F1: Será que as mudanças de 2019 vão mesmo funcionar?

Por a 8 Maio 2018 13:00

O grande prémio da Austrália fez soar os alarmes para os responsáveis da FIA e da F1. A corrida teve poucas ultrapassagens e o efeito do “ar sujo” que sai do carro perseguido e que afecta o perseguidor voltou a notar-se.  Nada que seja novidade para quem segue a F1 regularmente. Ao contrário do que muitos apontam, a corrida foi interessante, as seguintes foram ainda mais mas achou-se por bem introduzir mudanças para 2019 para melhorar as ultrapassagens.

Conseguir que a maioria das equipas aprovassem esta medida já por si é um feito digno de registo, mas será que as mudanças nos regulamentos vão trazer os efeitos desejados? Primeiro é preciso entender que tipo de mudanças estão previstas.

A maior mudança está na asa dianteira do carro.  É a peça mais importante de todo o chassis a nível aerodinâmico A principal função da asa dianteira não é criar apoio aerodinâmico mas sim direccionar o ar para as zonas escolhidas pelos engenheiros, tendo em conta dois factores: primeiro, é preciso direccionar o ar para o fundo plano (responsável pela maior parte do downforce do carro) e para as as zonas do chassis especificas, como por exemplo, as entradas de ar e os flancos, que por sua vez vão encaminhar o ar para a asa traseira; segundo é preciso isolar o ar turbulento que as rodas dianteiras criam. As rodas dianteiras sempre foram uma dor de cabeça para os engenheiros que, idealmente, quereriam as rodas tapadas para evitar a turbulência criada. Assim, para evitar que este efeito tenha influência no ar que passa sobre e sob o carro, os engenheiros arranjaram uma forma de isolar essa turbulência.. isolando-a com o próprio ar. E para isso criam vórtices com o objectivo de direccionar o ar à volta dos pneus evitando ao máximo a criação de ar turbulento. As equipas tem levado esse aspecto ao extremo e agora vemos arranjos de uma complexidade tremenda, cujo objectivo e criar vórtices cada vez mais poderosos que direccionem o ar “limpo” para as zonas desejadas e isolem o “ar sujo” para maximizar o apoio aerodinâmico criado.

Tudo isto vai obviamente ter consequências para o carro perseguidor que terá pela frente o ar já “manipulado” pelo carro perseguido e por consequência terá menos apoio aerodinâmico, pois as características do ar que enfrenta são muito diferentes. A base das mudanças nos regulamentos para 2019 é  uma simplificação das asas e um aumento da largura da asa para assim os engenheiros poderem afastar o ar das rodas dianteiras, sem o uso de vórtices. Isto vai permitir que a quantidade de “ar sujo” diminua e os carros possam aproximarem-se mais sem uma perda tão significativa de apoio.

Os novos regulamentos vão também acabar com as pequenas asas e arranjos perto das entradas de ar dos travões e vai promover um aumento em profundidade da asa traseira. De forma resumida, a asa traseira vai ser aumentada, o que vai aumentar o apoio criado mas também o arrasto, para permitir que quando o DRS seja aberto a diferença ainda maior. Um carro com o DRS fechado terá um arrasto muito superior a um com o DRS aberto e a ultrapassagem será mais facilitada.

 

Estas mudanças foram propostas com base nos primeiros resultados de um estudo intensivo que está a ser feito para melhorar a F1 em 2021. Os responsáveis dizem que a ciência e os dados que apoiam estas medidas são sólidas e que os efeitos serão os esperados. Mas quem se lembrar da mudança regulamentar de 2017, vai recordar-se foi anunciado um aumento do “efeito solo” nos carro, o que iria diminuir o efeito das asas e assim permitir que os carros pudessem lutar mais perto. O que aconteceu foi o contrário e apenas a diminuição dos tempos por volta foram cumpridos.  Já não é a primeira vez que são introduzidas mudanças na F1, cujo o resultado irá resolver todos os problemas e que não surtiram o efeito desejado.

As mudanças na F1, especialmente na aerodinâmica, implicam sempre um investimento por parte das equipas e já sabemos que as equipas maiores têm mais recursos para conseguir encontrar soluções eficazes. Mais que isso, para conseguir um ponto de convergência, em que as performances se equiparam é preciso sempre algum tempo (o exemplo dos motores é o ideal para entender isso). Ora mudar as regras de 2 em 2 anos pode não ser o mais correcto. 2021 deve marcar o início de uma nova era em que as ultrapassagens voltem a ser facilitadas mas com base em dados concretos e bem estudados. As mudanças de 2019 podem ser algo precipitadas e dar vantagem às equipas que já estão na frente. Claro que podem surtir o efeito desejado e todos ficarmos felizes mas se isso não acontecer, terá valido a pena a mudança?

Por outro lado a F1 é evolução e a procura de soluções inovadoras e colocar novos desafios às equipas faz também parte do jogo desde há muitos anos. Estas mudanças poderão trazer novos motivos de interesse para quem olha para  a parte técnica com mais curiosidade.

Será que as mudanças vão mesmo funcionar? Não teria sido melhor manter as regras por dois anos, agora que temos lutas verdadeiramente interessantes e corridas que têm sido emocionantes de seguir. Não será arriscado mudar de novo as regras do jogo, apenas porque o número de ultrapassagens não é o desejado, embora a qualidade das corridas seja um facto? Há muitas dúvidas que se levantam com estas mudanças mas só em 2019 teremos respostas concretas.

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