F1, Toto Wolff na primeira pessoa: “O Hamilton está em ‘attack mode’…”

Por a 21 Fevereiro 2022 17:26

É notório que a derrota do ano passado, e a forma como foi infligida, ainda dói a Toto Wolff, mas o chefe de equipa da Mercedes quer atirar o caso de Abu Dhabi para trás das costas, agora que se sente confortável com as decisões da FIA.

O austríaco considera que Lewis Hamilton será este ano ainda mais forte e garante que nem por um momento receou que o seu piloto batesse com a porta e deixasse a Fórmula 1.

Qual a sua opinião acerca da saída de Michael Masi e a estrutura mais robusta que a FIA criou para a Direcção de Corrida. Está satisfeito?

Toto Wolff: Acredito que foram dados os passos certos, estou optimista quanto às mudanças que foram implementadas. É certo que o papel de Director de Corrida não é fácil e, agora, ao termos duas pessoas muito experientes no lugar é bom, mas a estrutura de apoio que foi contruída à volta da posição é essencial, não apenas na sala do Director de Corrida, mas também na sala de controlo remoto. O Director de Corrida pode fiar-se em informação e dados para tornar o processo de decisão mais fácil. Acredito que nos últimos anos vimos um pouco de interpretação dos regulamentos de “estilo livre”. Portanto, sim, estou satisfeito com o que foi implementado pelo novo presidente (n.d.r.: da FIA, Mohammed bin Sulayem).

Houve rumores que apontavam que a Mercedes desistiu do seu apelo mediante a condição de que Michael Masi não poderia continuar. Na sua opinião ele tinha de sair? E considera que a corrida foi “arranjada”?

Toto Wolff: Quanto ao deixarmos cair o apelo relacionado com alguém da FIA sair, não é verdade. Não se de onde isso veio.

Quanto à restruturação da forma como as decisões eram tomadas na Fórmula 1, as decisões desportivas, e também as técnicas, era necessária. O ano passado foi uma grande temporada, mas criou muita polarização com as decisões que nem sempre foram fáceis de entender.

Nada é “arranjado”, penso que foi, qual a palavra certa, foram apenas as circunstâncias e decisões que não tinham precedentes e como vieram nos chegaram foi um choque. Perto do final (n.d.r.: da corrida de Abu Dhabi) recebemos uma mensagem que apontava que os carros dobrados não poderiam recuperar a volta e, três minutos depois, quatro minutos depois, surgiram subitamente duas mensagens inesperadas. Obviamente, que sabemos o que aconteceu nos bastidores, que nos era desconhecido, e o campeonato perdeu-se durante meio minuto de processo de decisão. Não havia precedentes.

Mas temos que avançar, está no passado, com as medidas que foram anunciadas pelo Mohammed (bin Sulayem), temos de colocar isso de parte, não vamos esquecer, porque isso não é possível, mas temos de olhar para 2022 e o lançamento do novo carro deve ser o momento em podemos verdadeiramente embarcar com encorajamento na nova temporada, sobretudo com os passos dados pela FIA.

Durante o Inverno houve inúmeros rumores que apontavam para que o Lewis Hamilton pudesse abandonar a Fórmula 1, mediante a decisão da FIA. Isso foi uma preocupação para a Mercedes e chegaram a pensar num piloto para o substituir?

Toto Wolff: Nunca estive preocupado com a possibilidade de ele abandonar. Dentro da equipa sabíamos que ele precisava de espaço para reflectir sobre o assunto, particularmente para perceber como poderia regressar no melhor estado de espírito, portanto, do nosso lado não estávamos preocupados com a possibilidade de ele não regressar.

Depois do que se passou em Abu Dhabi, como está o Lewis Hamilton? Ainda mais motivado e determinado em lutar e vencer?

Toto Wolff: Penso que o que ele fez foi absolutamente correcto, afastar-se do microcosmo da Fórmula 1 e ficar à margem, entrar num “blackout” nas redes sociais. Ele voltou com um grande estado de espírito, positivo, determinado e, uma vez mais, a adversidade que lhe foi atirada tornou-o mais forte. Como ele disse, está em “attack mode”.

O ano passado o Lewis Hamilton, quando no Brasil foi colocado contra a parede, reagiu em pista de uma forma forte e intensa. Considera que pode acontecer o mesmo depois do sucedido em Abu Dhabi, voltar ainda mais forte?

Toto Wolff: Certamente que a desclassificação no Brasil criou a situação para ele em que a determinação para responder em pista foi enorme. Não olhou para trás e, desde então, o Lewis destruiu a competição em todas a corridas, também no domingo de Abu Dhabi.

Penso que a adversidade sempre o tornou mais rápido, mais resiliente e determinado e esta é a atitude que sinto nele neste momento e também o sentimento que vejo na equipa.

A Mercedes teve uma política nos últimos anos de ter um primeiro piloto e outro para ajudar o líder. Com esta nova dupla de pilotos vai continuar com esta política?

Toto Wolff: Nunca tivemos uma situação de primeiro e segundo piloto, sempre tiveram as mesmas oportunidades e o mesmo carro para cada um deles. Este ano temos a situação interessante de termos o George (Russell), uma estrela em ascensão, e, sem dúvida, o melhor piloto de Fórmula 1 de sempre no outro carro. A dinâmica é nova e, evidentemente, vamos direccioná-los de modo a termos o efeito mais positivo possível no desenvolvimento do carro e torná-lo competitivo.

O tecto orçamentar foi reduzido este ano em cinco milhões de euros e, por outro lado, a Mercedes foi a equipa que menos tempo de túnel de vento e de CFD teve, devido aos seus resultados. Que impacto tiveram estes factos no projecto de 2022?

Toto Wolff: Tem sido muito difícil estruturar a companhia e a organização da forma correcta para cumprir o tecto orçamental de cento e quarenta milhões de euros. Para além disso, num ambiente de alta inflacção não estamos a reduzir o orçamento em apenas cinco milhões, ma temos uma situação em que não podemos aumentar os custos com pessoal, isso é muito duro. Por outro lado, temos de decidir muito cuidadosamente onde investimos os dólares na Pesquisa & Desenvolvimento. No passado era um pouco mais fácil, dado que poderíamos seguir diversos caminhos à procura performance. Hoje temos de decidir qual o que demonstra maior potencial e assumi-lo, portanto, é uma forma muito distinta de operar para as grandes equipas.

Com as limitações criadas pelo Tecto orçamental, caso não acertem no conceito do carro, têm capacidade financeira para recuperar ou toda a temporada ficará comprometida?

Toto Wolff: O conceito técnico, quando embarcamos num é difícil sair dele, e depois temos a pressão do tecto orçamental, que torna muito difícil alterar o carro fundamentalmente, dado que tudo está planeado, todas as evoluções estão planeadas e relacionadas com os custos. Portanto, estamos muito mais limitados na nossa capacidade de implementar processos criativos no carro.

Com a intensa luta pelos campeonatos de 2021, foi complicado conceber este carro? Surgiram entraves durante a sua concepção?

Toto Wolff: Não houve contrariedades de monta. Penso que no início de 2021 tínhamos um plano preciso, bem mapeado, provavelmente esta é melhor palavra, até quando continuaríamos o desenvolvimento do W12, fosse como fosse que o campeonato se desenvolvesse. Seguimos esse plano e essa linha de tempo e tudo correu bem até ao momento. Colocámos o carro em funcionamento pela primeira vez em Dezembro, foi o mais cedo que alguma vez o fizemos, mas tudo isso não é garantia de sucesso. Temos de continuar a trabalhar e verificar se se comporta como esperamos nos testes de Barcelona e do Bahrein, onde teremos mais representatividade. Portanto, estamos confiantes de momento, mas nada é garantido.

Quem considera ser o maior adversário e o que acha da Ferrari, que apresentou um carro radical e teve mais tempo de desenvolvimento aerodinâmico, por ter ficado no sexto lugar do Campeonato de Construtores de 2020?

Toto Wolff: A faculdade de termos mais tempo de desenvolvimento aerodinâmico é algo que temos de ter em mente. A vantagem de terminar em sexto em vez de em primeiro cifra-se num par de décimos de segundos e é claro que temos de os recuperar, mas fazemos parte deste regulamento e penso que é positivo criar competição e veremos onde todos estarão. Pessoalmente, não coloco de parte qualquer equipa. todos poderão estar na parte de cima da classificação no início da temporada. Vimos isso em 2009 com o difusor duplo. Se uma equipa tiver inovado e tiver descoberto uma oportunidade que pode mudar o jogo, pode estar à frente no início.

Considera que o novo regulamento vai ajudar a haver mais lutas em pista?

Toto Wolff: Não tenho a mais pequena ideia. O conceito aerodinâmico do carro é fundamentalmente diferente daquilo que conhecemos e apenas quando estivermos em competição teremos uma ideia se será mais fácil ou não. Penso que, qualquer previsão de que será mais fácil, será uma previsão arrojada.

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