Fórmula 1 em Portugal: Oportunidade única
Continua a espera pela divulgação da – pelo menos – segunda parte do calendário do Mundial de Fórmula 1 e por isso Portugal mantém a expetativa de ver confirmado o regresso da Fórmula 1 ao nosso país. Caso se confirme a corrida deverá realizar-se no Autódromo Internacional do Algarve a 4 de outubro.
A Liberty Media e a FIA deram a entender que queriam resolver a questão do restante calendário da Fórmula 1 até ao arranque do Mundial, mas pelo que se percebe, a situação continua indefinida em algumas latitudes. O presidente e CEO da Fórmula 1, Chase Carey, revelou que mantém o objetivo de organizar entre 15 e 18 corridas até ao final do ano, e já disse que os adeptos podem esperar que a próxima ‘parte’ do calendário de Grandes Prémios seja anunciada em breve: “Penso que nas próximas semanas vamos anunciar, pelo menos mais uma parte do calendário. Há uma série de corridas que já sabemos que constarão no calendário” . Carey gostava que a F1 fosse aos EUA, México e Brasil, mas a decisão tem que ser tomada rapidamente.
Numa entrevista ao Jornal Económico, Paulo Pinheiro, CEO do AIA explicou que o estado português terá de fazer um investimento que “oscilará entre os 3 e os 3,5 milhões de euros. Só quando tivermos o contrato é que podemos ter acesso a toda a informação para definir o âmbito total do investimento afeto a uma prova de Fórmula 1”, disse à mesma fonte.
Ou seja, para que se perceba a vantagem da oportunidade, Portugal tem a hipótese de receber um Grande Prémio de Fórmula 1, 24 anos depois do último Grande Prémio de Portugal se ter realizado no Estoril em 1996, por um valor 10 vezes menor do que aconteceria se Portugal se candidatasse a receber novamente a Fórmula 1. E mesmo, 30 milhões é para “começo de conversa”, e haveria sempre que esperar algum tempo até ser possível ter a corrida. Para além disso, 30 milhões… por cada ano de contrato. E para se ficar a perceber ainda melhor o que vale a Fórmula 1: há países do Médio Oriente e da Ásia, em que as conversas já andam nos 70-80 milhões de dólares. Portanto, perceba-se o que vale hoje em dia a Fórmula 1. Muito podem dizer que não, mas é o ‘mercado’ diz que sim, pois quando há quem se prontifique a pagar…é porque entende que vale.
E os valores necessários que o estado português invista, são para melhoramentos no circuito, um novo asfalto, por exemplo, entre outras várias medidas que a F1 exige para correr nessas pistas, que têm maioritariamente a ver com segurança, nada têm a ver com o retorno.
No último estudo conhecido, o impacto económico do Vodafone Rally de Portugal de 2019, gerou 141,2 milhões de euros na economia nacional, mais 2,9 milhões que a edição anterior, registando um novo recorde no impacto que o evento provoca anualmente no país sendo que mais de metade do retorno verificou-se em despesa direta assegurada por adeptos e equipas nas regiões do Norte e Centro onde decorreu a prova do Automóvel Club de Portugal: 73,42 milhões de euros. Isto é no WRC, imagine-se a Fórmula 1, que tem um impacto muito, mas muito maior que o WRC no mundo.
Voltando às declarações de Paulo Pinheiro ao Jornal Económico, “Os estados de cada país (ndr, na Europa) têm de pagar entre 27 a 36 milhões de euros para ter um Grande Prémio de Fórmula 1 por causa da visibilidade que tem para todo o mundo e do impacto quase incomparável face ao retorno que o país terá, por via dos impostos, fruto da faturação que se gera. Tudo isso tem impacto direto na nossa economia, seja na componente dos impostos seja na criação de valor acrescentado”. Mesmo tendo em conta que o impacto da eventual prova deste ano possa não ser tão elevado, devido à situação de pandemia que passamos, o ‘negócio’ será sempre altamente lucrativo para Portugal.
Para além disso, neste momento ainda não se sabe se o GP de Portugal (ainda e sempre, caso seja confirmado no calendário) pode ter, ou não público. Caso isso suceda, é natural que o acordo com a Liberty Media seja diferente, mas sempre vantajoso para Portugal. Ou seja, para sermos claros, a partilha de receitas seria eventualmente feita de forma justa e as palavras de Paulo Pinheiro são claras: “Somos uma entidade privada e, no final, temos de pagar os ordenados e as contas. Se vou bloquear o meu circuito para criar um evento mundial em que o maior beneficiado é a região e o país, direta e indiretamente, não posso pagar essa fatura. Há uma componente que é da minha responsabilidade e que assumo, mas há outra que é a da promoção e estamos a falar de um valor super descontado que, de outra maneira, seria completamente impossível ter uma corrida de Fórmula 1 em Portugal sem pagar os tais 30 ou 40 milhões de dólares. Estamos a falar de metade daquilo que seria a receita direta do IVA e da bilheteira”.
Portanto, Paulo Pinheiro pretende que “uma pequena parte da visibilidade que o Estado assegure seja comparticipada pelo Turismo de Portugal, de forma perfeitamente clara e transparente, com métricas de avaliação que queremos e desejamos que sejam perfeitamente definidas, até para se perceber o impacto que a corrida tem. Queremos que a corrida seja um sucesso para o país e para a região, todos merecemos isso depois do que passámos. Não quero perder dinheiro com a Fórmula 1″, disse ainda na mesma entrevista ao Jornal Económico.
Mas afinal, que retorno pode trazer a Fórmula 1? Paulo Pinheiro sabe que pode haver público nas bancadas do AIA, pouco, muito, ou o que o AIA poder comportar. Não se sabe isso neste momento, o que se sabe é que a possível vinda da F1 a Portugal em 2020 é uma possibilidade muito forte, e com ela uma receita de bilheteira que pode chegar a 35 milhões de euros: “fazendo uma extrapolação do que são outras corridas na Europa pelo preço médio dos bilhetes, se calcularmos entre 30 a 60 mil espetadores, estamos a falar de um intervalo que vai dos 17 aos 35 milhões de euros de receita de bilheteira”.
Quanto ao impacto económico: “Nos estudos preliminares, estimamos que só a estrutura da Fórmula 1, as equipas e toda a organização de suporte das corridas possam trazer um impacto económico direto entre 25 a 30 milhões de euros”, disse Paulo Pinheiro, ainda e sempre ao Jornal Económico.
Até aqui falámos da parte económica, muito bem explicada pelo Jornal Económico. Mas agora vem a desportiva. Voltando um pouco atrás, ao ralis, já que Portugal recebe há muito uma prova do WRC, o custo dessa prova ronda os 3,5 milhões de euros anuais e o estudo de impacto económico avaliou em 141,2 milhões de euros. Mesmo que esse números possam ser um pouco otimistas, pois são, naturalmente, feitos por extrapolação de cerca de 1000 entrevistas no terreno, os números da Fórmula 1 multiplicam-se, provavelmente, por 10.
Veja o custo das provas. 3,5 milhões de euros o Rali de Portugal, uma prova de Fórmula 1 na Europa custa ao Promotor nunca menos de 30 milhões. E se custa isso é porque o impacto que traz ao seu país, é gigante, porque se não fosse assim, ninguém queria ter F1 por esses valores. Até se pode achar que o valor é alto, mas a verdade é que tem havido até aqui 10 Grandes Prémios de Fórmula 1 na Europa, e só um deles não paga, o Mónaco. Itália (Monza) paga cerca de 10 milhões, e o mais ‘barato’ fora da Europa é o Canadá, que paga cerca de 20 milhões de dólares. Para que se perceba a diferença, Abu Dhabi paga cerca de 70 milhões de dólares, Singapura, 65 milhões.
A Fórmula 1 é o pináculo do desporto motorizado, e tem números absolutamente estonteantes, ainda que os motores (em termos gerais) estejam fora do top 3 da lista mundial de desportos: 1º Futebol; 2º NBA, 3º Boxe; 4º ‘Motores’, 5º Golf, 6º NFL, Futebol Americano; 7º Ténis; 8º Hóquei no Gelo; 9º Basebol; 10º Ciclismo. Portanto, vendo o que está a ser comparado, tem-se uma ideia do que vale a F1, sendo que esta lista atrás apresentada diz respeito à globalidade dos ‘Motores’. Há como se sabe, grandes eventos motorizados que também valem muito, o WRC, 24 Horas de Le Mans e Dakar. Para não falar das Indy 500 ou da própria NASCAR.
O Impacto económico direto de uma possível corrida de Fórmula 1 em Portugal dificilmente fica abaixo de 170 milhões de euros, e o Algarve pode tirar grande partido disso, pois a região, como se sabe, tem grande capacidade de gerar receitas de turismo, e quem porventura visitasse Portugal para a Fórmula 1, uma grande percentagem, provavelmente voltaria ali de férias num futuro próximo.
É só mostrar-lhes o que há por ali…
Por fim, sendo verdade que Portugal está perto de receber a Fórmula 1 este ano, isso passar a acontecer daqui para a frente é uma conversa totalmente diferente. Não diríamos ser totalmente impossível, mas com os valores necessários de investimento, não seria nada fácil. Mas, e como há sempre um mas, há sempre a possibilidade da globalidade da Fórmula 1 gostar tanto da visita a Portugal – a temperatura média de Portimão em outubro é de 16º de mínima e 24º de máxima – que queiram vir cá mais vezes. É que a pista é estrondosa, imaginamos que dará uma excelente corrida de F1, uma espécie de ‘montanha russa’, as instalações são do melhor que há, hotéis não faltam, resta sonhar com a possibilidade.
Vamos lá a ter calma, e deixar de lado as demagogias. Estar aqui a falar dos números do Rally de Portugal, e dos 140 milhões de retorno, neste momento, com os dados que temos, é apenas isso: demagogia. Tal como os números de bilheteira. Como se sabe, Portugal vai receber a fase final da Champions, em futebol. Futebol esse, que como o próprio Autosport reconhece, está muito à frente dos “motores” em termos de números movimentados. Infelizmente, é assim. E neste momento, a perspectiva de bilheteira para o futebol, é zero. Mesmo sabendo que deve haver um intervalo de 2… Ler mais »