 270 mil pessoas que marcaram presença ao longo dos três dias do Grande Prémio de Singapura, grande parte delas estrangeiras, afirmando a organização da prova ser impossível realizar um evento sem público. “Uma vez que a corrida de Fórmula 1 de Singapura é realizada num circuito citadino, não é possível efectuar uma prova à porta fechada”, afirmou ao AutoSport uma fonte da Singapore GP Pte Ltd. Dificilmente as autoridades singapurianas assumirão o risco de expor a população a novo surto através de eventos desportivos, o que seria um perigo em potência, na eventualidade de voltar a ter uma prova da categoria máxima de bancadas cheias.

Existem ainda as dificuldades logísticas, dado que para que a prova possa ser realizada a 20 de Setembro, como estava previsto no calendário original de 2020, as obras na cidade para edificação do circuito terão de ser iniciadas com três meses de antecedência, colocando como data limite o dia 20 de Junho, dentro de menos de um mês. Pode não parecer ser um problema, mas, com as medidas impostas pelo estado de Singapura para conter a pandemia, tudo poderá ser mais demorado, começando o tempo a escassear.

No campo das questões relacionadas com o programa do evento, o Grande Prémio de Singapura, juntamente com as corridas, promove inúmeros concertos – o ano passado os Red Hot Chili Peppers e Gwen Stefani foram os cabeças de cartaz – o que não deverá ser opção para 2020, uma vez que criaria maiores ajuntamentos de pessoas e grande proximidade entre elas.

Acresce ainda as questões financeiras, sendo a prova de Marina Bay parcialmente suportada financeiramente pela Singapore Airlines, a companhia de bandeira da cidade estado, uma das mais respeitadas globalmente.

Como é do domínio público, a aviação foi uma das primeiras áreas a ser afectada pela pandemia do novo coronavírus, lançando-a para uma crise profunda e sem precedentes e deixando o sector dependente de subsídios do estado.

A Singapore Airlines não é excepção – no último exercício teve prejuízos de mais de 500 milhões de dólares – e não será fácil que consiga este ano juntar os 30 milhões de dólares de “race fee” que vão directamente para os cofres da FOM.

Ong Beng Seng, o homem por detrás do financiamento do Grande Prémio, recuperando o seu investimento através da sua cadeia de hotéis, bares e centros comerciais, também não estará motivado para abrir os cordões à bolsa, se não existir público para encher os seus estabelecimentos, criando ainda mais dificuldades à realização de uma prova este ano em Singapura.

Oficialmente, e apesar de não ter aparecido em nenhum dos esboços de calendários que surgiram recentemente, a organização da prova do traçado de Marina Bay garante que continua em negociações com a Fórmula 1 para encontrar uma solução para a sua prova, mas o AutoSport sabe que fará companhia aos Grandes Prémios da Austrália e do Mónaco, sendo a terceira corrida citadina a ser cancelada devido à COVID-19.

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