Fórmula 1, Alonso e Renault: uma bomba relógio?
A contratação de Fernando Alonso pela Renault é uma das histórias do ano, mas se para a Fórmula 1 as vantagens são óbvias, existe o risco deste casamento, que já esteve no paraíso, acabar em amargura.
Há já algumas semanas que a entrada do espanhol na equipa de Enstone vinha a ganhar força e esta quarta-feira, ao início da tarde, foi confirmado o terceiro enlace entre as duas partes, o que acaba por garantir algum lastro, para o melhor e para o pior.
A Renault poderia ter apostado na juventude, mas tendo em vista o futuro a mais médio/longo prazo tem já num dos carros Esteban Ocon, de vinte e três anos.
Para além disso, poderia ir à sua academia buscar Christian Lundgaard, o único que tem na sua posse uma Superlicença, mas o dinamarquês está ainda verde para integrar uma equipa de Fórmula 1, algo de normal para alguém que tem apenas três anos competição automóvel.
Por seu lado, que no passado fim-de-semana brilhou na primeira ronda do Campeonato FIA de Fórmula 2, não tem ainda os pontos suficientes para poder aceder à categoria máxima do desporto automóvel, podendo conquistá-los esta temporada, mas não é seguro.
Face a este cenário, seria prudente a Renault não levar em consideração um dos melhores pilotos do mundo ainda com as suas capacidades intactas?
Não parece, até por que, com Fernando Alonso, rapidamente fará esquecer Daniel Ricciardo, dando a volta por cima ao mostrar que um bicampeão mundial acreditou num projecto em que o australiano, que tem “apenas” sete vitórias na Fórmula 1, não apostou.
A contratação de Alonso tem ainda o condão de motivar a equipa e de recordar os feitos de há quinze anos a todos os que ainda permanecem na estrutura.
Na verdade, sem que Vettel seja uma verdadeira opção, e mesmo que fosse, não existia no mercado outro piloto que tivesse um impacto tão forte na equipa. Porém, nem tudo são rosas.
Com a entrada de Fernando Alonso, um bicampeão comprovado e considerado por muitos como um dos melhores pilotos de todos os tempos, a Renault fica exposta como nunca ficou, e se os resultados, ou uma evolução não for evidente, todo o projecto ficará em causa, obrigando a alterações profundas em toda a sua estrutura, com o lugar de Cyril Abiteboul em risco.
Por outro lado, existe ainda a personalidade explosiva do espanhol.
O piloto de Oviedo pode ser um verdadeiro jogador de equipa e pode até carregá-la às costas – que o diga a Ferrari, em 2012, ou a McLaren – mas a partir do momento em que sente que as expectativas estão a sair goradas, rapidamente a sua personalidade irascível vem ao de cimo, não sendo impossível criticar publicamente de forma clara aqueles com quem trabalha, como a Honda o pode atestar.
Este panorama poderia ser crítico para a Renault e olhando para o passado recente da equipa, são diversos os episódios em que falha alcançar as suas próprias expectativas, deixando espaço para uma explosão com epicentro em Oviedo…
Do lado do espanhol, o principal risco será manchar o seu legado. Alonso tem um talento que ultrapassa em muito os resultados que conquistou na Fórmula 1, tendo algumas más decisões quanto a mudanças de equipa o deixado numa situação desfavorável face a Lewis Hamilton e a Sebastian Vettel, os pilotos que dominaram a década.
Se o seu regresso à Fórmula 1 e à Renault terminar em lágrimas, os longínquos títulos de meados da primeira década do século não passariam de uma distante memória dominada por frustrações recentes, mancando o legado daquele que é um dos melhores pilotos da história do automobilismo.
Dificilmente este novo casamento entre as duas partes poderá acabar em títulos, Alonso, com trinta e oito anos, tem o tempo contra si, mas se a equipa evoluir e mostrar ser capaz de lutar por pódios em dois anos, a bomba de Oviedo poderá ser contida… Se a Renault continuar no marasmo da última temporada, então a explosão poderá ter proporções épicas…