Fórmula 1: O que significa a possível saída de Toto Wolff da Mercedes?

Por a 16 Abril 2020 10:18

Por Jorge Girão

Os rumores que apontam para a ida de Toto Wolff para a Aston Martin têm vindo a intensificarem-se, mas qual seria o impacto da sua saída na equipa que venceu todos os títulos da Era Turbohíbrida?

O austríaco é uma figura em demanda, depois de ter transformado a estrutura de Brackley, que nasceu originalmente como BAR, numa máquina vitoriosa e na escuderia mais bem-sucedida da história da Fórmula 1, com doze ceptros conquistados consecutivamente – seis de pilotos e seis de construtores.

Wolff já foi apontado como possível na Ferrari, para liderar a equipa de Fórmula 1, e à presidência da FOM, mas aí a sua entrada terá sido vetada pela “Scuderia” na base de que nenhum ex-chefe de equipa deveria gerir a categoria máxima do desporto automóvel, dado ser-lhe difícil manter-se equidistante entre todos os concorreste do campeonato.

Agora é apontado à Aston Martin Lagonda, o construtor de automóveis britânico que este ano foi alvo de um forte investimento da parte do Yew Tree Consortium, liderado por Lawrence Stroll, mas também o austríaco poderá assumir-se como um dos acionistas da companhia.

Wolff começou a sua aventura no mundo das corridas como piloto, tendo mesmo chegado a vencer uma corrida no FIA GT na classe N-GT, mas o seu talento atrás do volante ficou muito aquém da sua capacidade de gestão, ingressando no mundo dos negócios das corridas em 2006, ao adquirir uma parte da AMG.

Em 2009 comprou acções da Williams, passando a fazer parte da gestão da equipa para em 2013 debandar para a Mercedes, com 30 porcento da equipa de Fórmula 1 no seu bolso.

O padrão é evidente, o crescimento da preponderância de Wolff no desporto automóvel é claro e, após anos a vencer parece estar pronto para novo salto, desta feita para ser tornar o CEO da Aston Martin Lagonda, que está agora sob o controlo do seu bom amigo Lance Stroll, o Presidente Executivo do grupo.

Os dois homens são inseparáveis há alguns anos, tendo realizado diversas viagens de Grandes Prémios juntos no jacto particular do canadiano. A última terá sido o regresso de Melbourne, tendo ambos se dirigido para as Maldivas, onde as respectivas esposas estavam já para passar uns dias de férias depois do Grande Prémio da Austrália ter sido cancelado e o do Bahrein ter sido adiado.

Por outro lado, a continuidade da Mercedes na Fórmula 1 está longe de estar garantida para lá do presente ano, ou de 2021, caso o atual Acordo da Concórdia seja alargado por mais uma temporada devido à situação despoletada pela pandemia da COVID-19.

O construtor de Estugarda estava já a implementar um programa de contenção de custos ainda antes da crise actual ter rebentado e com os tempos de incerteza que se avizinham, poderá ser difícil justificar o projeto de Fórmula 1, caso sejam necessários realizar despedimentos. Apesar das operações Brackley e Brixworth serem quase auto suficientes, a perceção pública poderia deixar a Mercedes numa situação difícil num momento em que a sociedade está debilitada.

Por outro, o contrato de Wolff com o construtor germânico termina no final do presente ano e, sem garantias da continuidade deste na categoria máxima do desporto automóvel, o austríaco quererá avaliar as suas possibilidades e garantir o seu futuro.

Para além disso, com a entrada Ola Källenius para o lugar de Dieter Zetsche no posto de CEO da Daimler, Wolff parece estar a perder espaço, tendo já sido desautorizado pelo seu novo “patrão” por duas vezes este ano.

Primeiro, na semana do Grande Prémio da Austrália, depois de uma reunião com John Elkann, o CEO da Ferrari, Källenius ordenou ao austríaco que abandonasse o “Grupo das 7”, que se opôs veementemente ao acordo entre a “Scuderia” e a FIA no seguimento das dúvidas quanto à legalidade da unidade de potência italiana.

Esta foi uma facada no ego de Wolff, que tinha sido o grande instigador da carta aberta enviada pelas sete equipas.

Alguns dias mais tarde, Källenius ligou ao austríaco para lhe sugerir que a Mercedes não deveria participar no Grande Prémio da Austrália devido à crise da COVID-19, contrariando o voto inicial de Wolff, que estava a favor da continuidade do fim-de-semana.

Em poucos dias sentiu que, com o novo CEO da Daimler, não terá a mesma liberdade que tinha com o seu antecessor e para alguém que colocou a equipa de Fórmula 1 da Mercedes no topo do mundo, o que lhe garante o seu ego, isso não será fácil, o que poderá atirar para os braços do seu amigo, Lance Stroll.

Este cenário tomou tais proporções, que Wolff se viu obrigado a “sair do confinamento sanitário” para desmentir qualquer plano para se passar de Brackley para Gaydon. “Não me tornarei no CEO da Aston Martin e também não vou realizar lá um investimento estratégico”, afirmou o austríaco à publicação do seu país Osterreich.

Porém, o gestor de quarenta e oito anos sublinhou que, a curto prazo, está com o seu actual empregador, muito embora reconheça algum mau estar. “Estou de alguma forma surpreendido pelos acontecimentos deste Inverno e pelo comportamento de alguns indivíduos.

É claro, isso também tem impacto na minha decisão sobre o que farei em 2020 e depois.

Mas vou manter-me como líder da Mercedes Motorsport e o chefe da Fórmula 1 e nada se alterará a curto prazo”, sublinhou Wolff.

O austríaco não coloca de parte, portanto, uma alteração na sua vida, muito embora garanta que este ano continuará a vestir de prateado.

Uma eventual saída de Wolff da Mercedes asseguraria um impacto profundo na categoria máxima do desporto automóvel a diversos níveis.

Uma das questões seria perceber como reagiria o construtor de Estugarda a esta saída. Com a equipa sem líder e, num momento em que as contrições financeiras serão bastantes, abandonar o projeto no final do atual Acordo da Concórdia seria uma opção fácil para Källenius e facilmente justificável perante a opinião pública, mesmo mantendo o programa de motores de Fórmula 1.

Outro reflexo seria a saída de Lewis Hamilton da Mercedes para a Ferrari, uma vez que dificilmente o hexacampeão mundial se manteria em Brackley sem Wolff, depois do desaparecimento de Niki Lauda, que foi quem o desviou da McLaren.

Todos estes aspetos estão interligados e dependentes entre si e, se nos próximos meses percebermos que o inglês reabre as negociações com Maranello, então poderemos ter a certeza de que Wolff deixará a Mercedes e esta talvez esteja de saída da Fórmula 1.

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Pity
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4 anos atrás

Quantos mais desmentidos tem Toto Wolf de fazer ainda, até que parem estes rumores? é que já fez, pelo menos, três, mas continuam a querer correr com ele da Mercedes, porquê?

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