Felipe Massa: “A Fórmula 1 do tempo do Senna era chata”.
Sucederam-se as entrevistas a Felipe Massa durante o seu último GP em Interlagos, casa que o viu crescer, sorrir e chorar. Massa é sem dúvida um dos melhores pilotos no traçado brasileiro, e teve uma despedida emocional, nesta que se pensa ser a retirada definitiva do piloto.
Massa teve oportunidade de falar sobre vários temas, entre os quais a F1 atual, que considerou interessante, especialmente os carros que são mais divertidos e exigentes de conduzir a nível físico e técnico, defende que a preciso simplificar um pouco a competição e evitar as grandes diferenças entre pilotos, para que as corridas fiquem emocionantes. Lembrou também os tempos da Ferrari, onde tentou aprender o máximo com Schumacher (que considera um dos melhores de sempre juntamente com Senna), a convivência difícil com Alonso, o titulo perdido em 2008, o futuro pouco brilhante do Brasil na F1 com poucos pilotos em perspetiva para subir à F1.
Uma das declarações que fez que poderá causar divergência de opiniões teve como foco a época de Senna, que muitos consideram de ouro, mas que o brasileiro não teve problemas em considerar chata: “A F1 do tempo do Senna era chata”. É uma opinião partilhada por vários pilotos e Alonso no início deste ano mostrou a mesma opinião. É algo que pode chocar os mais puristas, mas que faz algum sentido se comparáramos os números com a hegemonia Mercedes dos últimos anos:
Começando pela época de 1988, Senna foi campeão com 90 pontos e Prost segundo com 87. O 3º classificado, Gerard Berger ficou com 40 pontos… menos de metade dos primeiros classificados. 15 vitórias em 16 provas fez da McLaren campeã de construtores com 199 pontos contra 65 do segundo classificado Ferrari. A Mercedes em 2014 venceu 15 em 19, sendo campeã de construtores com 701 contra 405 da Red Bull.
Em 1989, Prost foi campeão com 76 pontos contra os 60 de Senna e 40 de Patrese. 10 vitórias em 16 provas e vitória da McLaren por 141, contra os 77 da Williams. A Mercedes em 2015 venceu 16 em 19 sendo campeã com 703 contra 428 da Ferrari.
Em 1990 Senna foi campeão com 78 pontos, contra os 71 de Prost e 43 de Piquet. Seis vitórias para a McLaren e novo título com 121, contra os 110 da Ferrari. Em 2016 os germânicos venceram 19 corridas em 21 e foram campeões com 765 pontos contra 468 da Red Bull.
No ano de 91 Senna voltaria a vencer e a McLaren a conquistar sete vitórias mas nesse ano o domínio começou a desaparecer.
O tempo médio de diferença entre os McLaren e os carros que acabavam na posição imediatamente a seguir (2º ou 3º posto) foi de 45 segundos em 1988.
Para além disso há as ultrapassagens: em 1988 a média de ultrapassagens por GP foi de 30, em 1989 foi de 34 e em 1990 foi de 30.
Em 2014 a média de ultrapassagem foi de 43 por corrida em 2015 foi de 31 e em 2016 de 49.
Como se pode facilmente concluir, as similaridades das duas épocas podem chegar a ser surpreendente. Um piloto fogoso, de capacete amarelo, com uma grande falange de apoio, contra um piloto mais metódico, frio. É uma descrição que pode ser usada para falar da rivalidade Senna vs Prost ou Hamilton vs Rosberg.
Tentar perceber qual das eras é a mais interessante e melhor, é um exercício desnecessário. Cada era deu ao desporto coisas únicas, mas as pessoas relembram sempre com mais saudade o passado que talvez tenham criticado quando era presente. O “antigamente é que era” é uma expressão tão usada, mas que faz tão pouco sentido, e vendo os números, pode perceber-se que uma das épocas que menos consenso reúne entre fãs, é muito semelhante ao que se viveu numa das épocas de ouro. Isto deve fazer-nos pensar no que realmente mudou desde então até aqui.
E a resposta é simples… o mundo mudou. Nos anos 80 a oferta de entretenimento era muito menor e a F1 era daqueles eventos que fazia parar, pela grandiosidade, pela emoção e pela tecnologia. Hoje em dia a F1 não consegue atrair tantos fãs pois a sociedade também mudou e tem muito mais escolha para passar o tempo. Os mais jovens não vão perder 5 minutos a ler este texto, quanto mais ficar hora e meia em frente a TV a ver F1. Modalidades como o WRX ganham terreno por ser uma modalidade fácil de “digerir” … uma sucessão de corridas curtas cheias de ação. Pode-se falar da “falta de sal” dos pilotos da atualidade em comparação aos homens de caráter do passado… mas quando ouvimos Alonso, Hamilton, Verstappen entre outros, vemos que não falta o caráter e a força para dizer o que pensam… as máquinas de comunicação é que por motivos óbvios nem sempre o permitem.
A F1 não fez o devido trabalho para manter o interesse e atrair novos fãs e comparar a presença da F1 na publicidade das nossas vidas com o futebol, por exemplo, é claro que o mundo do esférico ganha pois soube capitalizar o interesse dos fãs. Somos inundados por futebol, que agora até dá nos 3 canais generalistas ao mesmo tempo (por uma excelente causa), enquanto que a F1 ocupa as notas de rodapé dos noticiários, a não ser que haja acidentes. E assim acontece com outras modalidades do automobilismo. Há coisas que devem ser melhoradas, mas há também raciocínios que devem ser abandonados. A F1 mantém as mesmas virtudes (e alguns defeitos do passado) e por isso não é melhor nem pior… é diferente pois o mundo que a rodeia também é. Os novos carros são espetaculares, os novos motores são peças de engenharia espantosas, os pilotos estão muito melhor preparados quer tecnicamente quer fisicamente. Apenas um saudosismo extremo motivado por uma corrida menos animada leva a recordar outros tempos, cuja a bruma da memória nos impede de ver que eram semelhantes. Todas as eras e seus participantes merecem ser recordadas com o respeito devido e sem tentativas de comparação.
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Notícia repetida.
O AutoSport está de parabéns por finalmente ter alguém que escreve com lucidez. Excelente artigo.
Concordo so2310..
Então quando comparamos com as cagadelas que o Nuno Barreto Costa aqui deixava…
Podemos concordar ou não com o jornalista ( e muitas vezes não concordo) mas é inegável que trabalha e se documenta no sentido de nos deixar aqui artigos relevantes.
Parabéns Fábio.
Isso é a opinião dele deveria revelar mais respeito na forma como o disse.
ler a ignorância do xor Massa frustrada é hilariante
o asno diz que a Mclaren venceu 11 corridas em 1990 quando só venceu 6 todas do Senna e que o Senna venceu 6 corridas em 1991 quando venceu 7, lol
O que não fica nada bem é o recurso a expressões insultuosas, só serve para baixar o nível do fórum. Se houve erro do jornalista bastava a devida correção não lhe parece?
Quanto ao resto são opiniões, quem não concorda tem aqui o espaço para apresentar a sua.
É sempre pessoal o gosto do adepto em relação a cada época, eu gosto é de lutas entre várias equipas, tivemos isso em algumas temporadas em que o Senna correu, outras não. Chato é saberes que apenas uma equipa ganha e a duvida é saber qual dos dois pilotos dessa equipa ganha, de resto o último GP do Brasil teve esse frenesim, pena foi que os RB não estivessem lá na frente também.
É claro que as opiniões são como os umbigos, cada um tem o seu. Ir buscar comparações de estatísticas com base em sistemas de pontuação muito diferentes e número de GP por época de certeza que não dá bons resultados. Mas se considerarmos que na altura de Senna, se excluirmos os anos 90, tivemos regularmente 3 ou 4 equipas favoritas ao título e 6, 7 e 8 construtores de motores, além de ter sido talvez a última era em que tivemos 4 pilotos geniais à partida de cada corrida com carros ao melhor nível, então Massa tem razão, já que… Ler mais »
Intacto que está o respeito pelo cronista, peço-lhe todavia um pouco mais de cuidado nos artigos de opinião para que depois não lhe apontem dados factuais (as vitórias de 1970) e contradições. Como se pode concluir com “o respeito devido e sem tentativas de comparação” quando duas linhas acima afirma sobre a actualidade que “os pilotos estão muito melhor preparados(…)”?? Ou não é uma comparação?…
Chato chato, era velo sempre a levar coça, dos colegas de equipa! Valeu-lhe o filho do Jean Todt! Muitos parabéns, Todt júnior!
Mais chata que a F1 têm sido desde 2009 (excepto 2010 e 2012) não foi de certeza.
Bastava estar um piloto com capacete amarelo a correr nas pistas que havia logo razões para ver a corrida. Tanto que depois de 1994 a F1 começou a afundar aos poucos.