Fórmula 1: As polémicas da temporada
Todas as temporadas são marcadas por algumas polémicas que se vão estendendo ao longo do ano e 2020 não é excepção, havendo matéria para muita prosa.
Ainda antes das equipas rumarem para a Austrália e já se vislumbravam assuntos que iriam fazer correr muita tinta, mas com a pandemia da COVID-19 que levou ao cancelamento do primeiro Grande Prémio da Austrália e o adiamento do começo da época, tudo ficou em banho-maria. Contudo, com o início do campeonato, a natureza competitiva das equipas vai colocar de lado o apaziguamento dos últimos meses.
O Mercedes Cor de Rosa
Assim que o Racing Point RP20 Mercedes foi apresentado em Fevereiro em Barcelona que o espanto ocupou o paddock, dadas que as suas semelhanças com o Mercedes F1 W10 eram evidentes.
Quando Andy Green, director técnico da equipa de Silverstone, assumiu que tinha copiado o conceito do carro da Mercedes de 2019 então estalou o verniz, estando na linha da frente a Renault e a McLaren, as formações que mais poderiam ter a perder com uma subida de forma expressiva da Racing Point.
As semelhanças entre os dois monolugares são de tal forma evidentes que a Mercedes viu-se obrigada a garantir que nada tinha a ver com o processo de criação da RP20.
No entanto, a clara ligação entre as duas equipas – o construtor de Estugarda fornece unidade de potência, caixa de velocidades e periféricos à Racing Point – continuou a deixar dúvidas a Zak Brown e a Cyril Abiteboul.
Dificilmente poderá ser provado que o RP20 foi concebido com ajuda da Mercedes, mas os homens da McLaren e da Renault, caso sejam acossados pela Racing Point, não deixarão cair o assunto no esquecimento.
DAS
A Mercedes espantou o mundo durante os testes de Inverno quando foi aparente através das transmissões televisivas que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas movimentavam longitudinalmente o volante da sua montada para alterar a convergência das rodas dianteiras.
Com este dispositivo, o DAS, a Mercedes pretende aumentar a velocidade de ponta, uma vez que as rodas dianteiras ficam completamente paralelas com o sistema accionado, oferecendo menos resistência ao avanço, para além de proteger os pneus do aquecimento.
No entanto, a Ferrari, sem nunca se mostrar verdadeiramente contra o DAS, sempre foi dizendo que apresentou um dispositivo semelhante à FIA e que foi considerado ilegal.
A Red Bull foi mais longe e nunca se mostrou convencida da legalidade do sistema, apesar dos comissários técnicos terem opinião contrária, apontando que não respeita o regulamento do parque fechado, uma vez que altera a configuração da suspensão.
Os responsáveis da equipa de Milton Keynes chegaram mesmo a afirmar que protestariam o Mercedes W11 em Melbourne, caso o DAS fosse usado.
O traçado do Red Bull Ring, com as suas rectas e curvas de baixa velocidade, é um dos circuitos onde o sistema de Mercedes mais dividendos poderá tirar.
A Red Bull já garantiu que o assunto não está esquecido e um protesto poderá estar para breve.
Acordo FIA/Ferrari
No final do último dia da segunda bateria de testes de Barcelona deste ano a FIA emanou um comunicado de imprensa em que anunciava ter chegado a um acordo com a Ferrari no âmbito das suspeitas quanto à legalidade da unidade de potência de 2019 da equipa transalpina, dado não ter meios para provar que era ilegal.
Isto enfureceu a Red Bull, a Mercedes e a Renault, que pretendiam saber o que continha o citado acordo, uma vez que a entidade federativa afirmava que este seria apenas conhecimento das duas partes envolvidas.
Esperava-se que no Grande Prémio da Austrália a polémica estalasse verdadeiramente, mas a pandemia interveio e o assunto ficou em banho-maria, tendo a Mercedes abandonado o “Grupo dos 7” – sete equipas reuniram-se para pedir esclarecimentos à FIA em termos bastante decididos – ainda antes da prova de Melbourne.
Com a saída da equipa de Brackley, a frente contra a Ferrari perdeu força, mas a Red Bull e a Renault não deixarão de o trazer o tema de novo para cima da mesa, sobretudo, se as unidades de potência de Maranello voltarem a mostrar performances inacessíveis pelas suas congéneres de outros construtores.
Renault/Ricciardo
Se Sebastian Vettel não renovou com a Ferrari, mas é possível ver algum respeito entre as duas partes, já a saída de Daniel Ricciardo da Renault no final do ano parece ter deixado muito agastado os homens da Renault, tendo Cyril Abiteboul deixado escapar o seu profundo desagrado de uma forma quase deselegante num comunicado de imprensa, sempre visto e revisto para que seja dito o que realmente se pretende. Ou seja, se aquela foi a reacção do francês, é por que realmente essa era a desejada.
Isto aponta para uma temporada difícil do australiano num ambiente que seguramente lhe será adverso. É claro que os homens da Renault não tentarão sabotar o Ricciardo, mas é evdiente que todas as atenções estarão viradas para Esteban Ocon, que continuará na equipa para lá deste ano.
Sendo assim, tensões entre “Dani Ric” e os responsáveis da formação de Enstone são mais que esperadas, são quase uma certeza.
A polémica entre as duas partes poderá ter uma nova dimensão se, como aponta a “Cadena Ser”, o australiano for substituído por Fernando Alonso ainda no decorrer deste ano.