F1, Sérgio Pérez: “Tenho de aproveitar esta oportunidade”
Sergio Pérez tem tido uma carreira na Fórmula 1 marcada por altos e baixos, mas quis o destino que se abrisse um oportunidade de ouro, numa altura em que sair da F1 era um caminho que tinha fortes probabilidades de suceder. Contratado pela Red Bull, tem um oportunidade única na sua carreira. Vamos ver o que faz com ela…
Sergio Perez, ‘Checo’ para os amigos! O piloto mexicano estreou-se na Fórmula 1 em 2011 com a Sauber, depois da Telmex, operadora de telecomunicações mexicana entrar no capital da equipa suíça, e se preparar para ser também o seu principal patrocinador. Tudo devido a Carlos Slim, milionário que chegou a ser considerado o homem mais rico do mundo. Fez a sua estreia na F1 pela Sauber, mas depressa lhe viram qualidades suficientes para rumar à McLaren. Um erro. Era cedo demais. Um década depois, chega à atual segunda melhor equipa do plante da F1 e tem finalmente em muito tempo – espera-se – carro para lutar pelos pódios e vitórias.
A carreira de Sergio Pérez começou no karting em 1996. Sempre com o apoio de de Carlos Slim e da Telmex, foi correr na Skip Barber, nos EUA, mudando-se para a Europa no ano seguinte, para correr na Fórmula BMW, onde esteve dois anos. Em 2009 foi para a GP2, terminando a sua primeira temporada em 12º. Mudou de equipa, da Arden para a Addax e em 2010 foi vice-campeão atrás de Pastor Maldonado. A Sauber contratou-o, correu ao lado de Kamui Kobayashi em 2011, tornando-se no primeiro piloto mexicano a correr na F1 em 30 anos.
Teria alcançado um ponto na sua estreia na F1 após terminar em sétimo lugar em Melbourne, mas os dois Sauber foram desclassificados por uma infração técnica. Poucas corridas depois, em Espanha, obteve os seus primeiros pontos. Um acidente no Mónaco travou-lhe a evolução, mas fez o suficiente em 2012 para que a McLaren o chamasse para substituir Lewis Hamilton.
Tinha brilhado várias vezes em 2012, mas depressa se percebeu que foi muito prematura a sua ida para a McLaren. O McLaren MP4-28 não ajudou, é verdade, mas quando Pérez saiu da equipa, duas corridas antes do final da temporada, nem ele nem Jenson Button tinham terminado uma corrida acima do quinto lugar. Foi para a Force India em 2014. Não brilhou, mas manteve-se na equipa em 2015. E foi o que fez de melhor, já que ofereceu um pódio à equipa, na Rússia. Já aí se notava que a sua pilotagem ‘poupadora de pneus’ era fulcral nos seus resultados.
Em 2016, mais e melhor com dois pódios em três corridas, no Mónaco e no Azerbaijão. Nesta altura a Force Índia já tinha suplantado a Williams como principal equipa de clientes da Mercedes, tendo dois excelentes anos com o quarto lugar no Mundial de Construtores, fazendo valer ao máximo cada dólar investido, mas os dois anos seguintes seriam bastante turbulentos para Sergio Pérez, ao lado de Esteban Ocon. A rivalidade fez tremer a equipa, ambos tiveram vários acidentes, e em 2018 começaram os problemas financeiros da Force India. E foi Pérez que a salvou, ironicamente, depois de ativar uma cláusula de patrocínio que empurrou a equipa para a insolvência, o que permitiu uma bem mais fácil compra por parte de Lawrence Stroll.
A equipa tornou-se Racing Point, havendo dinheiro houve também estabilidade, a equipa em 2019 marcou passo porque o carro não era muito bom, mas isso mudou em 2020, com o Mercedes ‘cor-de-rosa’.
O resto é história recente. Quando já sabia que ia sair da equipa, que contratou Sebastian Vettel para 2021, Sergio Pérez ganhou no Bahrein, oferecendo à Racing Point um extraordinário triunfo, o primeiro na sua história, isto no fim de um ano que começou com grande polémica devido ao ‘Copygate’ do Mercedes W10. Perez dobrou os pontos alcançados por Lance Stroll, terminando em quarto lugar no campeonato de pilotos, mas isso não lhe valeu de nada pois apesar de estar sob contrato com a equipa por mais dois anos, perdeu o lugar para Vettel. Nada que não fosse esperado, pois o dono da equipa é também pai de um dos pilotos.
Mas o destino é por vezes ‘sorridente’ e com a má prestação de Alex Albon na Red bull, os homens de Milton Keynes foram buscá-lo para dar armas à Red Bull para lutar mais e melhor com a Mercedes. Agora, as suas perspetivas são as melhores do que nunca e o erro que foi ir para a McLaren em 2012, pode apagá-lo agora, nove anos depois. O tempo o dirá. O mexicano de Guadalajara sente que esta é a oportunidade da sua carreira e mostra-se extremamente motivado, apesar de ter ao seu lado Max Verstappen, desejando oferecer títulos à Honda na temporada de saída do gigante japonês…
O que sentiste quando recebeste a chamada a confirmar que ficaras com o lugar?
Sérgio Pérez: “Senti-me fantástico. Esperei toda a minha carreira por uma oportunidade com uma equipa de topo. Finalmente chegou e penso que foi no momento certo para mim. Estou ansioso por garantir que tudo funcione com os engenheiros e com o Max para fazer evoluir a equipa. É um grande desafio e mal posso esperar por chegar à pista com a equipa.”
Quais são as tuas impressões iniciais da equipa e da fábrica?
“É fantástico fazer parte da família da Red Bull. Quando aqui chegamos compreendemos imediatamente o porquê de ser bem-sucedida. A quantidade de infraestruturas que tem, desenvolvimento e pessoas. A organização é tremendamente elevada. Obviamente, estive sete anos com uma equipa, portanto, sente-se um pouco a diferença. É como um cão encontrar uma nova família. Posso perceber que teremos muita diversão pela frente. Trabalhar com o Adrian (Newey) é um sonho tornado realidade. A quantidade de engenheiros e o nível de engenharia no seio desta equipa é impressionante.”
O que sentes poder trazer à equipa?
“Penso que posso trazer experiência, conhecimento. Estive em equipas diferentes, em eras distintas e penso que sei o que preciso do meu lado, mas sinto que posso ajudar a equipa a progredir em certas áreas, apenas conversando com ela. Penso que sabemos qual a direcção. Existem já algumas boas ideias que temos vindo a partilhar que esperamos possam significar performance em pista.”
Acreditas que a tua primeira vitória, no ano passado, foi determinante para conseguires o lugar?
“Penso que, decididamente, teve alguma influência. Estou nesta categoria há dez anos e as pessoas sabem do que sou capaz. É, evidentemente, um novo desafio, uma nova oportunidade, portanto, é um momento em que posso provar a mim mesmo que sou capaz de dar o passo em frente. Tenho material competitivo nas mãos, portanto, tenho de garantir que o aproveito. No ano passado, tinha um carro melhor e pude mostrar mais resultados.”
Como te sentirás quando andares pela grelha de partida pela primeira vez com as cores da Red Bull?
“Ainda não acredito que aqui estou, para ser honesto. Quando envergo a marca da Red Bull, sinto ‘Wow’. É algo que nunca verdadeiramente considerei ser uma opção, dado não fazer parte do programa da Red Bull quando era novo. É um sonho tornado real. É fantástico.”
O que pensas de fazer equipa com o Max (Verstappen) esta temporada?
“É um grande desafio para mim. Todos conhecemos o Max – o quão talentoso, rápido, cresceu nos últimos anos e completo ele é agora. Definitivamente, é um dos melhores e um dos mais rápidos, se não for o mais rápido da grelha de partida. É um desafio massivo. Está aqui há muito tempo, sabe do que precisa do carro e estou ansioso por trabalhar com ele e ajudar a equipa a progredir.”
O que antecipas com maior interesse em 2021?
“Perceber o quão competitivos podemos ser. Temos de nos aproximar da Mercedes e, de preferência, batê-los com ambos os carros regularmente. Dar-lhes um grande desafio e promover um bom espetáculo. Ouvi da parte dos engenheiros que têm estado a trabalhar arduamente ao longo do Inverno.”
Como estás a abordar este desafio?
“Existem tantas coisas que tenho de aprender e isso leva algum tempo. Fiz já dois dias no simulador. Tenho uma boa ideia de como é o carro da Red Bull. Este ano teremos muito poucos testes, mas é o mesmo para todos. Há muitos pilotos a mudarem de equipa, portanto, quem será interessante perceber quem será o mais rápido na sua nova equipa.”
2020 foi o pior e o melhor ano da tua carreira. Tornou-te mais forte e mais determinado?
“É verdade que tive um ano duro, ao ser o primeiro piloto a apanhar o vírus. Foi duro lidar com a situação. Foi também um momento crítico na minha carreira, dado que havia a questão do meu contrato. Acabei por perder o meu lugar na equipa, mas tudo se resolveu da melhor forma.”
Ofereceste ao México a sua primeira vitória em cinquenta anos e os adeptos começaram uma campanha para que te mantivesses na Fórmula 1. Como te sentes ao ter tanto apoio dos mexicanos?
“Foi muito, muito especial. Tinha conhecimento da campanha. Dei tudo à equipa e não estava à espera, mas tive todo o apoio dos meus adeptos, dos mexicanos foi certamente algo que me manteve motivado. Mal posso esperar por pilotar um Red Bull no Grande Prémio do México. Será tremendo e estou seguro de que muitos mexicanos adoram agora a Red Bull.”
Qual a tua opinião acerca da abertura da temporada ter sido adiada para o Bahrein?
“Penso que não é uma má solução, dado que pode fazer muito frio na Europa nesta altura. É uma boa referência para ganharmos ritmo, dado que faremos lá o teste e depois a corrida.”
Estás ansioso por trabalhar com a Honda?
“Estou muito ansioso por trabalhar com eles, com todos os engenheiros. Estou a par do esforço que estão a fazer para esta temporada final. Definitivamente, toda a família da Red Bull pretende deixá-los no topo e oferecer-lhes o campeonato. Vamos dar o máximo e trabalhar para ter uma grande temporada juntos.”
“… mas quando Pérez saiu da equipa, duas corridas antes do final da temporada…” Esta frase não corresponde à verdade, já que Pérez não só participou, como pontuou, nas duas últimas corridas. Possivelmente, o autor quereria dizer que o mexicano soube, a duas corridas do final da época, que não continuaria no ano seguinte, o que é bem diferente do que está escrito.