Fenómenos da Fórmula 1: Guy Ligier, o amigo do presidente
Guy Ligier nunca teve resultados de relevo como piloto de Fórmula 1, mas a sua influência sentiu-se durante várias décadas, abrindo caminho para vários projetos franceses e inclusive criando a sua própria equipa, que conquistou dez vitórias entre 1977 e 1996. Ligier ainda está ativo no desporto automóvel, construindo barquetas de sport
Empurrado pelo seu pai para praticar desportos, Guy Ligier fez parte das equipas nacionais francesas de remo e de râguebi, ainda que nunca tenha tomado parte em jogos internacionais com a equipa principal. Cansado de ser ignorado pelos seus treinadores, virou-se para a competição motorizada, primeiro com motos e depois, a conselho do jornalista GérardCrombac, nos automóveis.
Nas motos, ainda venceu duas vezes a France Internationale, mas nos carros demorou a ganhar experiência. Correndo nas provas francesas de monolugares, estabeleceu uma profunda amizade com JoSchlesser, com quem abriu um concessionário e montou a equipa Ford France, para correr nas provas de Fórmula 2. Ao mesmo tempo, Ligier tornou-se um bem sucedido homem de negócios na área da construção civil, trocando favores com vários políticos locais em ascensão, incluindo o futuro presidente de França, François Mitterrand.
Com a sua fortuna acumulada, Ligier comprou um Cooper-Maserati igual ao usado pelas equipas oficiais. Mas com 36 anos de idade, nunca pôde atingir grandes resultados. No GP da Alemanha, quase ficou sem uma perna num horrível acidente em que sofreu 47 fraturas. Demorou quase um ano para voltar às corridas, comprando um Brabham-Repco usado por DennyHulme. Vingando-se do desaire do ano anterior, marcou o único ponto da sua carreira no Nürburgring, em 1967, retirando-se parcialmente das corridas, mas correndo ocasionalmente na F2 e nas provas de resistência. Ligier já tinha uma estrutura técnica montada, raro nas pistas francesas, onde a maior parte dos pilotos eram também os concorrentes que inscreviam os carros.
Regresso como chefe
A morte de JoSchlesser no GP de França quase o levou a abandonar definitivamente os automóveis, mas Ligier decidiu avançar com os seus planos para construir carros com o seu nome, homenageando o seu amigo colocando as iniciais JS em todos os carros. O JS1 e o JS2, equipados com motor CosworthDFV, eram bastante rápidos, e a Porsche fez pressão junto da FISA para aumentar as unidades necessárias para homologar GT de competição.
Em 1976, Guy Ligier regressou à F1, mas desta vez do outro lado do muro. As conexões políticas valeram-lhe o apoio da tabaqueira governamental, a SEITA, com os cigarros Gitanes, bem como da Elf. Nos anos 80, quando a relação com a Talbot azedou e a equipa teve problemas financeiros, essas conexões valeram-lhe novamente, garantindo-lhe o fornecimento de motores Renault turbo e o apoio da Loto, a lotaria nacional francesa.
A Ligier continuou na F1 até 1996. Nessa época, Ligier já tinha cedido algum controlo da sua equipa, que Flavio Briatore vendeu como intermediário a Alain Prost. Guy Ligier dedicou-se a construir microcarros, que já fazia desde o final dos anos 70, e em 2004 comprou a Automobiles Martini, fazendo sport-protótipos de 2 litros, muito populares em França.
Por Paulo Manuel Costa