Fórmula 1: Acordo da Concórdia rumo ao futuro
Na passada semana as dez equipas de Fórmula 1 deram o seu aval ao novo Acordo da Concórdia para o período 2021-2015. Vêm aí novas regras, teto orçamental, e a F1 dá os passos certos para o futuro. Um enorme ponto de viragem.
A F1 anunciou na passada semana que todas as 10 equipas rubricaram o novo Acordo da Concórdia, documento que estabelece os termos em que as equipas competirão até 2025. Este é claramente um momento decisivo para a Liberty Media, que conseguiu impor o teto orçamental e agora tem acordos com todas as equipas, colocando novamente nos trilhos uma competição que estava a criar cada vez maiores clivagens entre os seus protagonistas. Em termos simples, o Robin dos Bosques da Liberty Media tirou dinheiro aos ricos e permite agora aos ‘pobres’ competirem de forma mais digna.
Mas afinal, o que é o Pacto da Concórdia? Trata-se duma espécie de contrato entre a FIA, as equipas de Fórmula 1 e o Formula One Group, o Promotor, que dita os termos pelos quais as equipas competem e como se dividem as receitas televisivas e de patrocínios, e todo o restante dinheiro dos prémios. Até hoje existiram sete Acordos da Concórdia, cujos termos foram sempre mantidos em segredo no seu detalhe, que não em termos gerais: o primeiro surgiu em 1981, seguindo-se outros em 1987, 1992, 1997, 1998, 2009 e o atual acordo, que se iniciou em 2013.
O propósito dos acordos é de encorajar o profissionalismo e aumentar o sucesso comercial da F1. Inicialmente, o fator mais importante para o conseguir foi a obrigação das equipas em participar em todas as corridas, tornando assim o desporto mais fiável para as TV que foram investindo cada vez mais fortemente na aquisição de direitos de transmissão. Em troca, foi garantida às equipas uma percentagem das receitas comerciais do desporto. É assim até hoje.
Voltando ao novo acordo, Ferrari, Williams e McLaren foram as primeiras a anunciar a sua aceitação, com a F1 a confirmar posteriormente que as sete equipas restantes também já tinham acordado os novos termos. Em comunicado, a Fórmula 1 disse que: “O acordo garantirá o futuro sustentável a longo prazo para a F1, o que combinado com o novo regulamento, que entrará em vigor em 2022, reduzirá as disparidades financeiras e em pista, ajudando a nivelar a competição. Com corridas mais equilibradas, atrairemos mais adeptos para o nosso desporto e continuaremos a aumentar o crescimento global da Fórmula 1”.
Chase Carey, Presidente e CEO da F1, disse que “o novo acordo criará um ambiente financeiramente mais justo, e colmatará as lacunas entre as equipas. Todos os nossos adeptos querem ver corridas mais equilibradas, ação roda a roda e cada equipa ter a oportunidade de subir ao pódio”, concluiu Carey.
Jean Todt, Presidente da FIA, acrescentou: “A conclusão do novo Acordo da Concórdia entre a FIA, a F1 e as dez equipas atuais assegura um futuro estável. Ao longo dos seus setenta anos de história, a F1 desenvolveu-se a um ritmo notável, elevando os limites da segurança, tecnologia e competição para os níveis absolutos, e hoje confirma que está prestes a começar um novo e excitante capítulo dessa história. Durante os desafios globais, sem precedentes, que atualmente se colocam a todos, em todo o mundo, estou orgulhoso pela forma como todos os intervenientes trabalharam em prol dos melhores interesses do desporto e dos adeptos, para acordar o caminho para uma competição mais sustentável, justa e emocionante no pináculo do desporto motorizado”.
O que significa o novo acordo
As 10 equipas de Fórmula 1 rubricaram o acordo, e isso significa que se não houver nenhum ‘cataclismo’, ficam na F1 por mais cinco anos.
Este acordo irá vigorar entre 2021 e 2025 e é o primeiro a ser concluído pelos novos proprietários da F1, a Liberty Media, liderado pelo CEO da empresa, Chase Carey. Este novo acordo é dos mais significativos porque os novos patrões da F1 têm-se empenhado em construir uma base sólida sobre a qual assegurar o futuro a longo prazo da competição.
Para já conseguiram algo novo e revolucionário, o teto orçamental, que será introduzido no próximo ano, juntamente com novas regras técnicas e um novo conjunto de regras desportivas que estão previstas ser introduzidas em 2022. Este novo acordo comercial, visa reduzir as disparidades financeiras entre as equipas, nivelar o plantel em termos de prémios monetários, e com isso encurtar a lacuna de desempenho existente.
Neste momento temos 10 equipas garantidas para os próximos cinco anos, regulamentos e teto orçamental definido, e com isto a F1 pode finalmente mudar para uma nova era, com muito mais equilíbrio em pista do que tem sido vistos nos últimos anos.
Em teoria, ‘tira-se’ dinheiro aos mais ricos, que ganham mais vezes e com isso aumentavam o fosso para as restantes equipas. Passando a haver uma distribuição mais equitativa do dinheiro, as equipas mais pequenas podem colocar de pé projetos melhores, e com isso tornarem-se mais competitivas em pista o que em última análise equilibra o plantel e melhora o espetáculo das corridas.
Apesar do acordo com as 10 equipas ter sido alcançado, o novo Pacto da Concórdia continua a ter ‘exceções’ e um deles é que a Ferrari mantém o seu direito de veto sobre os regulamentos de F1, bem como um bónus que pretende refletir a sua longa história no Mundial de F1, que como se sabe remonta 1950, primeiro ano da competição.
Os quatro fabricantes de motores também irão receber um valor pelo facto de fornecerem motores e por terem um papel forte no que é a F1 de hoje. Embora, como sempre, não se saibam os detalhes do acordo, como sempre, todos (entenda-se as equipas maiores) tiveram que fazer cedências por um bem maior, e apesar de ser difícil notar grandes diferenças a curto e mesmo a médio prazo, a verdade é que, em teoria o acordo permite mais equidade e isso vai refletir-se, mais cedo ou mais tarde. Recebendo mais dinheiro, as equipas do meio do pelotão vão ter mais estabilidade e isso permite que as equipas se possam aproximar mais da frente. Seja como for, continuará a haver mais dinheiro para quem vença mais vezes, mas a diferença para o que existia é significativa. Só assim valeria a pena.
Apesar dos termos do acordo serem confidenciais, sabem-se alguns detalhes. Deixou de haver um pagamento especial para diversas equipas, com a exceção da Ferrari, por ser a… Ferrari. Seja como for há uma fatia para um grupo de equipas ‘históricas’. Vencedoras de campeonatos e que tenham ficado no top 10 na última década são elegíveis para esta fatia, que está indexada aos ganhos da F1. Acredita-se que é de 20%. A Ferrari também aqui está, mas também Mercedes, Red Bull, McLaren, Renault e Williams.
Dantes, havia várias colunas que tornava a diferença entre quem ganhava mais e menos, abismal, mas agora acredita-se que a equipa Campeã recebe 14% e a última classificada, 6%. Não se conhecem os valores anteriores, mas a margem é agora menor. Onde a diferença se fará sentir bastante mais é nas equipas mais pequenas como a Haas e a Alfa Romeo, pois a fatia será bem mais justa.
Basicamente, este acordo tornará os construtores de F1 em termos coletivos, mais fortes a longo prazo. Mas não se julgue que vai revolucionar fortemente a correlação de forças. Provavelmente, essa diferença sentir-se-á mais quando as equipas maiores tiverem que passar a gastar muito menos do que gastaram até aqui. Para os adeptos a diferença é mínima em termos de espetáculo, mas para as equipas pequenas a diferença é enorme, pois uma equipa de 300 pessoas não pode nunca conseguir ganhar a outras três que têm mais de 1000 pessoas a trabalhar.
Tem que fazer uma enorme diferença, e tem feito ao longo dos anos. Portanto, vão ser reduzidas as disparidades financeiras e isso vai nivelar o plantel. Não para já, mas dentro de algum tempo existirão condições para uma equipa diferente, que não Mercedes, Red Bull ou Ferrari, ganhem Grandes Prémios. Pelo menos, um de vez em quando…