F1: Um Grande Prémio de Itália ‘diferente’…
Senhoras e Senhores, foi Monza! Estavam à espera de mais do mesmo? Hamilton, Botas e Verstappen a liderarem a festa e o ‘resto’ a tentar acompanhar? Nada disso. Sejam muito bem-vindos ao que foi a melhor corrida da temporada de 2020 de F1 e deliciem-se com os pedacinhos que temos para contar. Um pódio inédito, o 109º piloto a vencer um GP e um ‘baralhador’ duplamente improvável são mais do que razões suficientes para renovar a paixão pelo desporto, pelo menos durante uma semana.
Lewis Hamilton
Muito provavelmente, todos os leitores devem estar a pensar que aquilo que temos para dizer sobre Lewis Hamilton é mais do mesmo. Luzes a apagar e mais uma vitória para o britânico. Mas não. Nada disso. Nem de perto, nem de longe. Porque, ao que parece, há dias em que Golias cai. E cai de uma forma estrondosa! Uma entrada na pit enquanto a pitlane tinha sido encerrada depois da retirada de Kevin Magnussen fez cair o martelo da penalização para Hamilton que teve de cumprir uma paragem stop & go de 10 segundos. Depois de tudo isso, e de ter caído para último, ainda conseguiu terminar na sétima posição e levar um ponto extra pela volta mais rápida. No fim de contas, Hamilton não ficou em primeiro e não houve uma única pessoa a verter uma lágrima. Se houver mais distoos “piquenos” agradecem.
Pierre Gasly
Brilhante! Esplêndido! Incrível! Magnifico, estrondoso e absolutamente maravilhoso! Pierre Gasly é, desde ontem, o 109º piloto a subir ao lugar mais alto do pódio da F1. Se nos arrepiamos com os gritos de Gasly quando conquistou o seu primeiro pódio no Brasil, em 2019, hoje foi déjà vu e os fãs da prova rainha do desporto motorizado ficaram especados a olhar para a televisão com um sorriso na cara durante uns bons minutos. A verdade é que foi um daqueles dias em que todos os astros se alinharam, tudo foi feito da forma certa e na altura certa e tudo o que podia correr bem, correu ainda melhor. Parece que é mesmo de momentos assim que a história da F1 é feita. E não, aguentar 25 voltas na liderança, depois de um fantástico recomeço da corrida, a defender-se de ataques constantes não é para todos. No fim, temos só que dizer bem alto: “Parabéns, Pierre! P1!!!”. Inacreditável!
Max Verstappen
Até sexta feira, o GP de Itália tinha tudo para ser brilhante para Max Verstappen. Depois das sessões de treinos do primeiro dia, as coisas passaram de brilhantes para muito menos do que isso. Feita a qualificação, antevia-se um dia que poderia mais parecer um pesadelo de Tim Burton. E assim foi, pelo menos para Verstappen. Perdido no meio do terreno numa batalha sem frutos com Valtteri Bottas, depois de ter caído duas posições nas voltas iniciais da corrida, o holandês foi incapaz de tirar o melhor possível de um carro que parecia instável e nervoso, sem conseguir também lucrar das paragens da corrida. Talvez farto de não ser competitivo o suficiente, o RB16 desistiu de ter vida e foi descansar para estar fresquinho já no próximo fim de semana. E assim se foi, por agora, o segundo lugar no campeonato mundial, no segundo DNF da temporada para Verstappen.
Valtteri Bottas
Ainda hoje Valtteri Bottas deve estar a pensar no que raio aconteceu em Monza e como é que um quinto lugar lhe pôde valer tanto. Mas valeu! Quanto mais não seja para roubar o segundo lugar a Max Verstappen e diminuir marginalmente a distância para Lewis Hamilton. E se Monza nos mostrou alguma coisa, é que basta um Kevin Magnussen para baralhar por completo as contas de um campeonato e fazer com que vantagens pontuais se fechem num abrir e fechar de olhos. Ainda assim, Bottas não esteve contente durante toda a corrida, principalmente devido a problemas que sentia no monolugar nº77, recebendo constantemente uma mensagem em resposta, assegurando que tudo estava bem. Talvez estivesse e esteja, mas Bottas, cada vez mais, não o sente.
Carlos Sainz
Parece-nos que o segundo lugar lhe soube a pouco, e com razão. Ver uma vitória tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, deve ser difícil de aceitar, principalmente quando pensamos na monumental corrida que Carlos Sainz tirou da cartola. Ainda assim, conseguiu o seu melhor resultado de sempre e fez a sua segunda visita ao pódio da F1. Os anos que se aproximam não inspiram confiança para Sainz conquistar vitórias, principalmente porque será piloto da Ferrari, que já excluiu a possibilidade de vencer corridas até 2022. Pensando assim, percebemos o ar desolado de Carlos Sainz depois de ter perdido uma das poucas oportunidades de levar uma corrida vencida nos próximos tempos. Daqui para a frente, só lhe podemos desejar o melhor.
Lance Stroll
Pareceu mais feliz pela vitória de Pierre Gasly do que pelo segundo pódio da sua carreira, repetindo o seu melhor resultado no GP do Azerbaijão, em 2017. Pelo menos, desta vez, ficará finalmente esclarecido que não é o dinheiro do pai que lhe conduz o monolugar, e principalmente, não é o dinheiro do pai que o tem feito escalar a tabela do campeonato mundial. Foi mesmo Stroll que partiu da oitava posição e levou o bronze para casa.Agora no quarto lugar, sete acima do seu colega de equipa, Stroll está a ter uma temporada de sonho, quando comparada com o desastre do ano passado. É apenas mais uma prova de que os pilotos de F1 não são apenas melhores, mas sim, consistentemente melhores.
Kevin Magnussen
Antes da corrida, se alguém dissesse que Kevin Magnussen seria decisivo no templo da velocidade, muito provavelmente ninguém iria acreditar. A verdade é que não só foi decisivo quando se despistou na sessão de qualificação, que prejudicou Daniil Kvyat e forçou a AlphaTauri a usar estratégias diferentes para os seus pilotos, como foi fulcral na corrida ao ser o agente passivo que causou a penalização de Lewis Hamilton. Seria difícil imaginar um GP de Itália com o mesmo fim sem a participação de Kevin Magnussen, mas um grande, grande obrigado ao “baralhador” improvável de Monza.
Ferrari
Felizmente (por muito que custe usar esta palavra nesta situação), a tifosi não estava lá para ver. Mais um GP e mais um desastre para a Scuderia que agora marca presença na metade inferior da tabela classificativa, a 10 pontos abaixo da equipa rival mais próxima. E até podíamos, mais uma vez, apontar os erros e continuar a tentar perceber o que se passa com a equipa de Maranello, mas para quê? Já se percebeu que algo está errado e que não será de fácil resolução. Se fosse, provavelmente já estaria resolvido e não veríamos Sebastian Vettel a perder os travões e lutar a cada curva com um SF1000 desequilibrado e Charles Leclerc a perder todo o seu monolugar e a fazer uma visita nada amigável à barreira de pneus da curva Parabolica. Agora já chega de bater no ceguinho. É aceitar e seguir em frente.
AlphaTauri
Não era a equipa da casa que os fãs italianos esperavam ver levar o GP de Itália de vencido. Não era a equipa que alguém esperava que conquistasse o GP de Itália, ponto! Mas foi, e foi tão, mas tão bonito. Foi bonito ver a felicidade e a emoção de quem está normalmente confinado ao meio do terreno. Foi bonito ver as celebrações e a forma como uma vitória faz com que anos de trabalho a fio sem os melhores resultados façam valer a pena. E, daqui a uns belos anos, vai ser bonito recordar como a AlphaTauri derrubou todas as probabilidades e se tornou num vencedor improvável. A verdade é que há mais pessoas que foram ao espaço do que vencedores na F1. A partir do GP de Itália, a AlphaTauri faz parte do lote restrito de equipas que levaram um piloto à vitória. É bonito.
RedBull
Zero pontos. Bola. Rien. Zilch. Nicles. Nada! Um piloto sem motor para terminar a corrida e outro sem motor para lutar pela corrida. Tendo em conta que Albon passou o tempo depois do período de paragem da corrida a tentar apanhar George Russell, percebemos facilmente que o GP de Itália foi um daqueles que servirá apenas para tirar notas, aprender com os erros e fingir que não aconteceu. Em condições normais, uma prestação destas poderia dar para perder lugares no campeonato de construtores, mas não. Afinal é da temporada de 2020 que estamos a falar, e ainda são 60 pontos que separam a RedBull da McLaren, no terceiro lugar. Se calhar estão a tentar chegar-se mais perto dos rivais para terem algum entusiasmo, mas não abusem. Mais duas corridas destas e lá se vai o segundo lugar.